Sexta, 31 de março de 2017
Da Agência Brasília
Unidades de Taguatinga, Ceilândia e Santa Maria já tocam a
iniciativa de forma experimental. Ideia é que o bichinho lembre o
ambiente uterino
O formato espiral dos oito tentáculos não é à toa. Eles foram
inspirados em um cordão umbilical. A ideia é que o polvo, feito com
linha de crochê 100% algodão e manta siliconada, lembre o útero materno.
O projeto de utilizar o material no tratamento de prematuros
internados na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal está em fase
experimental nos Hospitais Regionais de Taguatinga, Ceilândia e Santa
Maria.
No de Santa Maria o projeto está mais avançado.
Até agora, seis crianças, das 18 internadas, receberam o bichinho.
Quando têm alta, elas o levam para casa, com o intuito de que a mudança
de ambiente não cause estranhamento.
"Eles (os bebês) perderam o contato com o útero antes do tempo, e o objetivo é que o polvo os lembre esse ambiente" Ana Carolina Barros, fisioterapeuta da UTI neonatal do Hospital Regional de Santa Maria
Em Santa Maria, o projeto começou a ser tocado em fevereiro.
Funcionários leram sobre a iniciativa na internet e começaram a pesquisa
sobre o tema. Uma artesã, mãe de servidor do hospital, deu uma oficina
de crochê para os que queriam aprender a produzir o mimo.
Os polvos são confeccionados pela própria equipe do hospital. “Tem
gente de vários setores fazendo crochê”, conta a técnica de enfermagem
Dayse Macêdo, da UTI neonatal. Ela leva duas semanas na confecção de
cada peça, trabalho feito em casa.
Além do formato, outro detalhe importante é o tamanho. Por questão de
segurança, os tentáculos devem ter entre 20 e 22 centímetros — para que
não se enrolem no bebê —, e a cabeça precisa de sete fileiras do
crochê, cada uma com um número determinado de pontos.
A técnica já é desenvolvida, segundo a pesquisa da equipe, em outros
sete países, entre os quais Austrália, Holanda e Estados Unidos. O
primeiro relato que encontraram sobre a iniciativa foi na Dinamarca, em
2013.
Polvos auxiliam no ganho de peso dos bebês
Apesar de ainda não haver registro científico que ateste os
benefícios da dinâmica, há relatos positivos de equipes que começaram a
desenvolvê-la. O polvo acalma o bebê, com redução de sua frequência
cardíaca e respiratória, e ajuda no ganho de peso.
Antônia Elivanete de Oliveira, de 34 anos, percebeu a diferença. Ela
acompanha a filha, Luana, há 15 dias. Internada em um dos leitos da UTI
neonatal, a bebê nasceu com 35 semanas (o normal é entre 40 e 42), após a
mãe sofrer complicações no parto devido a uma infecção urinária.
“Ela não sossegava a mãozinha, ficava tentando tirar os
dispositivos”, lembra a manicure, que mora em Valparaíso. Com as mãos
quietinhas sobre os tentáculos do animal, Luana está bem mais calma e
dorme grande parte do dia.
Com as mãos quietinhas sobre os tentáculos do animal, Luana está bem mais calma e dorme grande parte do dia
A ideia agora é que cada funcionário que passou pela oficina, na
semana passada, ensine outras pessoas. “Queremos chegar ao ponto de
receber doações”, destaca Dayse. As mães de quem estiver internado na
seção também serão ensinadas.
Os polvos são esterilizados a uma temperatura que varia de 60 a 120
graus antes de terem contato com os bebês. Para a fase de testes, a
equipe escolheu crianças sem isolamento de contato ou que não estivessem
entubadas. No entanto, a expectativa é que todas recebam seu bichinho.
O próximo passo, de acordo com a gerente de enfermagem do hospital,
Cinthia Pelegrini, é que a mesma metodologia seja levada para a unidade
de cuidado intermediário neonatal, onde servidores já confeccionam a
novidade.
Outros hospitais adotaram a iniciativa
No Hospital Regional de Ceilândia, um grupo de artesãs, que também
soube da iniciativa por meio da internet, ofereceu-se para doar o polvo
já pronto aos bebês. A unidade só aguarda a entrega para começar a
colocar o bichinho junto aos prematuros.
Em Taguatinga, a equipe do próprio hospital regional cuida da
confecção. A supervisora de enfermagem da unidade, Kaísa Raiane dos
Santos, organiza uma oficina para que servidores que saibam fazer crochê
ensinem pais e interessados em contribuir com o projeto. A unidade tem
oito polvos prontos e 22 bebês internados.
Atualmente, são os funcionários que doam o material para o crochê. “A
doação, para nós, é muito importante porque cada bebê leva seu polvo
quando tem alta. Então, é muito importante que sempre tenhamos
exemplares prontos para o projeto não parar”, resume Kaísa.
Quem quiser contribuir com doação de linhas, agulhas ou mão de obra
pode ligar para (61) 3369-6920 (Hospital Regional de Santa Maria), (61)
3353-1027 (Hospital Regional de Taguatinga) ou (61) 3471-9000 (Hospital
Regional de Ceilândia). O material precisa ser o mesmo utilizado pelos
funcionários na confecção dos polvos.
Locais e recomendação para quem for doar linhas
O polvo é confeccionado com linha de crochê 100% algodão e enchimento de manta siliconada
Hospital Regional de Santa Maria: (61) 3369-6920
Hospital Regional de Taguatinga: (61) 3353-1027
Hospital Regional de Ceilândia: (61) 3471-9000