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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 28 de abril de 2017

30 anos do Tombamento de Brasília, a saga de José Aparecido


Sexta, 28 de abril de 2017
Foto: EBC

Por
Vicente Vecci*

Tão logo assumiu à presidência da República em  março de 1985, vindo da redemocratização do País, José Sarney teve que nomear urgentemente o novo governador do Distrito Federal. Tirou do bolso do colete o nome do mineiro José Aparecido de Oliveira, então  seu companheiro  na antiga UDN (União  Democrática Nacional) e parceiro da chamada bossa nova do partido. Aparecido fora subchefe da Casa Civil do ex-presidente Jânio Quadros e, com ascensão do regime militar, teve que procurar asilo no Chile e, segundo informações passadas, Sarney ajudou na sua fuga.  Com a anistia política, retornou ao Brasil e elegeu-se deputado Federal em 1982 pelo PMDB, na mesma chapa que elegeu Tancredo Neves governador de Minas.  Em Minas  foi o primeiro secretário da Cultura, precursora mais tarde do Ministério da Cultura   que foi também o primeiro ministro dessa pasta. Com a chegada da Nova República e a posse de seu amigo José Sarney, ocupou por pouco tempo esse ministério, sendo nomeado a seguir para o governo do Distrito Federal.


José Aparecido de Oliveira, ex-governador do DF


Ao ser empossado, em maio de 1985, formou sua equipe com alguns companheiros do exílio, como os jornalistas Guy de Almeida, que assumiu o gabinete  Civil e Oswaldo Peralva, na Comunicação Social.



Na preservação da Capital da República, colocou para trabalhar ao  lado de seu gabinete no Palácio  do Buriti o arquiteto Oscar Niemeyer, que revisava  projetos, corrigia alguns em andamentos e traçava novas plantas arquitetônicas.


A  partir daí, então, a administração pública do Distrito Federal recebeu nova roupagem, tirando a rotina das anteriores, então capitaneadas por governadores militares. A  começar na área de imprensa, onde abriram-se  mais acessos dos repórteres  nas coberturas dos fatos oficiais, descortinando aqueles que, muitas vezes, estavam encobertos ou omissos pelas autoridades locais. Fundou nessa área a Agência Brasília e criou a primeira secretaria do Meio Ambiente. O parque Urbano do Gama foi também criado na sua gestão, através de um decreto, mais tarde houve uma   lei Distrital. Por ser jornalista, José Aparecido tornou o Diário Oficial  de seu governo, um veículo também de informações, com matérias  ilustrativas. Antes a sua paginação trazia decretos, editais, leis e demais atos oficiais, ou  seja, todas as suas páginas carregadas de traços e letras. Era ele quem fechava diariamente as edições dessa publicação  oficial nas vésperas  do dia seguinte, autorizando  a impressão. Então  o veículo oficial do GDF  passou a ser  oficial/jornalístico.



Mas o fato mais relevante que Aparecido deixou para Brasília, foi torná-la Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO —Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura, ou melhor o Tombamento  Histórico. Vindo a ser um escudo jurídico constitucional e internacional para sua preservação  arquitetônica como   capital do País, onde são asseguradas às  originalidades de sua planta e arquitetura. Foi o meio mais eficiente para torná-la intocável e livre da especulação imobiliária desenfreada que mutilou inúmeras cidades brasileiras em relação às suas arquiteturas antes projetadas.


Aparecido governou o DF de 1985 a 1988 e voltou ao governo Federal sendo um dos fundadores da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa, tornando-se embaixador do Brasil  nessa organização.



Sobre a epopéia do Tombamento Histórico de Brasília, José Aparecido nos concedeu uma entrevista exclusiva em maio de 2000, quando  a cidade já tinha completado 40 anos.



Conseguimos localizá-lo na sua   chácara no Rio de Janeiro e depois em sua residência em Belo Horizonte e entrou em contato conosco. Foi na época, uma forma  que encontramos de homenageá-lo. Essa entrevista foi   também exclusiva na imprensa brasiliense, publicada no Jornal do Síndico, na edição 169/maio/2000. Entre outras palavras, aparecido disse:- “A idéia sobre o  Tombamento de Brasília nasceu quando eu ocupava a secretaria da Cultura no governo  de Minas Gerais na gestão de Tancredo Neves. E, numa visita de Afonso Arinos, ex-embaixador do Brasil no Vaticano, ele  nos disse  e rememorou que queria sentir menino   em nossa capital Belo Horizonte mas isso era impossível devido à deturpação do plano urbanístico original da metrópole mineira, projetada  à régua e compasso pelo arquiteto  cearense Aarão  Reis. E, ao longo  dos anos, a cidade perdera suas características. E se fossem mantidas por seus administradores, viria a constituir  num tombamento da UNESCO, num destacado documento da Bélle Époque”. Temendo  de que o mesmo poderia acontecer com Brasília e como bom mineiro que não perde o trem, ao assumir o GDF, colocou essa meta  prioritária. Acentuou que era preciso salvar os projetos de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Daí, Brasília passou a ser o primeiro monumento arquitetônico e urbanístico do século 20 a receber o Tombamento da UNESCO. Para conseguir  esta façanha histórica, Aparecido teve o melhor caminho à mobilização nacional e internacional, além,  é claro de apoio de José Sarney na presidência da República e do Itamaraty.



Várias ações diplomáticas foram necessárias e somadas às forças do representante do Brasil junto à UNESCO, Josué Montello, e também do secretário dessa organização, embaixador Frederico  Maior. Mas disse Aparecido que o ato decisivo coube ao senegalês M´bow, à época secretário-executivo e titular dessa instituição da ONU.



José Aparecido de Oliveira deixou sua marca na história  brasileira e do Distrito Federal. Interessou-se  pela sua região geoeconômica  que abrangia pelo projeto 90 municípios em Goiás e 13 no Noroeste Mineiro, localizados em volta do quadrilátero do DF. Seus encontros com prefeitos dessa microrregião  e visita a alguns municípios  foram  reportados  no Jornal da  Região-geoeconômica do DF, editado por nós  de 1981  a 1993.



O  Tombamento de Brasília  como Patrimônio Cultural da Humanidade  foi em dezembro de 1987, portanto, em 2017   completa 30 anos.  Aparecido faleceu em 2007

                                                        *Vicente Vecci edita há 33 anos  em Brasília-DF o Jornal do Síndico- www.jornaldosindicobsb.com.br
e-mail: sindico@jornaldosindicobsb.com.br