Sexta, 21 de abril de 2017
A pesquisa revela ainda que 90% da população gostaria
de substituí-lo em eleições diretas. Os resultados animam a oposição ao
governo.
Por Rodrigo Martins-CartaCapital/Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Blog do Sombra
A popularidade de Michel Temer não para de despencar. Apenas 5% da
população considera o desempenho do presidente ótimo ou bom, ante 14% em
outubro do ano passado, revelou uma pesquisa do instituto Vox Populi,
encomendada pela Central Única dos Trabalhadores e divulgada em primeira
mão por CartaCapital na semana passada.
Na edição que chega às bancas de todo o País nesta sexta-feira 21, a
revista apresenta com exclusividade outra dimensão da sondagem: para 78%
dos entrevistados, o Tribunal Superior Eleitoral deveria cassar o
mandato de Temer pelas supostas irregularidades cometidas pela chapa
Dilma-Temer em 2014. Não é tudo: nove em cada dez brasileiros desejam
que o novo presidente seja escolhido por eleições diretas, e não pelo
Parlamento, como previsto pela Constituição.
Os pesquisadores consultaram 2 mil eleitores com mais de 16 anos,
residentes em 118 municípios, de todos os estados e do Distrito Federal,
em áreas urbanas e rurais, entre 6 e 10 de abril. A margem de erro é de
2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Motivos para apoiar a destituição de Temer não faltam. O peemedebista
tem promovido um desmonte dos resquícios do Estado de Bem-Estar Social
no Brasil, com o congelamento dos gastos públicos por duas décadas e a
dilapidação dos direitos dos trabalhadores, um projeto político que
jamais passaria pelo crivo do voto popular.
[Clique na imagem para ampliá-la]
Gráfico - Pesquisa CUT/Vox Populi
A rejeição às reformas de Temer beira a unanimidade. O aumento da idade
da aposentadoria para 65 anos e do tempo de contribuição (mínimo de 25
anos), base da reforma da Previdência, é rejeitado por 93%, revela a
pesquisa CUT/Vox Populi. E e 80% reprova a Lei de Terceirização.
Além disso, o peemedebista figura como anfitrião, em seu escritório
político em São Paulo e no Palácio do Jaburu, de negociatas que somam
mais de 80 milhões de reais, segundo as delações de executivos da
Odebrecht. Blindado pelo cargo, que o protege de responder por atos
cometidos antes de sua posse, Temer possui nada menos que oito ministros
investigados pela Operação Lava Jato.
O desejo de antecipar as eleições presidenciais esbarra, porém, na má
vontade do Legislativo para entregar ao povo o seu destino. Boa parte
dos parlamentares, na verdade, parece mais preocupada em salvar a
própria pele, e não se descarta a possibilidade de uma autoanistia para
crimes eleitorais, como a prática do caixa 2. Apenas a nova lista de
inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato
no Supremo Tribunal Federal, atinge 24 senadores e 39 deputados
federais.
Animador do impeachment de Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves,
presidente nacional do PSDB, é recordista de investigações abertas, ao
lado de Romero Jucá, do PMDB, cada um deles alvo de cinco apurações. Os
presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira
(PMDB), também figuram nas planilhas de repasses ilegais da Odebrecht,
com os apelidos de “Botafogo” e “Índio”, respectivamente.
“Diretas Já” e greve geral
“A crise política só começará a ser debelada com novas eleições, e
somente uma intensa mobilização popular, com os movimentos sociais e a
população nas ruas, será capaz de antecipá-las”, afirma Vagner Freitas,
presidente da CUT, para quem não adianta esperar do Legislativo qualquer
solução. “Boa parte dos deputados e senadores que estão aí sabe que não
será capaz de se reeleger em 2018, até pelos impactos da Lava Jato.
Parecem negociar o fim de suas carreiras políticas.”
As centrais sindicais planejam, para o próximo dia 28, uma greve geral
contra as reformas trabalhista e previdenciária. Desde o início do ano, o
movimento sindical tem enfrentado dificuldade para garantir a adesão de
trabalhadores de setores estratégicos da economia em um cenário de
elevado desemprego. Agora Freitas se mostra confiante em uma
megamobilização, impulsionada pelo próprio governo.
“Cada vez que Temer se manifesta pelas reformas que retiram direitos
dos trabalhadores, ele aumenta as nossas chances de sucesso. A sociedade
civil é absolutamente contrária a essas propostas”, observa o
presidente da CUT, lembrando as contundentes manifestações de oposição
às reformas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNBB) e da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
“Se insistir nessa agenda, Temer só aumentará a sua impopularidade. Os
parlamentares que quiserem morrer abraçados com ele votarão com o
governo”, diz Freitas. Embora não abracem a bandeira pelas “Diretas Já”,
encampada pelos movimentos e centrais que integram as frentes Brasil
Popular e Povo Sem Medo, a Força Sindical e a UGT, cujas lideranças
chegaram a apoiar a “solução Temer”, decidiram participar da greve
geral.
Corrupção sistêmica e capilarizada
“As delações da Odebrecht demonstram que a corrupção no Brasil é
sistêmica e capilarizada, e não um produto ou privilégio de um único
partido ou governo, como alguns tentavam desenhar até poucos meses
atrás”, observa o cientista político Claudio Couto, professor da
Fundação Getulio Vargas.
Ex-presidente do braço de infraestrutura da empreiteira, Benedicto
Júnior, o “BJ”, entregou à força-tarefa da Lava Jato uma planilha com os
nomes de 182 políticos que teriam recebido doações ilegais de campanha,
via caixa 2, entre 2008 e 2014, em troca de contrapartidas esperadas
pela construtora. A lista atinge praticamente todos os partidos,
sobretudo os maiores, nas três esferas de poder: União, estados e
municípios.
Por essa razão, Couto não estranha o desejo popular de antecipar as
eleições, embora considere o prazo exíguo demais para levar o projeto a
cabo. “O problema é que as eleições de 2018 não estão muito distantes. A
pré-campanha deve começar daqui a um ano. Não temos um sistema
parlamentarista, habituado a dissolver o Congresso e organizar novas
eleições, como propôs Theresa May no Reino Unido”, observa o professor.
“Até pelo grau de desorganização que um escândalo dessa magnitude
provoca, talvez seja até melhor dar um tempo para a classe política se
reposicionar nesse cenário.”
Movimentos têm pressa
Os movimentos sociais relutam, porém, em aceitar passivamente a
manutenção de um governo que consideram ilegítimo. “Ninguém sabe como
será esse processo eleitoral de 2018, se ele de fato existirá e sob
quais circunstâncias. Além disso, em menos de um ano, essa turma
conseguiu promover um gigantesco retrocesso do ponto de vista dos
direitos sociais. Se tiver mais um ano e meio pela frente, é capaz de
Temer conseguir revogar a Lei Áurea”, diz Guilherme Boulos, coordenador
do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.
“Na verdade, muito além de antecipar eleições, inclusive para renovar o
Parlamento, precisamos colocar em pauta uma mudança profunda do sistema
político, radicalizar a democracia”, emenda Boulos. “É preciso garantir
o financiamento público e exclusivo de campanhas eleitorais para acabar
com essa captura do Estado pelo interesse privado, ampliar os
mecanismos de participação popular, fortalecer os plebiscitos, trazer o
povo para decidir sobre as questões fundamentais do País diretamente.”
Ainda que os movimentos sociais consigam mobilizar parcela
significativa da sociedade por novas eleições, não há garantia de
sucesso para o movimento das Diretas Já, observa Marcos Coimbra, diretor
do Vox Populi. “Em um cenário realista, não vejo essa vontade da
opinião pública ser traduzida pelo sistema político. A sociedade
brasileira deseja a saída de Temer, mas a elite ainda acredita que ele
será capaz de tocar essa agenda impopular que atende tão bem aos seus
interesses”, diz Coimbra. “O que mais o ameaça neste momento são as
dificuldades enfrentadas no Parlamento. A única condição que o mantém no
poder é aprovar as reformas prometidas ao mercado. Sem isso, Temer é
descartável.”