Sábado, 15 de abril de 2017
Ivan Richard Esposito e Lucas Pordeus León - Repórteres da EBC
O ex-diretor do setor de operações estruturadas da
Odebrecht Hilberto Mascarenhas disse, em delação premiada, que a área
criada dentro da empreiteira para fazer o pagamento de propinas
movimentou mais de R$ 10,6 bilhões entre os anos de 2006 e 2014. Ao
Ministério Público Federal (MPF), Mascarenhas informou que os recursos
eram movimentados em contas offshores no exterior (em paraísos fiscais).
O
ex-executivo disse que alertou ao então presidente da empresa, Marcelo
Odebrecht, sobre os valores pagos em propina, que, segundo ele, estavam
muito altos.
“Estava
preocupado, muita gente participando das obras, e pressionei. Fui a
Marcelo [Odebrecht], várias vezes, e disse: não tem condição, US$ 730
milhões é bilhão [em reais]. Nem um mercado tem essa disponibilidade de
dinheiro por fora e não tem como operar isso. É suicídio”, afirmou.
Segundo ele, como resposta, Marcelo Odebrecht deu orientação de
“segurar”.
O ex-diretor do chamado setor de propinas disse que
cada executivo responsável por obras da Odebrecht podia solicitar o
recurso para fazer as obras andarem. Segundo ele, os gerentes das obras
recebiam bônus se atingissem as metas definidas para cada
empreendimento.
“Se você der aquele resultado você ganha tanto.
[Então] você quer que o mundo se acabe, [mas] você quer atingir aquela
meta e colocar no seu bolso, o seu milhão [no bolso]. Se fazia qualquer
coisa que tinha que fazer e atingir”, afirmou.
Segundo
Mascarenhas, a prática foi banalizada. “Tem que tratar esse assunto como
um extra, uma necessidade. Não como prazer de comprar alguém. Já estava
virando um prazer de comprar [as pessoas] e isso me incomodava”, disse,
ao contar que os valores pagos pelo setor da propina caíram em 2014
depois que ele pressionou Marcelo Odebrecht.
O ex-diretor relatou
ainda, que para proteger a identidade de quem recebia a propina, o
responsável por determinada obra da empreiteira dava um apelido para o
beneficiário do dinheiro.