Sábado, 15 de abril de 2017
Do Esquerda Diário
Thais Oyola - bancária e delegada sindical da Caixa
A conciliação de interesses
inconciliáveis, esta era a tarefa confiada por Emílio Odebrecht à Lula para a
greve no Pólo Petroquímico de Camaçari nos anos 70. A delação de Odebrecht só
deflagra uma lição que os trabalhadores acabam aprendendo na carne: quando o
patrão confia no sindicalista, os trabalhadores devem desconfiar.
A delação de Emílio Odebrecht entra nos detalhes de como se estabeleceu a relação de confiança mútua entre este e Lula.
Iniciada ainda nos anos 70, a primeira prova de confiança desta
“amizade verdadeira” teria sido a atuação de Lula para conter os ânimos
dos funcionários em greve do Pólo Petroquímico de Camaçari. Sobre essa
greve em si, quase não existem registros acessíveis para além dos
relatos do próprio Odebrecht que, por sua vez, afirma que Lula teria
criado as condições para que ele tivesse uma relação diferenciada com os
sindicatos.
Anos depois, às vésperas da consolidação da primeira vitória de Lula
nas eleições, Emilio Odebrecht, que ao longo desses anos consolidou seu
poder sobre a produção petroquímica brasileira obteve a palavra de Lula
sobre a não “reestatização” da Petrobrás.
E mais, durante o governo Lula, Odebrecht garantiu livre trânsito de
seus interesses sobre a produção nacional de petróleo por cima da
Petrobrás, quando Lula impediu esta de comprar os ativos da Petroquímica
Ipiranga, deixando livre o caminho para que a Odebrecht o fizesse.
Relação diferenciada com os sindicatos: livre trânsito dos interesses patronais, freios aos interesses dos trabalhadores
Ao contrário do que muitos pensam, essa trajetória de Lula na
conciliação do que é inconciliável não começou com a sua “Carta ao Povo
Brasileiro” em 2002. Na verdade, sua campanha para vencer as eleições,
materialmente apoiada pela Odebrecht é só uma das expressões dessa
relação histórica de confiança com os empresários, que não representa
nada mais do que traição à confiança dos trabalhadores.
Por relação diferenciada com os sindicatos entenda-se: Lula, se
apoiando em sua legitimidade frente aos trabalhadores no importantíssimo
ascenso das greves metalúrgicas do ABC no final dos anos 70, desde aí
dava passos cada vez mais decididos rumo a uma atuação que tinha e segue
tendo como objetivo se cacifar frente à patronal com os freios que,
como direção sindical, podem impor à luta dos trabalhadores. E sobre
isso, a confiança de Odebrecht em Lula não deixa mentir.
No momento político que o país atravessa, aprofundado pelo golpe
institucional, já existem exemplos suficientes de que os trabalhadores
tampouco podem confiar na justiça. A mesma justiça que testa com a
Lava-Jato e as delações, as maneiras de reordenar as figuras que podem
nos atacar mais incisivamente. A mesma justiça que endossa ataques
históricos aos direitos dos trabalhadores como a terceirização, reforma
trabalhista e da previdência.
Num momento como este, a lição flagrante é que os trabalhadores do
país só podem confiar em sua própria força, e que força! Se dia 15 de
março foi um ensaio de como os métodos de luta dos trabalhadores podem
ganhar o apoio amplo da população, dia 28 precisa ser mais que isso. E
isso não acontece se não rompermos as amarras que as direções sindicais
de CUT, CTB, a golpista Força Sindical seguem impondo, porque elas sabem
que seus pequenos privilégios de dados pela confiança patronal vão ser
os primeiros a serem atropelados quando os trabalhadores efetivamente
entrarem em cena.