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Duas vereadoras paulistanas tiveram seus
números de telefone celular divulgados e estão sendo alvo de uma
campanha fascista de pressão, com insultos e mensagens em massa, por não
apoiarem as teses do tal "Escola sem Partido".
Pelo comportamento daqueles que as estão
insultando, pela tática de pressão covarde e anônima adotada, pela
covardia de quem divulgou seus números de telefones celulares, dá para
adivinhar o partido, não oficial, nem declarado, que está por trás dos
ataques: o do fascismo.
Enquanto isso, outro vereador paulistano
resolveu dar uma de Dória - a quem apoiou nas eleições - ou seria de
Jânio Quadros? - e decidiu invadir e fiscalizar pessoalmente escolas
públicas, para verificar o conteúdo das aulas e pressionar professores,
no contexto do mesmo "movimento", descaradamente partidário e ideológico
- o de impedir - fazendo exatamente o que condena- uma suposta
"politização" do ensino.
Tudo isso ocorre no mesmo momento em que o
MEC encaminha, ao Conselho Nacional de Educação, a proposta da nova
Base Nacional Comum Curricular, que contempla 10 diferentes
"competências" que devem ser buscadas na formação dos alunos, nenhuma
delas explicitamente voltada para sanar o maior déficit do sistema
educacional brasileiro: o da formação política e cidadã da nossa gente.
Não tendo a menor ideia do que está
escrito na Constituição, do equilíbrio institucional e democrático que
deveria reger o convívio em sociedade, tanto de cidadãos como de
segmentos sociais; do funcionamento de nosso sistema político; do papel
de cada um dos Três Poderes; dos limites e atribuições dos agentes do
Estado; do que é o Estado de Direito; dos direitos e deveres
individuais; as crianças brasileiras não podem se situar no contexto da
Nação, da sociedade e da República, nem aprender a votar com
consciência, porque não sabem sequer para que serve o Congresso, qual o
papel dos vereadores, prefeitos, deputados, senadores, e como funciona -
como se pode ver pelos mitos que cercam a utilização das urnas
eletrônicas - o sistema eleitoral vigente.
Caso já houvesse esse tipo de ensino, há
alguns anos, as bestas quadradas que estão por trás da campanha do
Escola sem Partido teriam aprendido na escola que a educação é um
direito democrático, que deveria possibilitar às escolas e professores -
ao contrário do que existe hoje, principalmente nas escolas
particulares, com a disseminação apenas do discurso único direitista -
estabelecer livremente a abordagem que pretendem dar à formação de seus
alunos e estimular o debate como método de desenvolvimento político do
cidadão.
Entre os equívocos dos setores populares e
nacionalistas, nos últimos 15 anos, está o fato de não terem
estabelecido, para a população, uma opção ao padrão político-educacional
imperante, aprovando a obrigatoridade do ensino da Constituição Federal
no ensino público, ou, no mínimo, estimulando a criação de dezenas,
centenas de cooperativas de ensino, em todo o país, que pudessem dar a
seus filhos a possibilidade de ter acesso a uma narrativa alternativa à
estabelecida pela midiotização imposta majoriariamente no Brasil pelos
grandes veículos de comunicação.
A Democracia estabelece-se pela
diversidade, e não apenas pela diversidade de gênero, de origem étnica e
cultural, de comportamento, mas, sobretudo, pela diversidade de
pensamento POLÍTICO.
Pelo direito que as pessoas devem ter de
ter acesso a diferentes informações e visões de mundo e de aprender, por
meio delas, a pensar, a analisar as diferentes abordagens que estão à
sua frente, e estabelecer com total liberdade, incluída a do debate, o
seu caminho na vida e a uma prática de cidadania plena.
Hoje, os filhos e netos daqueles que não
se alinham com o pensamento único dominante sabem o que estão passando
na maioria das escolas, e, principalmente nas particulares, em que o
"partido" e a "filosofia", determinante e majoritária, são o consumismo e
o preconceito, a busca superficial do dinheiro e do "sucesso" como
principal objetivo na vida - que deve incluir numerosas idas à Disney e a
Miami como ritual de passagem para a adolescência e a idade adulta - a
manipulação midiática, a vira-latice com relação aos estrangeiros, a
ignorância política, e a sua filha dileta, a "antipolítica", a
desinformação e o fascismo.
Em uma situação como essa, agora piorada
com a possibilidade de um professor ou de uma escola serem acusados de
comunismo, caso se afastem do que é imposto pelo "estado de direita" em
que vivemos cotidianamente, as escolas privadas - e as públicas,
patrulhadas por malucos, como está ocorrendo na cidade de São Paulo -
não ousam se arriscar a sair, nem por um milímetro, do figurino.
Nesse quadro, para além - salvo poucas e
honrosas exceções - do universo muitas vezes engessado e reprimido do
ensino público, a saída para preservar o bolso dos pais, um salário mais
alto para os professores, uma melhor formação para os alunos, bolsas
para crianças carentes e liberdade para todos, pode, para resolver pelo
menos em parte o problema, o associativissmo e o cooperativismo de
ensino.
Que tal pensar no assunto?