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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 5 de abril de 2017

OSs e coisas tais: Em Santos, pacientes e acompanhantes do PS Central denunciam UPA

Quarta, 5 de abril de 2017
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Chuva de queixas na unidade terceirizada

Do Site Ataque aos Cofres Públicos
Enquanto a UPA trata as pessoas com descaso, PS Central passou a funcionar de portas abertas. A unidade anexa à Santa Casa deveria receber pacientes de forma eventual, mas passou a fazer o trabalho pesado da UPA gerida pela Fundação do ABC, que ganha R$ 20 milhões ao ano.


Não é por acaso que o prefeito de Santos ficou com a pecha de Pinóquio nesta que é a maior greve da história dos servidores municipais. As mentiras que este governo conta para a população vão além da maquiagem nas contas públicas para forjar a tese de que não há como conceder reajuste à categoria.


As mentiras, contadas em época de eleição, hoje estão escancaradas nos serviços sucateados, especialmente nas escolas e nas unidades de saúde. O desmantelo sempre esteve lá. Mas durante a campanha o esforço era maior em tentar esconder dos eleitores.

Um assunto está ligado a outro. A insistência de Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) em mandar seus interlocutores dizerem que não há como repor a inflação no salários dos servidores está diretamente atrelada à necessidade de “guardar” dinheiro para as futuras terceirizações nas gestões de serviços. E, para isso, outra estratégia é sucatear o que funciona na administração direta.

A população já está entendendo que as terceirizações são uma falácia. E que elas acontecem juntamente porque há uma ação coordenada para desmantelar as unidades para entregá-las às organizações sociais (OSs).

A UPA Central, que foi inaugurada para substituir o PS Central e dar mais eficiência, agilidade e qualidade ao serviço, revela-se agora um grande ralo por onde escorre dinheiro público. Um engodo! A unidade custa R$ 20 milhões por ano aos cofres municipais e mais parece uma casa de passagem. Os pacientes demoram horas para serem atendidos. Quando finalmente passam pelo médico, as ações que vêm depois são superficiais e de baixa resolutividade.

Há muita reclamação de falta de medicamentos, despreparo dos profissionais de enfermagem, dificuldade na realização de exames e de alguns procedimentos médicos. O governo faz vistas grossas e usa o serviço do antigo Pronto Socorro Central para “cobrir” as carências da UPA. É outro exemplo das mentiras contadas à população no mandato anterior.

Para quem não lembra, na época em que a UPA foi inaugurada, em janeiro de 2016, o então secretário de Saúde, Marcos Calvo, disse que o local foi mantido para servir como uma enfermaria auxiliar, com alguns leitos de UTI. A Prefeitura alegava que o local daria suporte a alguns poucos casos específicos, que necessitassem aguardar por vagas de internação em hospitais.

Mais uma historinha! Na prática, o local que deveria receber pacientes de forma eventual, passou a fazer o trabalho pesado da UPA gerida pela Fundação do ABC, que ganha milhões. Por que então a terceirização?

Antes, o SAMU levava as pessoas resgatadas para a unidade da Vila Mathias. E só no caso de internação e demora para achar a vaga ocorriam as remoções para o antigo PS. Mas nos últimos meses, praticamente todos os dias é dada ordem para que o SAMU deixe de encaminhar doentes para UPA e vá direto para o PS.

“Na sexta passada, chegaram 15 pacientes que deveriam estar na UPA. Estamos, na prática, de portas abertas, fazendo o trabalho deles, só que sem estrutura para isso”, diz um profissional que pede para não ser identificado.

Ele relata a precariedade com que as equipes do serviço têm de lidar permanentemente. “Temos macas, mas não temos colchonetes. Além disso, o prédio é todo escuro, pois faltam lâmpadas nos corredores”.

Um dos elevadores está quebrado. Não há vigias e o risco de assalto devido à falta de segurança é grande.

O pai de Ivanilda de Santana precisou de atendimento de emergência e o SAMU o levou para a UPA. “Fiquei esperando a moça na recepção para fazer o encaminhamento, mas não foi feito. Estava demorando muito. Ele estava torto e com as mãos dormentes e aí mandaram o SAMU levar ele para o PS Central. Se fosse um caso mais grave, não sei o que seria. Aqui no PS Central foi imediato. Chegou e já mediram a pressão e foi para emergência direto”, contou.

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Apesar da prontidão, o local sofre com inadequações no prédio que a Prefeitura faz questão de ignorar e de esconder para a população. Na ida e na volta de exames, o pai de Ivanilda teve de ser transportado em uma maca por um acesso muito difícil. Parte do caminho era uma rampa sinuosa, muito íngreme e descoberta. Flagramos o paciente tendo que ser transportado na chuva.

Chuva de queixas na unidade terceirizada
Na UPA com aparência vistosa, o problema é a qualidade do atendimento. Pacientes e acompanhantes que passaram por lá antes de serem levados para o PS Central denunciam vários problemas.

Vanderlei Batista da Silva conta que no serviço da Vila Mathias não há preocupação com quem espera. Ele levou sua mãe com problemas renais e cardíacos e saiu insatisfeito.Demorou muito para ser atendida. Depois, ela fez um eletro e ficamos esperando o resultado. Um funcionário disse para ficarmos na fila, que iriam nos chamar. Eu fiquei umas duas horas e tive que ir embora. Minha irmã que chegou também ficou esperando muito e resolveu perguntar. Depois de insistir, descobriu que nos orientaram errado. Iam deixar esperando a noite toda”.

A paciente Natasha Cristina Duarte também teve péssima impressão da unidade terceirizada. Com uma suspeita de trombose, ela precisou de internação. “Na UPA a alimentação é muito ruim. Parece aqueles pratos congelados, só que sem gosto. As enfermeiras não têm o mínimo respeito e conversam a noite toda. A luz fica ligada a madrugada toda na cara dos doentes. O banheiro alaga. As pessoas entram e saem e eles nem ligam. Não há controle. Eu mesma ia para a rua e voltava. Um dia o remédio vem num horário, no outro dia vem em outro. Não dão a medicação se não cobrar”.

Ela ficou indignada com o caso de uma senhora de 98 anos que conseguiu uma transferência às 8 horas da manhã, mas só foi removida às 19h, porque estava esperando uma ambulância do SAMU. “Se eles são uma empresa terceirizada, não deveriam ter o serviço de remoção? Vou fazer uma carta relatando tudo para a Prefeitura e Fundação do ABC”, promete a munícipe.

Uma funcionária que pede para não ser identificada confirma que muitos pacientes se queixam da UPA. “Hoje mesmo estamos com uma paciente indignada, dizendo que lá a medicação a quem está no repouso só vem se insistir. Agem só quando a pessoa chega, depois a pessoa passa horas sem orientação”.

A profissional questiona que a unidade recebe milhões e não faz infusão de sangue. “Quando há essa necessidade, mandam para o PS. Semana passada, chegou um paciente aqui com hemorragia digestiva e eu ouvi o médico explicando que trouxeram para o PS porque na UPA não dão sangue. O PS faz tudo. Mil utilidades. Aos trancos e barrancos, sem estrutura, sem equipe, mas faz. E vão construir uma outra UPA para entregar para uma empresa administrar também. Isso é um absurdo”.

A paciente Josefa Cristina da Silva espera não precisar mais da UPA. Estive internada uma semana. Fiquei um dia inteiro com dor e sem remédio. Minha mãe teve que fazer um auê. A alimentação é uma porcaria. Teve um dia que nem lençol tinha para colocar na cama. Colocaram um papel. E pra me cobrir usei uma blusa de frio e uma toalha. Pensei que a UPA seria uma coisa melhor. Vendo aquele prédio por fora a gente acha. Mas o PS é muito melhor do que lá, mesmo sem a mesma estrutura”.