Quarta, 31 de maio de 2017
Da Tribuna da Internet
Charge do Oliveira (Arquivo Google)
Por Nildo Domingos Ouriques
O mundo não vai acabar. O mundo nunca acaba. Nem o Brasil. Os últimos
20 anos tornaram o país mais dependente e subdesenvolvido. O privilégio
de classe cresceu em termos de poder, renda e patrimônio (propriedade).
A república rentista goza de boa saúde e nada poderá ser feito contra
ela nos marcos da política atual. O debate público sobre a economia
política – que nunca foi exigente entre nós – empobreceu
vertiginosamente nas últimas décadas. O liberalismo de direita (tucanos a
cabeça) firmou fé no tripé (taxa de juros, inflação e cambio). O
liberalismo de esquerda (petistas na condução) incorporou a “herança
liberal” e agregou a caridade cristã (migalhas orçamentárias
apresentadas como programas sociais).
A crise atual revelou o colapso dos partidos da ordem (sistema
petucano). A Globo assumiu a condição de consciência possível de uma
burguesia rentística; no entanto, também o monopólio televisivo esta
subordinado à luta de classes e jamais funcionará como um “Deus ex
machina”.
DANE-SE TEMER – A recessão prolongada, o nível de
endividamento das empresas e a ação dos bankgsters Meireles e Goldfajn
ganharam força exercendo na prática a condução do governo. Dane-se
Temer! O fundamental são as reformas do capital, com ou sem mesóclise.
A contabilidade nacional indica a existência de 377 bilhões de
dólares nas reservas. Durante o governo Lula até mesmo algumas figuras
razoavelmente informadas indicavam o “nível inédito das reservas” como
comprovação da competência petista na administração da ordem burguesa.
Nas dezenas de debates e cursos que participei denunciei (inutilmente,
confesso) esta idiotice propalada como ciência certa apresentada como
prova irrefutável de que o país tinha rumo.
O momento mais irritante era ouvir da boca de sindicalista a
afirmação de que “com estas reservas o país está bem” e o fato revelava,
segundo a consciência ingênua, o quanto a política econômica do PT era
distinta do PSDB.
SWAPS CAMBIAIS – Pois bem, há poucos dias o Meireles
e o Goldfajn repetiram Dilma e venderam swaps cambiais, além de resgate
antecipado dos títulos públicos do Tesouro Nacional. Ainda assim o real
desvalorizou. A massa viu como a JBS ganhou seus milhões com a
especulação da moeda após a delação de seu principal burguês. No final
do ano veremos o resultado no balanço suculento dos bancos Afinal, a
crise não é mesmo oportunidade?
Bueno, esta carta – o ataque da burguesia contra a moeda – esta sob a
mesa. Poderá ser usada? Depende do ritmo das reformas do capital e do
instinto de sobrevivência de Temer. A experiência ensina que jogadas
arriscadas fazem parte do cardápio da burguesia, especialmente numa
república rentista.
ATAQUE ESPECULATIVO – Neste contexto, o ataque
especulativo das distintas frações do capital destinado a tomar os 377
bilhões de dólares para proteção privada em tempos de crise poderá ser
usada inclusive para forçar a aprovação das reformas do capital em
condições políticas aparentemente adversas. A luta agora é pelo Fora
Temer e contra as reformas do capital. Nada mais. O ataque especulativo
já esta sob a mesa e poderá, dependendo da situação política, ser usado
pelos capitalistas para impor a lógica das situações extremas.
Neste jogo de vida ou morte, a burguesia sustenta Temer, a eleição de
um governo pelo covil de ladrões (congresso nacional) e até mesmo
eleições diretas. O Brasil não vai acabar, obviamente. Ficará mais
dependente e seu povo mais pobre. Acabar nunca.