Quinta, 11 de maio de 2017
Felipe Pontes e Paulo Victor Chagas - Repórteres da Agência Brasil
O publicitário João Santana, responsável pela campanha à
reeleição do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, disse
ter ficado claro, em reuniões com o ex-ministro da Fazenda Antonio
Palocci, que Lula tinha conhecimento sobre o uso de recursos de caixa 2
na campanha.
O casal de publicitários João Santana e Mônica Moura
firmou acordo de delação premiada com a Justiça, cujo teor teve o
sigilo retirado hoje (11) pelo ministro Edson Fachin, relator da
Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com o
texto do anexo 2 da delação de Santana, em que é resumido o teor do
depoimento, Palocci foi o responsável por negociar os termos do contrato
da Pólis, empresa de marketing do casal.
“Nestes
encontros ficou claro que Lula sabia de todos os detalhes, de todos os
pagamentos por fora recebidos pela Pólis, porque Antonio Palocci, então
Ministro da Fazenda, sempre alegava que as decisões definitivas
dependiam da ‘palavra final do chefe’”, diz o texto.
Segundo a
delação, Santana disse que Palocci tinha pleno poder sobre uma conta de
caixa 2 do PT junto à empresa Odebrecht. Os pagamentos, no entanto, não
eram feitos em dia, motivo pelo qual o publicitário fazia cobranças
diretas a Lula. Tais cobranças diretas teriam sido feitas também a Dilma, durante a campanha presidencial de 2010.
“Nestas
oportunidades, tanto Lula como Dilma se comprometeram a resolver o
impasse e, de fato, os pagamentos voltavam a ocorrer. Tanto os
pagamentos oficiais, quanto os recebimentos de valores através de caixa
2”, diz o texto que introduz a delação de João Santana.
“João
Santana tem plenas condições de discorrer sobre as interlocuções
referente às cobranças realizadas diretamente e pessoalmente com Lula,
que aconteceram algumas vezes, em especial aquelas que trataram de
cobrança de atrasados”, acrescenta o texto.
Defesa
Em
nota, a defesa de Lula afirmou que as declarações nada provam,
inclusive por terem sido dadas no contexto de delações, nas quais o
Ministério Público Federal pressiona pessoas a confessarem crimes para
se livrar da prisão.
“Veículos de imprensa já denunciaram que a
força-tarefa da Lava Jato tem exigido referências a Lula como condição
para aceitar delações. O assunto foi oficialmente levado ao
Procurador-Geral da República para que seja investigado com isenção, mas
até o momento desconhecemos qualquer providência nesse sentido”, diz a
nota.
“A perseguição política por meios jurídicos (‘lawfare’) em
relação a Lula fica cada dia mais clara e está sendo vista pelo mundo",
acrescenta o texto.