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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 8 de maio de 2017

No DF: Vaga em creche exige que mãe tenha vida desgraçada

Segunda, 8 de maio de 2017
Do Blog do Sombra
Entre outros critérios de pontuação, a pessoa se lembra de ter ouvido da servidora o de ser mãe solteira, ter sido espancada pelo companheiro, estar em abrigo de acolhimento de mulheres vítimas de violência e ter sido vítima de abuso sexual, o mesmo valendo para a criança, além de ter carteira de trabalho assinada.
Por Miguel Lucena – Delegado da PCDF e jornalista/Foto: Agencia Brasília
Uma mãe se dirigiu a uma regional de ensino do Distrito Federal para tentar uma vaga em creche para seu filho de 4 anos e ficou assustada com as perguntas da funcionária.

A servidora tinha em mão uma lista de critérios de admissibilidade da criança na creche que era de fazer chorar o mais insensível dos seres, porque priorizava uma série de desgraças que, vividas, talvez até impossibilitasse a pessoa de procurar matrícula para o filho.

Entre outros critérios de pontuação, a pessoa se lembra de ter ouvido da servidora o de ser mãe solteira, ter sido espancada pelo companheiro, estar em abrigo de acolhimento de mulheres vítimas de violência e ter sido vítima de abuso sexual, o mesmo valendo para a criança, além de ter carteira de trabalho assinada.

A mãe sentiu-se buscando uma vaga em um sistema de desgraçados, no qual se prioriza o anjo decaído, num ajuntamento de humilhados e ofendidos.

Não precisava ser assim. Bastava definir o critério de renda para atender as pessoas que batalham muito e sofrem no dia a dia, sem a necessidade de se desfiar um rosário de misérias em troca de uma vaga na rede pública de ensino.

Faz um bom tempo que a ideologia da vitimização, que faz a alegria de muitas Ongs interesseiras, espalhou-se pelas instituições públicas e privadas, na base do quanto pior, melhor. Portanto, não basta ser pobre, tem de ser lascado, ofendido e humilhado, com a situação registrada e carimbada, para conseguir uma vaga na escola pública.

Por Miguel Lucena – Delegado da PCDF e jornalista