Quarta, 31 de maio de 2017
Confira a trajetória de Rogério Rosso
Por Helena Mader, Renato Alves-CB.Poder
Blog do Sombra
Cria política de Joaquim Roriz, exerceu a função de governador-tampão
do Distrito Federal, teve importante papel no governo de José Roberto
Arruda, assumiu secretaria de Estado, dirigiu empresa privada, presidiu a
Codeplan, administrou Ceilândia, foi candidato a presidente da Câmara
dos Deputados. Até ontem, alimentava o sonho de comandar o Palácio do
Buriti. O plano pode ser desfeito pelas investigações da Lava-Jato.
Essa é a síntese da trajetória política de Rogério Rosso. Hoje deputado
federal pelo PSD-DF, ele ingressou na Câmara dos Deputados pelo PMDB,
em 2006. Quatro anos depois, foi eleito governador do Distrito Federal,
em 2010, em primeiro turno com 13 votos dos 24 parlamentares em eleição
indireta na Câmara Legislativa. Era a solução para a sangria da capital
da República, meio à tsunami da Operação Caixa de Pandora, que culminou
na prisão e no afastamento de Arruda e no fim do breve governo de Paulo
Octávio, o então vice-governador.
Ainda em 2010, o Tribunal de Justiça do DF acusou Rosso por extinção e
criação de cargos com aumento de remuneração sem autorização legal na
Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito
Federal (Adasa), à frente do GDF. A Justiça determinou ainda ele
ressarcisse os cofres públicos pelo prejuízo causado. Houve recurso no
primeiro grau, porém, a sentença foi mantida.
Então sem cargo, Rosso venceu as eleições indiretas com o discurso de
que seria uma alternativa política para evitar a intervenção federal,
cuja tese levantada pelo então procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, poderia ganhar força em caso de vitória de um deputado distrital
em um momento de suspeição na Câmara Legislativa. Rosso era o candidato
do PMDB como uma das raras opções não chamuscadas no partido com a
crise deflagrada por causa da Pandora.
Rogério Rosso virou candidato nas eleições indiretas como resposta a
Joaquim Roriz, que pediu votos para Wilson Lima (PR) e incomodou quem
desejava fazer oposição ao ex-governador na campanha de outubro de 2010.
O governador-tampão pertencia a um grupo que já havia sido aliado de
Roriz, mas se afastou e passou a ser visto pela base rorizista como um
adversário a combater, situação que tinha como principal expoente o
presidente do PMDB-DF, Tadeu Filippelli, seu aliado e idealizador de sua
candidatura.
Rosso surgiu por acaso na política, justamente pelas mãos de Roriz, com
quem hoje mantém relação distante. O ex-governador viu nele um político
promissor. A aproximação aconteceu em 2002 porque a mulher de Rosso,
Karina Curi Rosso, com quem tem quatro filhos, era a melhor amiga da
caçula de Roriz, Liliane. Na campanha de 2002, quando o então governador
do PMDB, concorria à reeleição e precisava de munição para superar as
denúncias de grilagem de terras, Rosso apareceu como um conselheiro na
área de estratégia de comunicação.
Até então, formado em direito pela Universidade de Brasília (UnB),
Rosso era diretor de uma empresa do ramo de automóveis e nunca tinha
pensado em largar a carreira corporativa para mergulhar na vida pública.
Foi na campanha de Roriz, no entanto, que se inclinou pela política.
Passou a trabalhar com a meta de se transformar em um futuro candidato
ao Palácio do Buriti.
Apoio de petistas
Nascido no Rio de Janeiro, Rosso veio para Brasília com 1 ano. De
família de classe média, viveu durante a infância na Asa Sul, estudou em
escola pública e privada, e começou a trabalhar aos 14 anos. Fazia
bicos no comércio local, para conseguir comprar as coisas. Depois de
formado, montou um escritório de advocacia, até descobrir interesse pelo
setor automotivo. Trabalhou na Caterpillar, indústria americana de
tratores, e depois foi para a Mercedez, antes de trabalhar na Fiat. No
governo Roriz, exerceu cargos que lhe deram projeção. Foi secretário de
Desenvolvimento Econômico e, já de olho na corrida ao eleitor, Roriz o
nomeou administrador regional da Ceilândia. Inventou o Ceilambódromo e
transferiu o Carnaval para a cidade mais populosa do DF.
Casado com a filha de um dos empresários mais ricos de Brasília,
Roberto Curi, dono da rede Curinga dos Pneus, Rosso alugou um pequeno
apartamento em Ceilândia e divulgou que morava por lá. Karina o
acompanhava em eventos públicos, visitava famílias pobres e distribuía
brinquedos e comida. Na passagem pela Ceilândia, Rosso se aproximou de
um morador da cidade, o ex-deputado distrital Chico Vigilante (PT), com
quem fez parcerias políticas na região que abriga o maior eleitorado do
DF. A vitória de Rosso só foi possível justamente pelo apoio de
petistas.
Projeto de poder
O projeto da família sempre foi ver Rosso governador. Em 2006, embalado
pelo incentivo de Roriz, ele se candidatou a uma vaga de deputado
federal. Na prestação de contas à Justiça Eleitoral, o sogro é
registrado como seu grande financiador. Rosso declarou ter arrecadado R$
1,4 milhão, dos quais R$ 1,2 milhão tiveram como origem as empresas de
Roberto Curi. Com 51 mil votos — 10 mil a menos que Laerte Bessa (PMDB)
—, ficou como primeiro suplente. Foi uma frustração para a família, que
apostou no projeto. Depois da campanha de 2006, já na fase de transição,
Rosso recebeu convite de Arruda, eleito no primeiro turno, para assumir
o cargo de presidente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). No
governo Arruda, Rogério Rosso foi o responsável pelas políticas para as
cidades do Entorno do DF e pelas parcerias público-privadas (PPPs).
Defendeu o projeto de construção do complexo que abrigaria o novo centro
administrativo do governo, em Taguatinga.
A expectativa de Rosso era se candidatar novamente a uma vaga de
deputado federal em outubro de 2010 e tentar concorrer em 2014 ao GDF,
projeto antecipado pelas circunstâncias provocadas pela Caixa de
Pandora. No governo Roriz, seu plano mais controverso foi a construção
do trem de alta velocidade que ligaria Brasília a Goiânia, um
empreendimento concebido para desenvolver o Entorno do DF. A ideia foi
abraçada por Roriz que, em 2005, chegou a visitar várias fábricas de
trens na Europa, ao lado de Rosso, para tentar viabilizar o projeto na
capital do país. Não deu certo, mas a peregrinação de Roriz pela
Espanha, França e Alemanha acabou desviando na época a imagem do
Executivo dos processos que Roriz respondia na Justiça Eleitoral por
suposto uso da máquina — que depois acabaram sendo julgados
improcedentes.
Rock pesado
No cargo de governador por oito meses em um um momento de tamanha
turbulência política, Rogério Rosso teve tempo para a diversão e
relaxamento na chácara que mantém em Cidade Ocidental, município do
Entorno onde ajudou a eleger um vereador. Também se dedicou à música.
Com nome artístico R. Schumann (sobrenome do meio), Rosso é baixista e
tem preferência por rock pesado, influenciado por bandas como
Whitesnake.
Antes de pensar em ser governador no mandato-tampão, ele se dedicava ao
projeto de produção de um vídeo em homenagem ao aniversário de
Brasília, com música heavy de sua autoria tocada por artistas da cidade.
Ele também é tecladista e toca guitarra, mantém um estúdio na chácara
que gosta de frequentar com os filhos. Montou a primeira banda de rock
aos 16 anos.
Impeachment de Dilma
Influente na política local, Rogério Rosso é o nome forte do seu
partido no DF. Presidente da executiva distrital do PSD, partido do
vice-governador Renato Santana, é o mais cotado para disputar cargos
majoritário. A sigla tem um deputado distrital eleito, o também
investigado Cristiano Araújo.
Rosso voltou aos holofotes no ano passado. Como deputado federal, foi
escolhido para presidir a comissão especial que analisou e aceitou o
pedido de impeachment da então presidente da República, Dilma Rousseff
(PT). Com a notoriedade nacional, no mesmo ano, ele decidiu concorrer à
Presidência da Câmara dos Deputados. Chegou ao segundo turno. Acabou
derrotado por Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Agora, Rosso se preocupa apenas em se defender das acusações de corrupção em obras iniciadas em seu governo-tampão.
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