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(Millôr Fernandes)

sábado, 27 de maio de 2017

“Sucateamento do SUS coloca em risco a expansão da Medicina de Família e Comunidade”, avalia médico de família

Sábado, 27 de maio de 2017
Do Saúde Popular

Artigo publicado no Saúde Popular em 19/05/2017

Neste 19 de maio  celebra-se o Dia Mundial do Médico de Família e Comunidade; para médicos desmonte do SUS pode afetar a especialidade
por Juliana Gonçalves, especial para o Saúde Popular

A partir dos conceitos da Atenção Primária à Saúde, a Medicina de Família e Comunidade está presente em quase todo o Brasil. Atualmente cerca de 100 milhões de brasileiros são assistidos pela Estratégia Saúde da Família (ESF), sendo 32 mil equipes atuando em 99% dos municípios brasileiros, segundo dados da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).

Para Luciano Nader de Araújo, médico de família e de comunidade  e médico assistente da Atenção Primária da Universidade de São Paulo (USP), a especialidade, que já é pouco difundida no Brasil, pode sofrer com o desmonte na área da saúde pública. “O sucateamento do SUS coloca em risco a expansão da Medicina de Família”, afirma. Araújo considera que os profissionais de saúde podem se sentir desestimulados em seu campo de trabalho preferencial que é o SUS.
Nathalia Cardoso, médica de família e comunidade pela Faculdade de Medicina da USP e médica do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, também vê o momento com preocupação. “Com o desmonte do SUS em curso, é natural que os médicos se afastem dessa proposta de cuidado, tanto pelas questões de remuneração quando pelo o próprio sucateamento das unidade de saúde que acabam por não cederem estrutura digna para o trabalho e atendimento médico”, pontua.
Neste cenário, reforça a médica, os médicos podem acabar se voltando para os consultórios particulares ou para a rede privada dos convênios. Segundo a SBMFC, há apenas 1.500 médicos atuando nessa especialização hoje no Brasil.
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  Médicos de família da FMUSP/ Arquivo Pessoal
Araújo e Cardoso, apontam que a carência desses profissionais já é expressiva. Embora a última, que é também é preceptora da residência em Medicina da Família e Comunidade (MFC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) considera que esteja ocorrendo uma busca maior por esse tipo de residência. “A disputa por essas vagas, pelo menos aqui em São Paulo, tem sido cada vez mais acirrada ao longo dos anos”, opina.

Vínculo

Com a capacidade de solucionar 90% dos problemas de saúde do indivíduo, que pode ser acompanhado desde o pré-natal até a velhice, a partir dos conceitos da Atenção Primária à Saúde, a Medicina de Família e Comunidade cria vínculos, segundo Cardoso. “Olhamos para a ciência, para as doenças, mas o foco é a pessoa que tem a doença, não o contrário”, conta.
Araújo lembra que a MFC brasileira segue a tendência mundial de desenvolvimento de uma medicina voltada à atenção integral do ser humano e na criação de vínculos.

SUS

Para Daniel Knupp, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), muito mais que atuar próximo aos pacientes, o MFC auxilia a evitar o acúmulo de pacientes nas filas de pronto atendimento, pois é capaz de resolver a maior parte dos problemas que levam as pessoas a procurarem as unidades de pronto atendimento nas visitas aos seus lares. Além disso, realiza diagnósticos precoces e os protege de intervenções excessivas ou desnecessárias.
“É justamente a possibilidade de já acompanhar o paciente que faz com que o MFC seja mais eficiente e preciso para atendê-lo em uma situação de urgência. O MFC já conhece os medicamentos que aquela pessoa usa, já compreende seu contexto familiar, suas relações com o trabalho, sua forma de reagir diante de uma doença aguda e é capaz de integrar todas essas informações, fazendo com que a pessoa receba exatamente o que precisa, sem riscos ou excessos, em uma situação de urgência”, ressalta Knupp.