Vicente Vecci*
Diante da hecatombe da crise
política e institucional que nosso país passa atualmente, oriunda da corrupção
desenfreada nos últimos governos da União, tendo como vítimas nossas estatais e
o banco de fomento BNDES e por consequência o povo brasileiro,
envolvendo membros do Legislativo em conluio com ex-titulares de órgãos
do Executivo e até mesmo membros do Judiciário, numa ponte para
aliança espúria com segmentos da iniciativa privada, vale rememorar personalidades
políticas brasileiras do século XX.
Na era Vargas por exemplo, onde fora
criada à Petrobrás e outras estatais importantes ao nosso desenvolvimento econômico, despontaram entre outros líderes
políticos que primaram pela ética e transparência, o engenheiro Leonel de Moura
Brizola, conhecido como baluarte da educação, iniciada quando fora
prefeito de Porto Alegre na década de 1950 passando pelo governo do Rio Grande
do Sul, culminando no governo do Estado do Rio de Janeiro com os eficientes
CIEPS, Centros Integrado de Educação Pública, implantados com assinatura do
antropólogo, educador e criador da Universidade de Brasília ex-senador Darcy
Ribeiro com arquitetura de Oscar Niemayer.
Regressando do exílio com a anistia
política no final do governo militar de Ernesto Geisel e no início da
gestão do ex-presidente João Baptista Figueireido, tendo em
vista às eleições de 1982, Leonel Brizola iniciou antes desse
pleito que tratava das eleições para os governos
estaduais, contatos na coordenação política do governo Federal, sob
tutela do Ministério da Justiça, onde se destacaram o ex-senador Petrônio
Portela e depois o ex-deputado Federal por Minas Gerais Ibrahim
Abi-Ackel.
Na audiência de Leonel Brizola com o
ex-ministro da Justiça Ibrahim Abi- Ackel, estivemos presentes para registrar o
fato e entrevistá-lo exclusivamente para a TV Guaíba de
Porto Alegre-RS, conveniada com a nossa empresa jornalística OBN, numa pauta
tendo em vista à sucessão estadual no Rio Grande do Sul nessas primeiras
eleições com a volta da redemocratização do país. Imaginava-se que Brizola
seria candidato a ocupar o palácio Piratini, sede do governo gaúcho. E, após
nosso câmera registrar imagens de apoio dessa audiência e toda a imprensa
presente deixá-los a sós no gabinete daquela pasta ministerial, conversamos
como ex-deputado Federal Alceu Colares, posteriormente eleito governador desse
estado que acompanhava Brizola e ele nos disse que o companheiro
mencionara-lhe durante o voo até Brasília que tinha como meta
candidatar-se ao governo do Estado do Rio de Janeiro. Nos disse ainda Alceu
Colares que essa declaração de Brizola o surpreendeu e que achou uma
missão impossível, rememorando que a única base eleitoral de
Brizola no Rio de Janeiro era ter sido eleito deputado Federal pelo
extinto estado da Guanabara, hoje cidade do Rio de Janeiro, no início da década
de 1960 e, no seu ponto de vista poderia ser uma aventura.
Após esse encontro político,
entrevistamos Brizola e ele afirmou que faria articulações políticas para
recuperar a sigla do Partido Trabalhista Brasileiro-PTB, berço da era
Vargas e se não o conseguisse, fundaria um novo partido dentro dos princípios
do trabalhismo, e essa nova sigla partidária teria candidatos aos governos
estaduais com seu apoio, principalmente no seu estado natal. Daí
então fundou o PDT-Partido Democrático Trabalhista em detrimento ao
PTB que fora lhe usurpado por Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio
Vargas, numa manobra maquiavélica do general Golbery do Couto e
Silva, então titular da Casa Civil do Palácio do Planalto, um dos
idealizadores do golpe militar de 1964. Foi numa forma de atrapalhar
Leonel Brizola nas suas metas políticas de tendências
socialistas. Mas não deu certo. Brizola candidatou-se ao governo do Estado do
Rio de Janeiro e a contragosto de seus opositores e de um poderoso dono de uma emissora
de TV, fundada durante o auge do regime militar, fora eleito numa eleição que tentaram
lhe fraudar. Só não aconteceu por uma questão de ética de
um profissional de pesquisa eleitoral nesse pleito, contratado
exclusivamente e internamente por esse empresário das comunicações, e que
percebeu na apuração, os votos de Brizola praticamente não
apareciam ao contrário de sua pesquisa que dava Brizola
como eleito. Indignado esse pesquisador levou sua
informação até a esse candidato e sugeriu-lhe botar a boca no
trombone, reafirmando que iriam lhe roubar a sua eleição. Nesse ínterim os
seus eleitores revoltados, começaram a apedrejar os veículos de
transportes dessa emissora que estava facciosa para outras
candidaturas e seus votos não apareciam na apuração.
Brizola imediatamente convocou uma
entrevista coletiva com a imprensa estrangeira e denunciou a
fraude de que estava sendo vítima. Daí então seus votos emergiram como
deviam. Foi o escândalo eleitoral da empresa Proconsult, contratada para
apuração dos votos nessa eleição de 1982 no Rio de Janeiro. E, para
acalmar os ânimos dos eleitores de Brizola, convidaram-no a participar ao
vivo do programa dessa emissora sobre esse pleito, intitulado
na época de Show das Eleições.
Já no governo desse estado, Leonel
Brizola com excelente equipe livrou primeiramente o erário de um
gasto excepcional anualmente que era armar o circo para o famoso
espetáculo do carnaval do Rio de Janeiro. Construiu o
Sambódromo que fora no período carnavalesco era o CIEPS, conjugando escola,
alimentação e lazer para crianças de famílias de baixa renda. E concedeu exclusividade
na transmissão nacional desse evento à TV Manchete e rede de suas
afiliadas.
Governou esse estado por duas
administrações e deixou importantes obras. Tentou eleger-se presidente da
República, mas foi tolhido por candidatos de partidos corporativistas e
distantes de seu nacionalismo e da sua ética.
Historicamente sua memória é respeitada
pela resistência a regime ditatoriais e opressores, a começar pela firmeza de garantir
democraticamente numa rede de emissoras de rádios à posse de João
Goulart na Presidência da República quando na renúncia de Jânio Quadros em
25 de agosto de 1961, denominada Rede da Legalidade. Jango era
vice-presidente da República e na data da renúncia de Jânio, encontrava-se
na China. Uma corrente de militares das forças armadas não queria sua
posse. Esse movimento popular implementado por Brizola, garantiu-lhe assumir à
chefia do país.
Nascido num distrito de Carazinho-RS,
filho de camponeses, Brizola estudou e formou-se em engenharia civil por conta
própria tendo trabalhado como engraxate e Office-boy para custear seus
estudos. Daí sua prioridade na educação quando ocupou cargos
governamentais.
Posteriormente a essa primeira
entrevista exclusiva que fizemos com Brizola, o encontramos diversas
vezes aqui em Brasília, principalmente em manifestações populares
na Esplanada dos Ministérios.
Deixou inúmeras estruturas de serviços
públicos também no Rio Grande do Sul quando governou esse estado onde foi
pioneiro na estatização de multinacionais que atuavam nesse
setor, a começar pela companhia norte-americana de telecomunicações ITT.
Participou ativamente da campanha para
as eleições diretas, junto com a safra de governadores eleitos em 1982, entre
eles Tancredo Neves, Miguel Arraes e Íris Rezende. No dia 21 de junho próximo
completa 13 anos de seu falecimento. O partido o qual fundou, pelo que
tudo indica, desvirtuou de seus princípios elementares.
*Vicente
Vecci edita há 33 anos em Brasília, DF, o Jornal do
Síndico:
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