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15 de junho
Uma mulher conta
Vários generais argentinos foram levados a julgamento por causa das façanhas que cometeram nos tempo da ditadura militar.
Silvina
Parodi, uma estudante acusada de atividades subversivas por viver
protestando e criando caso, foi uma das muitas desaparecidas para
sempre.
Cecília, sua melhor amiga, prestou depoimento diante do
tribunal, no ano de 2008. Contou os suplícios que havia sofrido no
quartel, e disse que tinha sido ela quem entregou o nome de Silvina,
quando não conseguiu mais aguentar as torturas de cada dia e de cada
noite:
- Fui eu. Eu levei os verdugos até a casa onde Silvina estava.
Eu vi quando ela saiu, aos empurrões, às coronhadas, aos pontapés. Eu
escutei ela gritar.
Na saída do tribunal, alguém se aproximou e perguntou a Cecília, em voz baixa:
- E depois disso tudo, como é que você faz para continuar vivendo?
E ela respondeu, em voz mais baixa ainda:
- E quem é que disse que eu estou viva?
Eduardo Galeano, no livro 'Os filhos dos dias'. 2ª ed., pág. 195, L&PM Editores.