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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 13 de julho de 2017

“A polícia matou Ricardo na frente de todo mundo”

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Por jornalistaslivres.org


Por Flávia Martinelli, Gustavo Aranda, Lina Marinelli e Martha Raquel, dos Jornalistas Livres.

SÃO PAULO, 12 de julho de 2017.
Em frente às câmeras, a Polícia Militar executou um carroceiro morador de rua em pleno horário de rush, num dos bairros mais ricos de São Paulo.


Uma das mais letais policias do mundo (5 mil mortos nos últimos 10 anos) a PM paulista mais uma vez matou de maneira covarde, brutal e sem nenhuma justificativa.
Era fim do dia, hora de trabalhador que acorda as 5 da manhã para recolher material reciclável começar a pensar em jantar. O carroceiro Ricardo Oliveira Santos, que há anos morava na rua, próximo ao Pão de Açúcar da Teodoro Sampaio em Pinheiros, deixou sua carroça estacionada perto de “casa” e foi até a “Pizza Prime” tentar comer algo. Em seu site, a pizzaria oferece “ingredientes selecionados para que cada mordida seja inesquecível” diz querer “estar presente nos encontros entre amigos, nas reuniões de família e em todos os momentos felizes”, e que acredita que “todos nós merecemos sempre o melhor da vida.” Mas a propaganda na prática é outra história. Um funcionário da Prime resolveu chamar a polícia para tirar o “incômodo” morador de rua dali. Pouco tempo depois, Ricardo estaria morto, assassinado a sangue frio. Ele levou pelo menos dois tiros, um no peito, e outro na cabeça quando já caído no chão. Algumas testemunhas afirmam que ele segurava um “pedaço de madeira” quando a PM chegou, mas todas com quem a reportagem conversou e que deram seu depoimento a Julio Neves, o Ouvidor das Policias,, afirmam categoricamente que o rapaz foi executado. Logo após o crime, a PM enviou helicóptero, diversas viaturas, carros e motos ao local, mas todo esse efetivo não foi para prender o matador ou tentar socorrer a vítima.

COMPLETANDO O “SERVIÇO SUJO”, ELES RECOLHERAM AS CÁPSULAS DAS BALAS, OBRIGARAM UMA TESTEMUNHA A APAGAR VÍDEO QUE MOSTRAVA COMO TUDO ACONTECEU, LEVARAM EMBORA O CORPO DE RICARDO, NUMA VIATURA DA RONDA ESCOLAR E ALTERARAM TODA A CENA, IMPOSSIBILITANDO QUALQUER TRABALHO DE PERÍCIA.
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De tão acostumados a usar esse expediente – mata, recolhe as cápsulas, recolhe o corpo e diz que agiu em legítima defesa – os policiais se esqueceram apenas de notar que estavam numa das ruas mais movimentadas da cidade e em pleno horário de pico. Todo mundo viu o que aconteceu. Resta saber se mesmo com tantas testemunhas, com as câmeras de segurança dos comércios, com os outros tantos vídeos gravados e que escaparam de ser apagados, a Poliícia Militar do Estado de São Paulo e o Governador Geraldo Alckmim, do PSDB, ainda vão insistir em acobertar e manter criminosos dentro da corporacão. Esses policiais mataram, intimidaram testemunhas, destruiram provas, adulteraram a cena do crime e só não esconderam o cadáver por que estavam em um bairro nobre da cidade. Ricardo Oliveira Santos trabalhava duro todo dia recolhendo lixo reciclável, era um homem pobre, não tinha nenhum tipo de proteção. Isso não pode ser uma sentença de morte.

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Segundo levantamento feito pela GloboNews – baseado em dados da Secretaria de Segurança – Policiais militares mataram mais de 5 mil pessoas em SP nos últimos 10 anos. Os dados mostram que de janeiro a março deste ano foram 160 mortes, número 132% maior que no mesmo período de 2007.
Testemunha teve sua unha arrancada ao policial tomar teu celular e o obrigar a apagar imagens do crime. (Foto: Jornalistas Livres)