Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Desmonte da saúde no DF

Quarta, 19 de julho de 2017
Do Setorial de Saúde do Psol/DF
A SES-DF anunciou a “interrupção temporária” da prestação de serviços da Maternidade do Hospital do Gama. Poderia ser um problema menor, apenas logístico, se os outros serviços de maternidade do DF estivessem funcionando adequadamente. Infelizmente, não é assim. O serviço mais próximo, em Santa Maria, não possui espaço físico, equipamentos e nem recursos humanos suficientes para o atendimento dos mais de 900 partos mensais que a Regional Sul alcança em alguns meses do ano. Para termos ideia do tamanho da maternidade, outra maternidade, do HRAN, faz menos de 250 partos mensais. A interrupção foi classificada como “temporária” porque ocorrerá apenas durante o tempo de uma reforma. Apesar da estrutura física realmente necessitar de reformas - são famosos na internet os vídeos das salas de cesárea com chuva sobre os equipamentos -, o fechamento se dá, na verdade, porque as escalas de plantonistas não fecham (mais nem) no HRG nem no HRSM. A nefasta política de recursos humanos conduzida pelo GDF com passividade e consentimento do secretário de saúde, que ceifou quase metade das especialidades nos Hospitais Regionais. Os serviços de pediatria fecham suas portas em mais da metade da rede, sob o olhar cúmplice do Ministério Público e do Conselho Distrital de Saúde. Serviços que já contaram com ambulatórios de especialidades pediátricas, como o HMIB, HRAN, HRS e o próprio HRG, que inclusive abrigava residência de pediatria, hoje se encontram com atendimento “restrito” na maior parte da semana, já que o pouco que podem oferecer já é excessivo para a carga horária dos funcionários sobreviventes, esgotados com a sobrecarga de trabalho e de gravidade dos casos. Como o recorte atinge várias especialidades médicas e todo o pessoal de enfermagem, no atendimento de pacientes adultos a situação também se repete, e com maior gravidade. Visto que a população idosa acaba não recebendo os cuidados especiais que necessita, agravando quadros crônicos e aumentando as mortes na eterna espera pelas vagas de UTI. Essas vagas nunca surgirão, já que foram permanentemente fechadas por insuficiência de recursos humanos. A denúncia do Sindicato dos Médicos sobre o excesso de mortalidade dos serviços de emergência foi ignorada pela SES. Mesmo podendo configurar delito, o Ministério Público nunca resolveu instaurar inquérito, apesar de conhecer as situações de cadáveres sendo “guardados” no chão dos necrotérios de alguns hospitais, devido à superlotação das gavetas refrigeradas em virtude do excesso de mortalidade. Situação que foi relatada em várias das dezenas de inspeções realizadas pela Defensoria, Sindicatos, Ministério Público, COREN, CRM e Conselhos locais de Saúde. Como qualquer usuário pode verificar, o atendimento de urgência se encontra numa situação de caos, agravado pela piora progressiva da infraestrutura, com a maioria dos tomógrafos quebrados, falta de ultrassonografistas, leitos insuficientes de UTI e com o SAMU sendo vítima de recortes que limitam, inclusive, o abastecimento de combustível. Este fechamento planejado para a Maternidade do Gama (há fechamentos inesperados quase todas as semanas) seguramente aumentará a peregrinação das gestantes, que deverão procurar outros serviços, todos já acima de suas capacidades. E isso não é inédito. Sem vagas no Hospital da Criança, que obviamente não supre os ambulatórios de especialidades que foram encerrados nos Hospitais Regionais, milhares de mães visitam diversos serviços de saúde com seus filhos no colo procurando atendimento especializado, que já não existe. Neste mesmo caminho, a SES inventou uma “classificação de risco” para radioterapia, em que mais de mil pessoas com câncer esperam até mais de um ano pelo seu tratamento, assim vários pacientes acabam morrendo na fila sem ter chegado a iniciá-lo. Vale lembrar que os protocolos internacionais condenam esperas superiores a oito semanas, indicando como tempo razoável uma espera de, no máximo, duas semanas para iniciar-se a radioterapia. Essas tantas mortes e outras mais, como a dos cidadãos que morrem na fila de UTI, também vem sendo consideradas quase um fenômeno inevitável da natureza, mesmo sabendo que mais de 80 leitos de UTI se encontram fechados nos hospitais da rede. É terrível e frustrante a destruição do sistema patrocinada pela atual gestão com cumplicidade das instituições que realizam o controle externo. Essa gestão está destruindo o patrimônio público e vidas humanas; estas últimas, irrecuperáveis. Saúde no Distrito Federal e Entorno - Setorial do PSOL