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(Millôr Fernandes)

domingo, 30 de julho de 2017

Oito anos depois, delator do DEM vive recluso

Domingo, 30 de julho de 2017
Oito anos depois, delator do DEM vive recluso
Vídeos gravados por Durval Barbosa levaram então governador do DF, José Roberto Arruda, para a cadeia
Por Dimitrius Dantas/O Globo Foto: Reprodução/Divulgação/Marcelo Ferreira/CB
e Blog do Sombra
Oito anos antes de Joesley Batista gravar o presidente da República e, com o apoio da Polícia Federal, filmar um dos principais assessores de Michel Temer, Durval Barbosa fez a mesma coisa com então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, deputados distritais e agentes públicos. Ao flagrar Arruda, em vídeo, Barbosa explodiu o escândalo do mensalão do DEM e forneceu o caminho para a Operação Caixa de Pandora, que prendeu o então governador do DF — foi a primeira prisão de um governador no exercício do mandato.


Ao contrário do dono da JBS, que hoje faz o circuito entre Pequim, Nova York, São Paulo e Brasília, Barbosa vive enclausurado em sua casa no Jardim Botânico, no Distrito Federal. Enquanto Joesley transita de jatinho para cima e para baixo, o ex-secretário de Relações Institucionais do governo Arruda já fez, de carro, o caminho entre sua casa e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal mais de 100 vezes desde que denunciou o esquema, em novembro de 2009.

Em comum com Joesley, uma única situação: os dois continuam soltos, mesmo depois de terem admitido participação em esquemas de corrupção.

Ele contrariou os interesses de metade de Brasília — diz a advogada de Durval, Margareth Maria de Almeida.

O ex-secretário acompanhou de longe os desdobramentos da operação similar àquela que se submeteu Joesley Batista, desta vez atingindo o presidente Michel Temer. Barbosa, que já respondia a diversos processos por corrupção quando fechou a colaboração premiada, costuma dizer que delatou para “lavar a alma”.

Pelo acordo de delação, Barbosa entregou tudo o que recebeu de forma ilícita, fruto da participação no esquema criminoso. Todos os valores e propriedades foram devolvidos ao Ministério Público Federal.

Quando resolveu delatar, Barbosa, um dos aliados do ex-governador Joaquim Roriz na gestão de Arruda, já era alvo de uma série de investigações de corrupção. O ex-secretário entregou os participantes de um esquema de compra de apoio político em Brasília — do outro lado da mesa de negociação estava a futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Foi ela quem assinou o termo preliminar da colaboração premiada.

Barbosa entregou o que sabia e, como Joesley, ainda topou participar de operações da PF com escutas em seu corpo para gravar os investigados. Em troca, o Ministério Público pediria seu perdão judicial nos processos em que era investigado por corrupção.

Ele escapou da maioria das ações, graças ao perdão judicial pedido pelo Ministério Público Federal como parte do acordo de colaboração, mas recebeu multas em dois processos: um na Justiça estadual e outro no Tribunal de Contas do DF, somando mais de R$ 10 milhões.

Essas multas, ele não tem como pagar, porque não tem patrimônio para isso. Tudo que ele tinha de ilícito, ele já devolveu no acordo, e as propriedades já foram para leilão. Esse dinheiro serve para o pagamento dessas multas — afirmou Margareth.

Mas o problema mais sério veio em 2010: uma acusação de pedofilia contra Durval e sua atual mulher, feita pela ex-mulher do delator. A Polícia Civil chegou a pedir a prisão preventiva do casal, em 2011, mas os dois foram absolvidos três anos depois.

Ano passado, Barbosa e a mulher, Kelly Cristina, entraram com uma ação pedindo ao Google que não disponibilize aos usuários resultados de pesquisa que associem o nome deles às palavras pedofilia, pedófilo e estupro, além de outros termos similares. O pedido foi julgado improcedente.

No período seguinte às revelações de Barbosa, Arruda conseguiu protelar as ações a que responde no Distrito Federal. A primeira condenação, pelo chamado “escândalo dos panetones", veio neste ano — o ex-governador teria apresentado notas frias para justificar o recebimento dos valores por Barbosa. Neste ano, os acusados repetiram a estratégia dos advogados de Temer e pediram a perícia dos equipamentos da Polícia Federal utilizados por Barbosa nas ações controladas.

Ano passado, durante a eleição para a presidência da Câmara, o nome de Barbosa voltou a surgir. O deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) indicou a existência de um vídeo em que Rogério Rosso (PSD-DF), que pleiteava o comando da Casa, apareceria recebendo dinheiro no esquema delatado por Barbosa. O delator, que não fala dos termos do acordo devido à confidencialidade, quebrou o silêncio e criticou Fraga nas redes sociais: “Ele mente descaradamente quando afirma uma versão dessa, enganando seus 155.000 eleitores”, escreveu.

No mesmo dia, na Câmara, Rosso também se defendeu e negou qualquer envolvimento no esquema. Há dois anos, emprega Zilfrank Antero de Araújo, casado com uma irmã da mulher de Barbosa. O servidor recebe um salário de R$ 5 mil.

Não faço filtro. Se a pessoa for honesta, não me interessa se é amiga ou tem alguma vinculação. Quero rechaçar esse submundo do baixo meretrício da política distrital que está agindo assim — explicou Rosso à época. (*Estagiário sob supervisão de Flávio Freire)