Quinta, 24 de agosto de 2017
Em 24 de
agosto de 1954, portanto há 63 anos, Getúlio Vargas deixou a vida para
entrar na História. Como o Brasil está nos novos tempos carente de
estadistas, vale a pena ler (ou reler) a histórica Carta Testamento.
Getúlio se matou para evitar o pior ao país que tanto amava e ao qual se
dedicou.
Carta Testamento de Getúlio Vargas
24 de agosto de 1954
Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim.
Não
me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito
de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que
eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e
principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de
decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros
internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o
trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de
renunciar. Voltei ao Governo nos braços do povo. A campanha subterrânea
dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados
contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários
foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo
se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na
potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa
esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi
obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente.
Assumi
o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de
trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançaram até 500% ao
ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes
constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do
café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu
preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a
ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho
lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão
constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo a
mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada
mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o
sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço
em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco.
Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado.
Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia
para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis
no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá
unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue
será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração
sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que
pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do
povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui
escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para
sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.
Lutei
contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho
lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu
ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada
receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio
da vida para entrar na história
Getúlio Vargas