Sexta, 4 de julho de 2017
Esse trabalhador que adoece vira um
estorvo para os patrões, porque diminui o ritmo da produção e acaba
servindo de exemplo para os outros, que ficam com medo
Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
Blog do Sombra
O Curso de Especialização em Saúde do Trabalhador do Centro de Estudos
da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP) recebeu, na
terça-feira, 25 de julho, a professora Terezinha Martins para uma aula
aberta sobre "Os ataques à saúde mental de quem trabalha: o assédio
moral". Doutora em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP), Terezinha é integrante do Departamento de Saúde
Coletiva da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Ao iniciar a aula, a professora lembrou que são constantes os convites para que fale sobre assédio moral.
- São dois sentimentos que me tomam nesse momento. O primeiro é a
alegria de se produzir conhecimento junto com os parceiros que me
convidam para falar; mas o outro é de tristeza, porque esse tema que eu
pesquiso é horrendo, é triste. Se recebo muitos convites, isso significa
que aumentou a necessidade de discussão a respeito desse tema, pois, na
realidade, aumentou sua ocorrência. Se a gente pensar nas reformas
trabalhistas, nos governos e seus substitutos, é horrível imaginar que
estamos produzindo teorias sobre uma realidade que está, obviamente,
piorando.
Em seguida, a professora fez uma breve explanação acerca da história
das relações de trabalho e seu papel no desenvolvimento das sociedades
humanas.
- O trabalho, historicamente, é esse lugar de transformação do animal
nesse ser social, humano. A pergunta que se faz é como chegamos nesse
ponto em que o trabalho mata, adoece, em que se tornou um grande
sofrimento, para os que têm e para os que não têm.
Segundo Terezinha Martins, o aumento dos casos de assédio e outras
doenças relativas ao trabalho têm na chamada reestruturação produtiva do
capitalismo sua causa, uma vez que, ao longo das últimas décadas, vem
se intensificando a exploração dos trabalhadores.
- Os trabalhadores, principalmente aqueles mais vulneráveis, as
mulheres, os negros, mas também um homem louro de olhos azuis que acabou
de ter um filho, acabam se submetendo a situações em que têm que “dar o
couro” para não perder o emprego. O adoecimento chega aos que acabam
fazendo um esforço acima de suas capacidades, compreendidas num amplo
espectro, do ponto de vista mental, físico etc. Esse trabalhador que
adoece vira um estorvo para os patrões, porque diminui o ritmo da
produção e acaba servindo de exemplo para os outros, que ficam com
medo.
União e história para cavar a saída
Falando sempre, como lembrou ao longo de sua aula, tendo o Materialismo
Dialético como base teórica, Terezinha terminou sua palestra com
otimismo ao abordar a busca de saídas para a situação crítica em que se
encontra a classe trabalhadora.
- Nós precisamos olhar para a história: meus avós estavam amarrados ao
pé de uma mesa. Muitos dos companheiros que estiveram ao meu lado,
lutando contra a ditadura, foram mortos; mas não se escapa à história.
Marx usa uma imagem maravilhosa: a topeira da história. Está ali o chão
liso, o asfalto e, de repente, ela aparece. É cavando nos lugares
subterrâneos, nos morros, com os pretos etc; é nos juntando e pensando
coletivamente que poderemos achar saídas.