Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Julgamento de Rafael Braga. Liberdade a Rafael Braga!

Sexta, 4 de julho de 2017
Por André Barros
Sabe a diferença entre o caso de Rafael Braga, condenado a 11 anos e 3 meses de prisão por tráfico, e as centenas de outros semelhantes? A mobilização de milhares de pessoas pelo Brasil – que realmente pode fazer a diferença no julgamento do jovem, que está parado por pedido de vista. Entenda mais sobre a questão com o advogado e ativista André Barros que estava presente na sessão.


Fui ontem ao julgamento de Rafael Braga na 1ª Câmara Criminal do Rio de Janeiro. Antes do mesmo começar, vários casos haviam sido julgados, em quase sua totalidade por tráfico de drogas. Todos rapidamente condenados a duras penas, exceto um caso: uma pessoa que portava seis decigramas de cocaína foi absolvida, o Ministério Público absurdamente apelou, mas, felizmente, perdeu.
O julgamento de Rafael já foi um pouco diferente. Toda a equipe do Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH) estava presente, além de advogados que atuaram em 2013, jornalistas e ativistas. A sustentação oral do advogado de Rafael e do DDH foi muito bem trabalhada, firme e rica em citações de casos similares. A primeira diferença em relação aos demais casos foi a própria sustentação oral de advogado, o que não ocorreu nas duras condenações anteriores. A segunda diferença foi que os desembargadores deram atenção ao advogado que ocupa a tribuna, ao contrário do que costuma acontecer, com frequentes conversas e falta de respeito.

A Desembargadora relatora, com sua decisão pronta, lida e curta, votou pela condenação de Rafael. O segundo Desembargador apenas acompanhou a relatora. O que surpreendeu foi o pedido de vista do Presidente da 1ª Câmara Criminal, o Desembargador Luiz Szveiter. Quer dizer, não votou, e deve trazer logo seu voto em outra sessão.

Indiscutivelmente, a luta de milhares de pessoas e a mobilização de milhões no Brasil e no mundo pelas redes sociais repercutiram no julgamento. Se o movimento de apoio a Rafael Braga crescer, ele tem chance de sair. O Presidente da 1ª Câmara Criminal, que inclusive ficou acuado perto de sua residência durante as manifestações de 2013, certamente não ignora a força das ruas. A mobilização pode libertar Rafael Braga e é um dever de todos que participaram da luta em 2013.

Não há dúvida de que Rafael é vítima de um sistema racista, classista, preconceituoso e autoritário. Sem ter participado das manifestações, está preso por elas, ele é o Tiradentes de 2013. Atuei como advogado em todas as manifestações de junho de 2013 e lembro muito bem do que ocorreu quando Rafael Braga foi preso, no dia da manifestação de um milhão de pessoas na avenida Presidente Vargas. Ao contrário das que ocorreram anteriormente, quando centenas de pessoas foram presas, naquela, a polícia só bateu. Milhares de pessoas foram caçadas nas ruas do Centro, Lapa, Glória e até Santa Teresa. Libertamos pessoas sitiadas em bares e universidades, mas não lembro se alguém foi preso naquele dia. Fiquei sabendo da prisão de Rafael Braga depois. Ele foi o único condenado e vem sendo perseguido desde então. Sua condenação a 11 anos e 3 meses de prisão por tráfico não é exceção, mas sim, a regra dessa farsa chamada guerra às drogas. Milhares de jovens negros e pobres, desarmados e com pequenas quantidades de drogas ilícitas estão presos e condenados a penas semelhantes, proferidas rapidamente por juízes e desembargadores, após denúncias e recursos do Ministério Público. O caso de Rafael Braga é diferente, porque ele representa as manifestações de 2013, quando milhões de pessoas tomaram as ruas do Rio de Janeiro para enfrentar o governador Sérgio Cabral e toda a roubalheira da Copa do Mundo e das Olimpíadas.

Hoje, quatro anos depois, é público e notório que nossa elite é altamente corrupta e, mesmo na cadeia, continua rica, com suas delações e acordos milionários. As ruas de 2013 já denunciavam essa elite bandida brasileira, hoje desmascarada. Rafael Braga representa essa voz das ruas. Liberdade a Rafael Braga!
 
Fonte: Tribuna da Imprensa Sindical