Segunda, 14 de agosto de 2017
Do site Portogente
Por
Fernando Siqueira — vice-presidente da Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet)
Depois de afirmarem que a Previdência do setor privado é deficitária e
serem desmoralizados pela tese de doutorado da professora Denise Gentil
(UFRJ) e pela cartilha (https://youtu.be/_GFzBhb16K8) da Associação
Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip), que
provam que a Previdência não tem déficit, e sim que o governo usa as
contribuições a ela destinadas para pagar juros absurdos da dívida
mobiliária, os porta-vozes dos bancos na grande mídia saíram com mais
uma falácia: na página 17 de O Globo do dia 8/8/2017 afirmam que as
despesas previdenciárias hoje abocanham 56,8% do Orçamento da União.
Vendo o gráfico atualizado da Auditoria Cidadã da Dívida a realidade é
bem diferente. Ou seja, o governo gasta com o pagamento dos juros e
amortizações da dívida cerca de 50,66% do seu orçamento, enquanto com a
Previdência gasta menos de 20%.
Quais as razões dessas mentiras, que desmoralizam os seus autores?
Segundo a coordenadora do movimento pela Auditoria Cidadã, Maria
Lúcia Fattorelli, o sistema financeiro, que faz parte do modelo
neoliberal, está agonizando e, desesperado para sobreviver. Uma das
saídas é apoderar-se dos recursos da Previdência, usando membros de um
governo corrupto e desmoralizado para impor a sua estratégia gananciosa
sobre a nação.
Tendo como ministro da Fazenda um banqueiro sócio do Banco Original
e, como presidente do Banco Central um banqueiro do Itaú, os juros reais
do Brasil se mantêm como os maiores do mundo, mesmo que o último
argumento – a inflação alta – tenha caído para um índice abaixo do
centro da meta, deixando o governo sem justificativa para não reduzir
juros.
Outra investida é sobre os fundos de pensão, através da reforma da
Previdência. Tão decantada na grande mídia aliada, o medo desta reforma
tem levado as pessoas a correrem para os VGBL dos bancos, que
apresentaram um crescimento de 130% em um ano. Esses fundos são
verdadeiras arapucas. Paga-se uma alta taxa de carregamento, que se
aproxima de 10% - ou seja, para cada R$ 100 aplicados, já se perde 10%
logo de saída. Além disso, há uma taxa de administração alta. Com isso,
esses fundos rendem entre 55% e 80% do fundo DI, apenas.
Essa reforma visa também à transferência dos recursos dos fundos de
previdência fechada para os bancos. Aproveitando-se da crise que gerou
déficit nos fundos de pensão, e da má gestão de alguns deles, fazem
forte campanha para se apoderar do montante de R$ 800 bilhões que
circula nesse segmento.
Aproveitando-se de um governo ilegítimo, a campanha se faz através de
reformas colocadas no Congresso Nacional, como a reforma trabalhista,
que destrói direitos dos trabalhadores e uma reforma da Previdência que
contradiz o espírito do bem estar social que norteia a Constituição de
1988. Como a economia do país está sendo desnacionalizada
aceleradamente, essas reformas têm também por trás os tentáculos das
grandes empresas multinacionais, que visam ao lucro, em detrimento dos
direitos sociais.
Os acordos do governo Temer com os parlamentares para se salvar da
prisão, segundo cientistas políticos, englobam também recursos para as
campanhas de 2018 desses parlamentares que se venderam.
A Justiça, por sua vez, tem sido conivente com esse ataque aos
direitos do cidadão. Um exemplo é o STF, que tirou o direito de greve de
algumas categorias e determinou que as conquistas dos dissídios
coletivos agora só valem até o próximo dissídio. Na reforma trabalhista,
qualquer comissão de trabalhadores (mormente pelegos) podem fazer um
acordo espúrio com o patrão e este prevalecer sobre a legislação.
É preciso que o povo se mobilize antes que a vaca vá totalmente para o brejo.