Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 5 de agosto de 2017

Para esconder da imprensa as filas em prontos-socorros dos hospitais, GDF vai mandar pacientes baixarem noutro centro ou na UPA que os pariram. Ou não é isto?

Sábado, 5 de agosto de 2017

Serão mandados embora pacientes que precisam de atendimento em até duas horas e aqueles que devem ser consultados no máximo em quatro horas. Centros de saúde funcionam (???) apenas das 7 horas às 18 horas.

Se está pegando mal para a imagem do governo, vamos dar uma martelada nas filas das salas de espera dos prontos-socorros dos hospitais da rede pública, né? Reduzi-las nem que seja na marra.

O que não se pode admitir, deve achar o governo de Brasília, é que os muitos pacientes necessitando atendimento médico sempre estejam dispostos a mandar uma mensagem (com fotos e vídeos) de WhatsApp ou telefonar para a mídia, para a imprensa.

Com essas subversivas mensagens, vemos DIARIAMENTE na telinha ou nas páginas dos jornais, ou ainda nas redes sociais, matérias sobre o dramático e desumano quadro resultante do desprezo dos governos pela saúde das pessoas. É o caos revelado pela mídia. Isso não pode, desgasta a imagem dos governantes, imagem já esfarrapada, já mais baixa do que o chão insalubre de um pronto socorro em que muitos cidadãos e seus filhos são obrigados a esperar o atendimento que quase nunca chega a tempo e hora.

À deriva está o Governo do DF, também propriamente chamado de Governo de Brasília. O comandante, que assumiu essa nau em 1º de janeiro de 2015, não consegue singrar os mares. Jogou o barco num redemoinho, roda, roda, roda, e não sai do lugar, não rompe os limites deste rodar das águas. A nau não sai do lugar, mas cada vez mais — como falam os pescadores e a gente da beira do mar— “bebe água”. Está bebendo tanta água, que corre o risco de brevemente sucumbir, desaparecer nas profundezas. À dúvida, cruel dúvida, é se haverá possibilidade de se resgatar alguma coisa que possa prestar dessa nau, que alguns já falam até que seria dos insensatos.

E o que fazem os comandantes e subcomandantes tanto da nau denominada Rede Pública de Saúde, como da frota Governo de Brasília? Nada, ou quase nada que possa salvá-las (a nau e a frota). Apenas emitem mensagens nervosas de que está tudo melhor, que a nau está rodopiando menos e acreditam que esteja saindo do redemoinho. Não percebem, que os instantes mínimos que podem parecer alívio são apenas momento de quando a maré baixa, as águas ficam menos revoltas, mas o casco bate e a nau fica presa às pedras ou à coroa de areia. Sair do lugar, não sai. Quando a maré volta a subir, gira tudo de novo, até nova maré baixa. É um ciclo não rompido nestes dois anos e meio de comando (ou falta de).

Mas vamos agora especificamente ao ponto da martelada (tecnocratas gostam de usar este termo) que o GDF deu para tentar reduzir o tamanho da foto da interminável fila de pacientes nas salas de espera, portas e passeios dos prontos-socorros dos hospitais da rede pública de saúde do DF.

O governo, pela Secretaria de Estado da Saúde, publicou no DODF, Diário Oficial do Distrito Federal, da última quinta (3/8) a Portarianº 386/17. Ela prevê, na prática, que a partir de novembro pacientes que cheguem aos hospitais e sejam classificados como quadro “de baixa gravidade” sejam encaminhados aos postos de saúde ou UPAs.

Importante salientar aqui a questão da classificação do risco do paciente. Esta classificação usa cinco cores que significam o seguinte:

1.  A cor vermelha (emergência absoluta, indicando atendimento imediato);

2.  A cor laranja (muito urgente. O tempo de espera estimado deve ser de 10 minutos);

3.  A cor amarela (urgente. O paciente deve aguardar em média 60 minutos);

4.  A cor verde (pouco urgente. Significa que o paciente não corre risco de morte, e que deve ser atendido em 120 minutos —duas horas);

5.  A cor azul (não urgente. Indica que o paciente precisa apenas de um atendimento básico, e seu tempo de espera deve ser de até 240 minutos, isto é, até quatro horas)

A nova portaria da Secretaria de Saúde do DF significa, na prática, que todos os pacientes enquadrados nos citados itens 4 e 5 serão informados que devem baixar em outro centro ou numa UPA que o pariu. Os centros de saúde fecham às 18 horas e só abrem às 7 horas do dia seguinte, e isso só em dias úteis. Já imaginou uma criancinha, nos braços de sua mãe, chegando às 18 horas no Hospital Regional do Gama (HRG) e recebendo a classificação verde? Deverá receber atendimento médico em até duas horas, mas, infelizmente, será despachada, informada, que vá baixar noutro centro. Centro aberto, essa hora não há mais. UPA? A mais próxima é a do Recando das Emas. Imaginou o drama se a família não possuir um carro? O que deverá, infelizmente acontecer? Voltar para casa e quem sabe retornar ao hospital numa classificação amarela, laranja ou até vermelha. Ou na pior hipótese, ter que ir para o cemitério.

Lembremos aqui, novamente, que os Centros de Saúde funcionam das 7 horas às 18 horas dos dias úteis (segunda à sexta). Só dez postos em todo o DF devem (será?), segundo a Secretaria de Saúde, passar a funcionar também aos sábados das 7 às 12 horas. Serão postos em Samambaia, Recanto das Emas e Águas Claras. UPAs funcionando as 24 horas do dia, só temos em seis regiões administrativas de Brasília: Recanto das Emas, Ceilândia Norte, Samambaia, Núcleo Bandeirante, São Sebastião e Sobradinho. E veja que centros de saúde e UPAs também sofrem com falta de profissionais médicos, de medicamentos, de telefone, internet, e até falta de formulários para receitas.

Resumindo essa história numa linguagem mais popular, mais rasteira, como é rasteira a postura que têm os governos com a saúde pública: Se o adulto, a criança, ou o bebê, tiver sua classificação como de baixo risco, que vá baixar em outro centro, ou na UPA que o pariu. E, certamente, em muitas situações o que era um caso de baixo risco se transformará, pela ausência de atendimento na hora exata, um caso de alto risco...ou de morte.

É o caos! Mas os comandantes, como no Titanic, continuam cantando e dançando.

A nau está indo a pique! Vai soçobrar! O que sobrará? Responda quem souber.