Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Pobre país sem Brizola e Darcy

Quarta, 30 de agosto de 2017
Pobre país sem Brizola e Darcy
Vivemos tempos tristes. Desalentadores. A barbárie com seus dentes afiados.
 
Por Carlos Michiles, Ph.D
Blog do Sombra
 
Exercitar a mente com um trabalho prazeroso é o que todos aspiram encontrar na vida, antes que, pronto, tudo acabe. Porque, o que importa a velha morte? O diabo, diria Darcy, é perder a vida. Essa sim é uma perda. Um dano a vida.

Esta é a sensação em ler, reler, pensar, admirar, comparar, refletir sobre os textos de Darcy Ribeiro e a liderança de Brizola. Os dois faziam a práxis política como a soma da teoria e a prática.

Darcy Ribeiro usava uma linguagem rápida, falava com pressa tentando acompanhar seu pensamento e não perder tempo. Ele tinha pressa. Tinha fome de tempo. Sabia que o tempo é curto para realizar tanto e muitos sonhos. Gostava de se reconhecer como um indignado. Talvez por isso costumava distinguir os intelectuais em duas categorias: os áulicos e os iracundo. Aqueles enredados na sombra do poder para se darem bem e os outros, iracundos, irados, insatisfeitos que buscavam uma identidade própria para a formação e assunção da civilização brasileira.

Brizola falava como um artesão, costurando cada fala para realizar seu pensamento.

Darcy ao escrever em 1968 sua obra impactante que intitulou O processo civilizatório, tentou interpretar os milênios da civilização a partir de um complexo sistema de crenças, meios de produção e tecnologia. Tripé que utilizaria para formular as possibilidades autóctones de história para surgir uma civilização que deixaria o resto do mundo surpreso com a riqueza e pluralidade da cultura brasileira. Até chegar no seu O povo brasileiro que desafiou a dicotomia de classe entre burguesia versus proletariado de Marx e propor o preconceito social de classe como categoria mais específica para entender a formação cultural da sociedade brasileira.

Vivemos tempos tristes. Desalentadores. A barbárie com seus dentes afiados.

Não se faz mais gente como Darcy e Brizola. Esse tipo de material humano esgotou da prateleira dos deuses. Nos resta a mitologia de suas estórias narradas. Vivemos um tempo pobre de políticos. Tempo risível.

Darcy e Brizola falavam de educação em tempo integral, crianças na escola como um templo sagrado do futuro do país. Educação como investimento no presente dessas crianças para construir futuros pesquisadores, profissionais e não vítimas de balas perdidas, matando a nação. Hoje, tudo virou pó entre gangues de políticos em torno de interesses e dinheiro.

Pobre país sem Darcy. Sem Brizola.

Diante do imperativo da força do povo, Getulio ofereceu sua vida em holocausto. Darcy e Brizola ofereceram a apoteos para o desfile da sua história feita em direção ao olimpo dos titãs desafiando a estupidez do poder que insiste em humilhar o futuro.