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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Rollemberg e a política do gato que subiu no telhado

Quarta, 30 de agosto de 2017
Rollemberg e a política do gato que subiu no telhado
Quem não se comunica, se trumbica. E viva o centenário do Chacrinha!
 
Blog do Sombra
Por João Zisman 
 
Não há como duvidar que o país, os municípios, os estados brasileiros e o DF amargam os dissabores de uma grave crise econômica turbinada pelos sucessivos erros das gestões anteriores. Também seria cinismo não reconhecer que as administrações passadas contribuíram, e muito, para o sucateamento da máquina pública e para o rombo financeiro atual.
 
O discurso da herança maldita vem sendo usado pelos governantes como um mantra, se renovando, ou melhor, se repetindo de tal forma que se torna vazio, independentemente da realidade dos fatos.

Nesse contexto, o sentimento da população é o da irritação e, sobretudo da frustração, quando vê o seu voto se transformar, eleição após eleição, num instrumento renovador do mesmo.
 
O Distrito Federal, pós Caixa de Pandora, teve tudo para antecipar o período da revolução de costumes que se prenuncia pela égide da ação implacável da operação Lava Jato e seus desdobramentos. Enfim, nada será como antes da Lava Jato.
 
Os novos tempos chegaram rapidamente trazendo na bagagem a exigência popular de que o discurso dos políticos corresponda minuciosamente à suas práticas, assim como a população será mais exigente e vigilante quanto à postura dos seus cidadãos. A prática do politicamente correto será exercida e cobrada com naturalidade.
 
Repito, o DF poderia estar à frente do tempo, entretanto, o modelo podre foi mais resistente. O ex-governador Agnelo Queiroz fez um governo ruim em sua grande maioria e o governador Rollemberg, apesar de não cometer os mesmos erros do seu antecessor, inaugura novos, dos quais se destacam:
 
A relação institucional entre governo e parlamentares que nunca existiu, em que pese Rollemberg ter sido durante toda sua vida política, um homem de parlamento;
Intransigência no diálogo com os servidores públicos;
A estreia dos atritos com o legislativo ocorreu logo no primeiro dia de governo, quando a grande maioria dos integrantes da Câmara Legislativa encontrou as portas do Buriti fechadas, como constatava-se no Diário Oficial do DF repleto de desconhecidos de todos, inclusive do povo. As sucessivas crises no relacionamento, culminaram com o rompimento político da Presidente da Casa, Celina Leão e do líder do governo, deputado Raimundo Ribeiro. Vazamento de áudios de conversas em Palácio denunciavam o clima belicoso entre executivo e legislativo. Passados dois anos de “climão”, inclusive com denúncias de interferir até mesmo nos procedimentos investigatórios da Operação Dracon, o governador Rollemberg e seu distrital preferido, Agaciel Maia, perderam uma eleição dada com certa para a presidência da Mesa Diretora. Nesse tempo todo, o plenário aproveitou para se vingar, derrubando vetos do governador e sepultando o projeto da terceirização da saúde para as OSs, dentre tantos outros de interesse do Buriti.
 
Já sob o aspecto da relação com os servidores públicos, vale lembrar que aos primeiros dias de governo, Rollemberg já lançara o propósito de fatiar os salários do funcionalismo, o que se pode considerar como a primeira bomba de produção caseira do governo. Desmantelada, a “bomba” não explodiu no colo dos servidores. Por esses dias, mais uma vez, o governo insistiu no intento, numa clara demonstração de nos gabinetes do Buriti tem muita gente com ideia fixa, o que por sua vez é muito ruim; E lá vai outra crise desnecessária com o servidor. Afinal de contas é impensável que o Tesouro Nacional resolvesse do dia para noite liberar R$ 265 milhões para o GDF, sem que o governo houvesse feito qualquer tipo de pleito com muitos dias de antecedência. E aí não dá para entender mesmo: nem mesmo quando o governo trabalha em favor da garantia salarial do servidor, consegue capitalizar a simpatia dos mesmos. Isso tudo, por conta de notícia mal dada. É dose.
 
Voltando a pinimba com os deputados, fica claro que essa necessidade de sustentar a ferro e fogo o endurecimento das relações entre executivo e legislativo para tentar estabelecer a coerência com um discurso de campanha, serviu apenas para provar duas coisas: que o discurso até que era bom, em razão de tanta promiscuidade vista ao longo dos anos, no entanto, a sua maneira de agir foi desastrosa, por vezes até mesmo desrespeitosa, afinal de contas, bons ou ruins, todos os 24 distritais foram eleitos pelo voto popular.
 
O mesmo se pode dizer com a rigidez do discurso do aperto de cintos. Por mais necessário que seja fazer conta, com a ponta do lápis, com o nosso dinheiro, não é justo levar ao limite da insegurança a grande parte dos servidores e fornecedores do DF, sob pena de piorar, ainda mais, uma prestação dos serviços públicos já bem capenga. E aí, se lasca mais toda população. A incerteza de trabalhar e não saber se vai receber no dia aprazado ou em parcelas, causa tamanha instabilidade entre servidores e fornecedores, que descamba para alimentar a fogueira da crise de confiança para com o governo, que fica ainda mais visível quando a justiça tem precisado intervir para obrigar ao GDF que pague reajustes das categorias.
 
Isso tudo me faz lembrar da piada em que o casal viaja e deixa a mãe e o estimado gato de estimação sob os cuidados da empregada. A patroa preocupada e zelosa, tão logo chega ao hotel, liga para casa para ter notícias. A empregada muito direta e sem qualquer trato dispara: patroa seu bichano morreu. Estragou a viagem do casal, pronto. Na volta o patrão e a patroa chamam a empregada e explicam que ela deveria ser mais cuidadosa na hora de dar uma má notícia. - Maria, venha cá. Lembra do bichano? – perguntam o patrão.
 
- Sim senhor, responde Maria.
 
- Você poderia ter dito que ele havia subido no telhado, caído, se ferido e que você chamou o veterinário, mas depois de muitos cuidados o bichano não resistiu e morreu. Você quase mata minha mulher e sua patroa de susto com a notícia dada na bucha!
 
- Ah. Entendi patrão. Pode deixar que vou ser mais educada.
 
Meses depois, o casal novamente viaja, deixando desta vez apenas a mãe e sogra.
 
Ao chegarem ao hotel, a filha, mais uma vez zelosa, liga para casa para ter notícias da mãe. Maria, desta vez bem instruída, argumenta calmamente – patroa, sua mãe subiu no telhado. Do outro lado da linha, se ouve o barulho. A patroa morreu com a notícia.
 
Moral da história: notícia mal dada é pior do que a não dada.
 
Quem não se comunica, se trumbica. E viva o centenário do Chacrinha!