Sexta, 29 de setembro de 2017
Tenente coronel Soares pede para deixar MT e ser incluído em programa de proteção as testemunhas
DIEGO FREDERICI-Portal FolhaMax
Blog do Sombra
O grupo que faria parte de uma suposta organização criminosa que
estaria por trás das interceptações telefônicas ilegais em Mato Grosso
preso na última quarta-feira (27) por determinação do desembargador
Orlando Perri durante a deflagração da "Operação Esdras" teme um acordo
de colaboração premiada do ex-comandante da Polícia Militar, Zaqueu
Barbosa, preso desde o dia 23 de maio. Zaqueu Barbosa foi denunciado
pelo Ministério Público como o líder do grupo que realizou
interceptações clandestinas no Estado.
A revelação é do tenente-coronel José Henrique Costa Soares, escrivão
do Inquérito Policial Militar e foi repassada durante o depoimento à
Polícia Civil nos inquéritos que apuram a atuação da suposta organização
criminosa. “Perguntavam sobre vários aspectos do processo. Se ia ter
delação ou não do Zaque. Se ia haver mais indiciamento. Se o Siqueira
corria risco de ser preso”, disse numa referência ao secretário afastado
de Justiça e Direitos Humanos, Airton Benedito Siqueira.
O tenente-coronel chegou a ser cooptado pelo grupo, que pretendia
levantar a suspeição do desembargador Orlando Perri, relator do caso no
Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Soares admitiu que chegou a realizar
gravações em áudio do magistrado.
Porém, foi exigido que fizesse uma gravação áudio visual, por meio de
uma câmera que seria acoplada em sua farda. Em troca, receberia uma
promoção na carreira militar.
Após resolver colaborar com as investigações, Soares pediu para ser
incluído no programa de testemunhas. O pedido ainda está sendo analisado
pelo Judiciário.
ARQUIVO VIVO
Soares e sua família chegaram a ser ameaçados por um membro da
quadrilha. Ele afirma que teme pela sua vida. “Sou um arquivo vivo que
para eles tem que estar morto”, assinalou em depoimento aos delegados
Ana Cristina Feldner e Flávio Sntringuetta.
Na decisão que deflagrou a “Operação Esdras”, Orlando Perri relatou uma
ameaça explícita do coronel Evandro Lesco a Soares. A ameaça ocorreu
após o tenente-coronel chegar a “furtar” o celular do ex-secretário da
Casa Militar e da esposa dele, a personal Helen Crysti Lesco.
O episódio também teve a participação da ex-primeira-dama e advogada
Samira Martins. “O Lesco liga para mim e fala: olha, não sei se você
pegou meu celular porque só pode ter sido você, os dois celulares daqui
sumiram, eu não sei se foi você, mas só pode ter sido você, porque só
você esteve aqui. Eu não sei se você pegou por má-fé ou se você pegou
por distração. Eu só quero saber o seguinte, devolva, porque seu filho
está correndo risco de vida", confidenciou.
A Polícia Judiciária Civil (PJC) deflagrou na última quarta-feira a
operação “Esdras” que cumpriu 8 mandados de prisão preventiva, um de
coercitiva e 15 de busca e apreensão contra uma suposta organização
criminosa que seria responsável por interceptações telefônicas ilegais
realizadas no Estado. Foram presos a personal trainer Helen Christy
Lesco, o secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton
Benedito Siqueira Junior, o coronel Evandro Lesco, o sargento João
Ricardo Soler, o secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT),
Rogers Jarbas, e o ex-secretário da Casa Civil, Paulo César Zamar
Taques.
Entre as acusações que pesam contra o grupo esta a suposta tentativa de
afastar o desembargador Orlando Perri da relatoria da ação no TJ-MT por
meio de gravações que pudessem comprometer a “imparcialidade” do
magistrado na condução do processo. Os grampos se tornaram públicos após
duas reportagens do Fantástico que descortinaram uma central
clandestina de inteligência da polícia militar que quebrou o sigilo
telefônico de advogados, jornalistas, de uma deputada estadual e até
mesmo de membros do Ministério Público Estadual (MP-MT).