Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 17 de setembro de 2017

Rocinha: Abandono do Estado e falta de apoio à segurança agravam violência, diz especialista

Domingo, 17 de setembro de 2017 
Do Jornal do Brasil
Felipe Gelani *
 

“Em um cenário de descalabro político institucional, ocorre o agravamento generalizado da falta de segurança no Rio de Janeiro”. É o que afirma a professora do departamento de Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em políticas públicas de segurança, Ana Paula Mendes de Miranda. Segundo a professora, o abandono governamental e a falta de apoio institucional ao profissionais de segurança são alguns dos principais elementos que levaram ao quadro atual da violência no Rio.


A negligência das autoridades culminou em mais uma noite de conflitos na cidade. Na madrugada deste domingo (17), um intenso tiroteio entre traficantes que disputam o controle do tráfico de drogas na comunidade da Rocinha, na Zona Sul do Rio, teria deixado vários mortos, segundo os próprios moradores, e levado pânico à população.

“O que vivemos atualmente é uma ausência de políticas de segurança pública no Rio de Janeiro. Políticas nessa área não devem se limitar às UPPs [Unidade de Polícia Pacificadora]. Parte do nosso problema tem a ver com os criminosos nas comunidades, mas outro tem a ver com organizações criminosas inseridas nas próprias instituições do estado”, afirmou Ana Paula, que também é pesquisadora do Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas (Nufep) e do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (INCT-Ineac).

O tiroteio na Rocinha aconteceu a despeito da presença de uma Unidade de Polícia Pacificadora na comunidade. “O projeto das UPPs foi superestimado. Se atribuiu ao projeto ambições que ele não tinha condições de cumprir”, complementou a professora.

Para ela, um dos caminhos para devolver para a polícia a capacidade de recuperar a ordem nessas áreas é garantir aos profissionais da segurança condições de trabalho apropriadas. “Só se pode cobrar o trabalho de um policial se houver remuneração em dia. Além disso, é preciso reprimir os grupos associados à criminalidade dentro da própria polícia, punir desvios de munição e envolvimento de PMs com o tráfico”, complementou.



De acordo com Ana Paula, em médio prazo medidas como reformas na legislação que levem em consideração a dimensão social podem trazer bons resultados. “Porém, emergencialmente o que se pode fazer é mexer na segurança diretamente. O Rio foi o estado com o maior número de recursos investidos nessa área. Houve muito investimento, mas a população não sentiu o efeito desse trabalho. Há que se entender profundamente o motivo disso”, disse, concluindo: “É necessária uma reestruturação profunda, mas isso só é possível com um governo com mais legitimidade, coisa que o Rio de Janeiro atualmente não tem.”

* do projeto de estágio do JB