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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Sílvio Tendler: Filme documentário imperdível sobre o ruinoso capital financeiro; STF pode afastar Temer sem autorização da Câmara, usando a própria jurisprudência

Terça, 26 de setembro de 2017
Do Blog Oficial do Jornal da Tribuna da Imprensa

Helio Fernandes

Numa sessão especial o grande documentarista Silvio Tendler apresentou seu último trabalho. Eu chamaria de notável, se essa palavra não fosse redundante em toda a sua carreira profissional. Título que resume todo o conteúdo: "Dedo na ferida". É um libelo sobre o capitalismo, a desigualdade e a perda dos direitos sociais.

Através de diversas entrevistas, uma delas com o grande cineasta Costa - Gavras, traça um perfil extremamente incômodo a respeito da lógica homicida do capital financeiro, que inviabiliza qualquer alternativa de justiça social no mundo.

Estreará nos cinemas no prestigiado Festival de Cinema do Rio neste outubro, e recomendo entusiasmado. Para quem tiver tempo é um filme documentário para ver e lembrar. Atualíssimo na realidade do Brasil e do mundo. E sabedoria total de Tendler, escolhendo para entrevistar Costa - Gavras, que tem 3 filmes libelos sobre ditaduras. 

O primeiro, "A confissão", condenação aberta e ostensiva da ditadura soviética.

O segundo, "Estado de Sitio", sobre a tremenda ditadura que dominou o Brasil durante 21 anos. Única restrição: foi menos critico e de certa maneira até menos rigoroso como nos outros.

O terceiro, "Desaparecido", sobre a cruel e assassina ditadura do Chile. Nesse, além de cineasta, assume o papel de repórter investigativo, revelando fatos que escaparam ao noticiário diário. Mostra o belo Estádio Nacional, construído para a Copa do Mundo de 1962 e transformado num sangrento campo de concentração e de tortura implacável.

Costa - Gavras responsabiliza o governo dos EUA, da mesma forma que Silvio Tendler não esconde que a desigualdade do mundo é patrocinada por banqueiros e o grande capital financeiro.

SÓ O SUPREMO PODE AFASTAR O PRESIDENTE, SEM AUTORIZAÇÃO DA CÂMARA, USANDO A PRÓPRIA JURISPRUDÊNCIA 

A bandalheira que dominou e domina os Três Poderes, nos levou a uma situação lamentável, melancólica, estapafúrdia: a realidade da contradição. Principalmente em relação ao presidente corrupto, incompetente, criminoso, farsante, mentiroso, nebuloso, cercado não de ministros e assessores, e sim de cúmplices e comparsas.

Tudo isso é publico e notório, já foi chamado de LADRÃO por um dos maiores assaltantes já fantasiados de empresário. Podem perguntar: mas onde está a contradição? A resposta é facílima e obrigatória: o presidente não tem uma possibilidade em 1 milhão de chegar a 2018. Mas as chances dele ser retirado do poder são as mesmas, negativamente, a não ser que o Supremo abandone os pruridos de constitucionalidade, e recorde sua própria jurisprudência.

O Supremo insiste que o presidente eleito pelo SUFRÁGIO POPULAR, só pode ser retirado do poder com  AUTORIZAÇÃO da Câmara. Embora Temer jamais tenha enfrentado SUFRÁGIO POPULAR majoritário, não vou me valer disso e sim lembrar decisão do Supremo, por UNANIMIDADE, em 1955. Exatamente há 62 anos, o mais alto tribunal do país afastava do poder, o vice Café Filho, eleito sem qualquer duvida pelo SUFRÁGIO POPULAR.

Numa sessão emocionante, (com a minha presença e o meu apoio jornalístico) o voto do grande jurista que era Nelson Hungria, foi seguido por todos os ministros, Café Filho afastado, e o Congresso autorizado a eleger o substituto  em 48 horas.

Quando Café Filho deixou o palácio e se internou num hospital, querendo mais poder, o substituto natural era o presidente da Câmara, Carlos Luz. Mas este não queria assumir por horas ou dias, foi para SP no Tamandaré, com o ministro da Marinha, da Aeronáutica, o comandante da Esquadra Pena Botto, e lideranças civis, como Carlos Lacerda e outros.

O que eles queriam? Que Jânio Quadros, governador de SP, e que sabia que seria presidente em 1960 comandasse um governo no exílio. HA! Ha! Ha! Enquanto eles perdiam tempo, o Congresso, em 48 horas, às 2 horas da madrugada de 26 de novembro, elegiam Nereu Ramos, até o final do mandato.

Nereu podia ter assumido interinamente, quando o presidente da Câmara não  quis assumir. Quem ficou 3 dias interino? Flores da Cunha, segundo presidente da Câmara.

Nereu ficou presidente 5 meses, passou o cargo a Juscelino, foi nomeado ministro da Justiça.

O Supremo de 1955, o mesmo de hoje, embora, lógico, com formação inteiramente diferente. Até mesmo em matéria de interpretação e de respeito à jurisprudência.

PS- Poderia contar, minuciosamente, os 8 anos mais tenebrosos da história do Supremo, de 1937 a 1945. Servindo à ditadura do Estado Novo. Câmara e Senado fechados, deputados e senadores presos.

PS2- O Supremo aberto, com toda subserviência, inclusive referendando o ato bárbaro do ditador, extraditando Olga, mulher de Prestes, para a Alemanha e a  câmara de gás.

PS3- O que é mais grave: a PARTICIPAÇÃO nesses 8 anos inomináveis, ou a AUSÊNCIA  de agora, quando numa sessão resolveriam a parte política da crise? 

4 DIAS DA OPERAÇÃO ROCINHA 

O ministro da Defesa e da cidade indefesa, fez ontem um relatório, e anunciou: "Em 4 dias, 6 mortos, 5 feridos, 9 presos em flagrante". Não explicou flagrante de quê. Não tinha tempo, ainda precisava falar em duas rádios e numa televisão.

PS- Nesse ritmo, Raul Jungman tem que deixar o ministério em abril para ver se consegue um mandato de deputado.

PS2- Na última, ficou suplente, uma invenção da politicalha brasileira. 
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