Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Audacioso mas autorizado, o corrupto Cunha, dá entrevista clamorosa, vira capa de revista

Quarta, 4 de outubro de 2017

Helio Fernandes
Para ele, entrevista GLAMUROSA, diferença de apenas uma letra, que envolve muita coisa. E provoca repercussão, interrogação, constatação. O jornalismo não está em jogo. Com o avanço cada vez mais impressionante da tecnologia, o impresso enfrenta cada vez mais problemas para resistir e existir. Tem que recorrer então para o antigo "furo" de reportagem.

Só que no caso, o jornalismo se expressa através de um ex-deputado, cassado, preso, condenado, perigoso, sem caráter, sem escrúpulos, à espera de duas coisas. Uma nova condenação, ou a aceitação da delação que ele garantia que não faria.

Essa entrevista, com chamada na capa, um incentivo para que sua delação se transforme em realidade. Eventualmente serviria ao MP. Mas não tem autoridade ou autonomia para  autorizar essa espantosa entrevista. Isso é ou teria sido, área ou alçada exclusiva do juiz Sergio Moro. Que aliás, depois de condená-lo não tão pesadamente, caminhou favoravelmente a Cunha em dois episódios. 

Absolveu sua mulher, contrariando o MP, que recorreu imediatamente. Surpreendendo a todos, há 20 dias autorizou o perigoso ex-presidente da Câmara, a ir fazer um depoimento em Brasília, Curitiba tinha prioridade total e absoluta.

Publicada a matéria, me confidenciaram: "A entrevista foi feita em Brasília, tudo preparado e combinado". Faz sentido. Impossível em Curitiba. Como não perceber a movimentação dos repórteres. E quem liberaria Cunha a não ser Moro?  A entrevista é importante pela concessão, não pelo conteúdo.

Só se salva uma frase, combinada, discutida, burilada, colocada na capa junto com a foto do suposto  e pretenso autor: "Moro queria destruir a elite política. Conseguiu". Instigante e intrigante, serve a vários objetivos e interpretações. A Cunha, que daria a impressão de estar contra Moro. A Moro, que poderia considerar como um recado não explicito, por estar fora de hora: "Posso ser presidenciável em 2018".
 
PS- O Datafolha deu a impressão de encampar essa possibilidade, que aliás não tem nada de disparatada.

PS2- Na última pesquisa, coloca Lula como vencedor no primeiro e no segundo turno. Em relação ao segundo turno, faz uma ressalva: "Só perderia para o juiz Moro".

PS3- O Datafolha ficou na encruzilhada: ou é muito bem informada. Ou acredita e divulga INFORME como se fosse INFORMAÇÃO.

AÉCIO: SONATA E FUGA

O Senador jamais imaginou que aos 57 anos, presidenciável desde que tinha 42, fosse chegar a um período tão monótono da sua vida. Não pode sair de casa à noite. Pode sair durante o dia. Mas não pode manter contato ou conversar com políticos. Dessa maneira, o que lhe restou foi vagar pelas ruas de Brasília, olhando para o relógio já que as 6 horas da noite, ele tem que estar em casa. 

Hoje, bem cedo, quer dizer, por volta de 11 horas da manhã, chegou um de seus advogados com uma notícia do Supremo. Ele havia entrado com um recurso para que o relator do seu processo fosse substituído. Afastado o Ministro Fachin e sorteado outro. A Presidente Cármen Lúcia, que chega cedo no Supremo, despachou imediatamente mantendo o Ministro Fachin como Relator.

Seu dia ainda não terminou. Chegou outro advogado para fazer companhia a ele, e até obter informações no Senado. No momento, os Senadores estão decidindo, se vão manter a decisão do Supremo, ou se decidirão confrontar o mais alto tribunal do país.

Mas durante a tarde, foi apresentado um requerimento que mudou o caminho dos debates. Entrava em discussão, um pedido: não entremos em confronto com o Supremo. Isso era colocado expressamente. Desfile de discursos, uma parte contra, outra a favor. Todos citando a Constituição.

O mais arrebatado, Paulo Bauer, ex-governador de Santa Catarina. Foi claro e incisivo: "Devemos votar imediatamente, não tenho a menor ideia do resultado, temos que respeitar a Constituição".

Muitos lembraram que um senador foi cassado pelo Supremo, e o senado ratificou por unanimidade. Outros disseram que o processo contra Aécio devia ter sido resolvido pelo Conselho de Ética, recusaram. E o presidente desse Conselho ficou durante toda a sessão, ao lado do presidente Eunício.

Não posso deixar de louvar o discurso da brava e combatente Lidice da Mata. Sugeriu, pediu, apelou: "Aprovemos imediatamente uma PEC, marcando eleição DIRETA para um presidente, que exerça o cargo até 2018". Ninguém respondeu, era uma solução.

Desperdiçaram horas e horas, desgastaram a paciência geral, cansaram os milhões que em casa, esperavam uma solução, até que finalmente, fizeram o que deviam ter feito antes, muito antes: votaram.

 Às 8,30 por 50  votos a 21, decidiram adiar para o dia 17. Podiam ter decidido isso, às 2 ou 3 da tarde.
 
Fonte: Blog Oficial do Jornal da Tribuna da Imprensa — A matéria pode ser republicada com citação do autor.