Quinta, 12 de outubro de 2017
Do Jornal do Brasil
Davison Coutinho
O sangue escorre pelos becos. As crianças estão sem aula, assistindo
aos corpos pelo chão. Estamos em uma guerra onde lutamos sozinhos para
conseguir sobreviver. Já não sabemos quem pode ser atingido, mas não
podemos sair daqui. É o nosso lugar, nós criamos e criamos nossos filhos
aqui. E afinal, para onde iríamos? Não temos escolha.
Grupos e
redes sociais são criadas para que moradores se informem dos tiroteios.
Trabalhadores que saem para trabalhar sem saber se voltam. Casas
metralhadas, jovens atingidos. Um cenário de violência que não consegue
sensibilizar o poder público, que acredita apenas na força policial como
solução para a consequência de um problema bem maior.
Estou
vendo os jovens sendo mortos, outros sendo presos. Nada a comemorar.
Observo nos jornais a idade de alguns deles e outros conheci pequenos,
são todos muitos jovens. Estamos perdendo a nossa juventude que também é
vítima de uma sociedade desigual. Engana-se quem pensa que a culpa do
tráfico está na própria favela, ou que são aqueles traficantes os
verdadeiros beneficiados do tráfico de drogas no Brasil.
Continuamos
na busca pela paz, como concluindo com Cidinho e Doca “eu só quero é
ser feliz, andar pela favela, o lugar onde eu nasci...”
*
Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em
desenho industrial pela PUC-Rio, Mestre em Design pela PUC-Rio, membro
da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu,
professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade