Terça, 24 de outubro de 2017
Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Em entrevista ao jornal espanhol El Mundo,
o Lula disse que o eleitorado sentiu-se traído quando Dilma promoveu o
ajuste fiscal, fazendo o contrário do que prometera em campanha.
Está certo, claro, mas agora é tarde, Inês é morta.
Lula
disse também ter certeza de que hoje até a própria Dilma admite que
deveria ter sido ele o candidato a presidente em 2014, e não ela.
Eu
disse de imediato que a tentativa de fazer o ajuste fiscal depois de
eleger-se pela esquerda teria o mesmo resultado de quando o João
Goulart, esperando conquistar o apoio do empresariado, empossou
ministros direitistas na área econômica: o mesmo fogo amigo que derrubara os estranhos no ninho dos anos 60, derrubaria o Joaquim Levy. Dito e feito.
No segundo semestre de 2014, eu apoiei a corrente do Volta, Lula!
sempre que ela tentou forçar a substituição da cabeça-de-chapa, pois,
mesmo não morrendo de amores pelo ex- metalúrgico, sabia que a Dilma não
estava à altura dos desafios que enfrentaria no segundo mandato e havia
grande chance de ser levada de roldão pela crise econômica. Dito e
feito.
O
Lula percebia os erros que estavam sendo cometidos, mas não agiu. Eu
deduzi em tempo hábil como os dois filmes acabariam, mas não consegui
sensibilizar os que tinham poder para alterar o rumo dos acontecimentos.
Resta-nos o sentimento de culpa e um gosto ruim na boca, pois agora é
tarde, Inês é morta.
"...na volta do barco é que sente / o quanto deixou de cumprir..."