Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A farsa da recuperação da economia vendida pela Globo

Quinta, 2 de novembro de 2017
Por
José Carlos de Assis*

A recuperação do emprego é uma farsa. O que está sendo criado de novo são os subempregos e os trabalhos (desesperados) por conta própria, agora estimulados pela chamada reforma trabalhista, em sua essência estratégias de sobrevivência dos que não tem vocação ou coragem para roubar ou entrar para o tráfico. O excelente site da CTB, a central dos comunistas, mostra os números. Em contrapartida, o Jornal Nacional da Globo exibiu ontem por vários minutos, como episódio relevante de recuperação do emprego formal, a contratação no ano de seis pessoas numa empresa paulista.
É verdade que algumas montadoras estão contratando empregados com olho nas oportunidades de exportações, sobretudo na América do Sul. A propósito, este é o único mercado industrial relevante que temos, o Mercosul, e que a política de Temer quer entregar à União Européia num infame acordo de livre comércio que nos asfixiará na parte industrial e tecnológica. Seria bom que as montadoras vendessem lá fora em função de uma estratégia permanente, mas o fato é que exportam porque não tem mercado interno.

Não vejo nenhuma possibilidade de criação líquida de emprego formal sem uma forte recuperação da economia. E não obstante a propaganda indecente que o Governo faz de que estamos em plena recuperação, não há por enquanto nenhum indicador que o confirme. A prova dos nove será tirada no próximo dia 17, quando o IBGE divulgar os números do PIB. Tudo indica que teremos crescimento zero ou próximo de zero. Dos componentes do PIB, pelo que se sabe, Consumo, Investimento e Gasto Público ainda estão caindo.

Do lado das exportações, depois de desempenharem papel relevante nos dois primeiros trimestres do ano, as exportações de commodities agrícolas devem se arrefecer. De onde, pois, virá o crescimento propalado pelo Governo? Ele deliberadamente reduz o gasto público, desestimula o investimento privado (vide o que fez com a TJLP e com o conteúdo nacional da cadeia de petróleo), deprime o consumo; as exportações de bens industrializados, salvo a pequena oscilação dos automóveis, não compensam as importações que o Governo estimula com sua estúpida política cambial que só atende aos interesses da máfia financeira.

Veremos o que acontece no dia 17. Talvez o Governo tente apressar a votação da chamada reforma da Previdência antes da exibição dos números do PIB. Por causa do bom comportamento do agronegócio, ele tentou vender a idéia de que estamos em plena recuperação, o que promoveria a confiança numa política econômica, sob outros ângulos, totalmente fracassada. Muitos parlamentares da base do Governo comprariam o diagnóstico da retomada para justificar a entrega do sistema previdenciário ao setor privado. Prevendo números negativos que os desanimem, Temer pode querer atirar antes!

Homenagem a Cancellier – Por falar em Jornal Nacional, esse canal de manipulação de consciências se omitiu descaradamente na cobertura da homenagem pelo Congresso ao reitor Cancellier, da UFSC, o qual, sob infame pressão de abuso de autoridade, foi levado a suicídio. Para a Globo, uma das maiores manifestações congressuais de desagravo a arbitrariedades policiais, do Ministério Público e da Justiça, e também da própria Globo, reunindo notável participação suprapartidária, simplesmente não existiu. Daqui a algumas décadas, essa prostituta da liberdade de imprensa apresentará ao grande público suas desculpas, como aconteceu recentemente em relação a seu apoio à ditadura de 64.
 
*Tribuna da Imprensa Sindical