Segunda, 6 de novembro de 2017
Kelly Oliveira – Repórter da Agência Brasil*
O
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse hoje (6) que criou um
fundo no paraíso fiscal das Bermudas para gerir parte de sua herança.
Acrescentou que a aplicação dos recursos foi declarada à Receita Federal
e ao Banco Central.
Um dos nomes mais importantes do governo do
presidente Michel Temer, Meirelles criou o fundo em 2002 para lidar com
sua herança. As informações foram divulgadas pelo site "Poder360", um
dos quase 100 veículos de imprensa que analisaram milhões de documentos
deste caso, batizado como Paradise Papers, sob a coordenação do Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ).
“Está
tudo declarado, como tudo o que eu faço, não só à Receita Federal, ao
Banco Central. E também qualquer movimentação. É uma entidade
filantrópica. Visa investir recursos em educação no Brasil,
exclusivamente”, disse em entrevista hoje (6) à rádio BandNews. O
ministro da Fazenda acrescentou que, na época em que criou o fundo,
morava no exterior. “Na época, dirigia uma grande instituição financeira
internacional. Morava no exterior. Ela [a entidade], portanto, foi
constituída no exterior”, explicou.
Paraísos fiscais
Meirelles
e o ministro de Agricultura, Blairo Maggi, estão entre as dezenas de
políticos mundiais ligados a empresas em paraísos fiscais, de acordo com
uma investigação divulgada neste domingo simultaneamente por vários
veículos da imprensa mundial.
“Foi feita uma pequena doação
inicial visando constituir a entidade. E depois disso a entidade está
inativa. A partir do momento que ocorrer o meu falecimento, uma parte da
minha herança será doada para esta entidade para aplicar exclusivamente
em educação no Brasil”, explicou o ministro da Fazenda.
Ele
disse ainda que essa era a maneira “mais eficaz e objetiva” para
direcionar os recursos definida por seus advogados. “As regras de
aplicação são muito claramente definidas. Garantem a aplicação de
recursos de herança de maneira muito eficaz”, disse.
Os
documentos mostram que o contrato do fundo foi registrado no fim de
2002, a partir de uma doação de US$ 10 mil, realizada pelo próprio
Meirelles, que, pouco depois, assumiu o cargo de presidente do Banco
Central, no qual ficou até novembro de 2010. Meirelles disse ao
"Poder360" que o Sabedoria Foundation ainda não recebeu ativos e que o fundo receberá parte de sua herança quando ele morrer.
Já
Maggi é apontado como beneficiário final de uma empresa aberta nas
Ilhas Cayman em 2010, com participação de uma de suas empresas e a
holandesa Louis Dreyus, de acordo com a investigação.
Um ano antes, uma subsidiária da Louis Dreyfus
e a Ammagi Exportação e Importação chegaram a um acordo para criar uma
filial conjunta para atuar no mercado de grãos em quatro estados do
Brasil. A filial foi registrada em um município na Bahia com o nome de Amaggi & LD Commodities, iniciando sua operação em janeiro de 2010.
Em 2010, a Ammagi & LD Commodities abriu uma offshore nas Ilhas Cayman, chamada Ammagi LD Commodities International, de acordo com o "Poder360".
A defesa do ministro negou ao "Poder360" que ele tenha recebido qualquer valor diretamente da offshore,
mas admitiu que ele é um beneficiário indireto da empresa. A
investigação foi feita por 382 jornalistas de quase 100 veículos, que
analisaram mais de 13 milhões de documentos que compreendem um período
de quase 70 anos (1950-2016). Os documentos foram vazados de dois
escritórios especializados em abrir offshores, o Appleby e o Asiatici Truste.
Presidência da República
Na
entrevista à rádio, Meirelles também afirmou que “não tem obsessão em
ser presidente da República”. Ele disse, contudo que “tem consciência de
que é presidenciável”. “Tenho consciência porque as pessoas me dizem
isso todos os dias, sejam políticos, pessoas que encontro na rua. Existe
uma expectativa de um certo número de pessoas”, afirmou.
“No
momento, estou concentrado em colocar o país de volta ao crescimento. No
futuro, vamos ver qual é a melhor maneira, se existe alguma, de servir
ao país. Eu não tenho como alguns políticos um desejo específico, uma
obsessão de ser presidente da República”, disse.
* Com informações da agência de notícias EFE