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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Com fechamento da pediatria do Hospital do Gama, crianças precisam ser levadas ao Hmib

Quarta, 15 de novembro de 2017
“Sempre nos atenderam bem, com atenção. Eles e os enfermeiros não querem sair daqui, isso é coisa de quem administra”
 
Do Jornal de Brasília

A filha de Yasmin depende de sonda para se alimentar, e ela passa por transtornos para tentar conseguir atendimento. Foto: Breno Esaki
Matheus Venzi
Raphaella Sconetto
“Será que crianças vão ter que morrer para abrirem os olhos?”, desabafa a estudante Yasmin Carvalho, de 17 anos, moradora do Gama e mãe de Ana Julia, de quatro meses. A criança se alimenta por meio de sonda e precisa se consultar com o pediatra toda vez que o aparelho é movido ou danificado. O hospital mais próximo de casa é o Hospital Regional do Gama (HRG), mas a unidade completa sete meses sem atendimento pediátrico. A opção mais próxima fica a 33 km, no Hospital Materno Infantil (Hmib).

Os serviços foram encerrados na segunda quinzena de abril, e até o momento não há previsão de reabertura. A pediatria do HRG já tinha sido fechada em setembro do ano passado, mas chegou a funcionar em março após a contratação de 22 pediatras.
Mesmo assim a situação não melhorou. Segundo a Secretaria de Saúde, 19 profissionais contratados pediram demissão por causa da grande demanda, que chegava a ser duas vezes maior do que o previsto. A expectativa inicial era de dois mil atendimentos, mas no primeiro mês de funcionamento a pediatria recebeu 4.860 crianças. Por causa disso, as atividades foram suspensas.
Atualmente, os casos menos graves estão sendo direcionados às Unidades Básicas de Saúde da região. Já os pacientes em estado grave devem procurar os outros hospitais da rede que possuem atendimento pediátrico de emergência.
Na opinião de Yasmin, a atitude é irresponsável. “Quando estava internada aqui outra vez, chegou uma criança picada por cobra. Ela foi atendida. Imagina se fosse hoje e ela precisasse ir ao Hmib? Morreria durante o trajeto”, comenta.
A estudante afirma que levaria quase duas horas para se deslocar do HRG para o Hmib utilizando transporte público. “Minha filha precisa da sonda para se alimentar, imagina ficar esse tempo todo passando fome… isso prejudica a saúde dela”, expõe.
Sem saber para onde ir
Mesmo com os atendimentos parados no Hospital do Gama, três crianças ainda estão internadas ali e aguardam alta ou transferência. A doméstica Daiane Moreira, 20 anos, não aguenta mais de deslocar de um lado para o outro com a filha, Nicole Sofia, de três meses.
“Somos pessoas humildes e precisamos desse serviço. A minha filha precisa de oxigênio e tem que ser monitorada sempre. Parece que querem botar a gente na rua. Desde sexta-feira os funcionários estão comentando que a pediatria vai acabar”, relata a mãe. Moradora da Cidade Ocidental (GO), Daiane recorreu ao HRG por ser a alternativa mais próxima.
Já doméstica Maria Claudiana, 34 anos, mãe do recém-nascido Matheus, denuncia a falta de comunicação entre os hospitais. “Eu vim para cá encaminhada pelo Hospital Universitário de Brasília. Por que não avisaram que a pediatria ia fechar? Meu filho não tem nem oito dias que está aqui e já vai ter que ir pra outro lugar de novo”, critica. Por causa de uma complicação durante o parto, seu filho também precisa de sonda.
Mesmo assim, Maria não culpa os médicos do HRG. “Sempre nos atenderam bem, com atenção. Eles e os enfermeiros não querem sair daqui, isso é coisa de quem administra”, finaliza. Agora, a mãe não sabe para onde o seu filho irá.
Funcionários da limpeza em greve por salário
Trabalhadores terceirizados responsáveis pela limpeza de hospitais públicos estão de greve. De acordo com o Sindicato dos Empregados em empresas de conservação e serviços terceirizados (SindiServiços), ao menos 1,5 mil empregados estão de braços cruzados.
As principais unidades afetadas são os hospitais regionais de Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Planaltina, Paranoá e Sobradinho, além do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) e da Fundação Hemocentro.
Segundo o sindicato, os atrasos nos pagamentos são constantes – só neste ano ocorreram em janeiro, fevereiro, maio e julho. Agora, os pagamentos de outubro, que deveriam ter sido pagos no dia 7, ainda não foram realizados. Por conta disso, os empregados da empresa Ipanema entraram de greve na tarde de segunda-feira, enquanto os da Dinâmica aderiram ao movimento ontem.
A categoria afirmou que não há previsão de suspender a greve. “Só vamos retornar aos serviços após o pagamento”, aponta a secretária- geral do Sindiserviços, Andréa Cristina da Silva. No entanto, ainda de acordo com o sindicato, não há nenhuma previsão para que eles recebam os salários.
“Segundo as empresas, o governo não repassa a verba há três meses, e elas não têm mais condições de arcar com as despesas”, critica.
Parte do serviço em dia
Apesar de 1,5 mil terceirizados terem aderido à greve, a limpeza e higienização das áreas prioritárias e de emergência dos hospitais estão sendo realizadas.
VERSÃO OFICIAl
A respeito da greve dos funcionários, em nota, a Secretaria de Saúde informou que “trabalha para quitar a dívida e está aguardando dotação orçamentária”. Segundo a pasta, a previsão é de que os valores sejam repassados às empresas até o fim da semana. ”A pasta ressalta que os atendimentos não serão prejudicados, uma vez que o efetivo mínimo de 30% dos funcionários está trabalhando”, conclui.
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