Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Quanto vale a vida do paciente do SUS?

Quinta, 16 de novembro de 2017

Do SindSaúde

Por Marli Rodrigues, presidente do sindicato

A imprensa noticiou, nos últimos dois dias que, duas personalidades da política local estão em tratamento médico: a primeira-dama do Distrito Federal, Márcia Rollemberg e a deputada distrital Telma Rufino. Estão tratando de câncer no endométrio e cardiopatia, respectivamente.

Por questões humanitárias, desejamos o pronto restabelecimento a ambas e que o tratamento realizado seja exitoso.

Mas, não podemos nos furtar de fazer uma reflexão sobre o tema. Todos os dias, Anas, Marias, Márcias, Telmas e tantas figuras anônimas morrem à míngua, por falta de tratamento na rede pública de saúde.


Recentemente, denunciamos a situação de precariedade e abandono das mulheres que precisam fazer acompanhamento na oncologia, quimioterapia e radioterapia e não tem qualquer perspectiva de atendimento. Estão, literalmente, sentenciadas à morte.

A situação dos pacientes cardiopatas também é desesperadora. Estão no "corredor da morte" à espera de um milagre...

Com a desestruturação dos serviços e a constante desvalorização dos profissionais, a cardiologia do Hospital de Base do DF, que já foi referencia em procedimentos hemodinâmicos, cirurgias e até transplantes, está hoje reduzido ao tratamento ambulatorial e ao acolhimento no PS para encaminhamento ao Instituto de Cardiologia. Depois que a SES terceirizou esse serviço, a situação foi de mal a pior em toda a rede. Médicos experientes e renomados foram pedindo demissão por falta de condições de trabalho. Ainda restam os mais idealistas e abnegados que usam o conhecimento adquirido e driblam as dificuldades impostas pelo sistema, para salvar vidas. Mas, o Base podia muito mais...

É senso comum o desejo de que houvesse uma lei que obrigasse que, políticos e suas famílias so pudessem ser tratados no SUS e frequentar as escolas publicas. É uma manifestação utópica que carrega a vontade de ver materializada o principio constitucional de equidade e isonomia.

Traduzindo: somos todos iguais perante a Lei e merecemos o mesmo tratamento!

Mas, isso não é verdade! A realidade é que os "iguais", são tratados como "desiguais". Há uma diferenciação imposta pelo nível econômico. Alguns são "menos cidadãos" que os outros. São sujeitos de menos direitos...

Quanto vale uma vida? Muitos dirão que é imensurável! Que é única e por isso, não podemos quantificar!

Ledo engano! Quando percebemos a realidade das pessoas doentes que dependem do SUS, e em especial aqui no DF, onde há uma tendência deliberada de sucatear para terceirizar, constatamos que a vida do cidadão comum, não vale nada para a classe política!

Ao portal Metrópoles, o porta-voz do governo declarou que "foi exemplar a forma como Márcia (primeira-dama) fez a prevenção e está fazendo o tratamento" e concluiu que "ela é uma mulher de coragem!".

Não resta duvidas que é preciso coragem e disposição para enfrentar um câncer ou qualquer outra enfermidade mais grave.

Esses são os casos da primeira-dama, Marcia Rollemberg e da distrital Telma Rufino. São mulheres de fibra. Estão enfrentando os seus piores pesadelos com firmeza.

Mas, para a maioria das pessoas doentes, que dependem do serviço público, é preciso mais que fé ou coragem. É preciso a sorte da oportunidade!

A possibilidade de ter o tratamento disponível. A maioria vive uma roleta-russa interminável, onde, via de regra, perdem e morrem...

A essas pessoas falta o básico para esse enfrentamento, a assistência à saúde!

É bem mais fácil ser corajosos no Hospital Santa Lucia, Santa Marta, Sírio-libanês...

Somos solidários ao cidadão e marido, Rodrigo Rollemberg e aos seus filhos, pela enfermidade da esposa e mãe. Assim, como somos aos familiares da Sra Telma Rufino.

E, não há nessas palavras qualquer ranço de satisfação ou sadismo. Respeitamos a dor.

Entendemos, porém, que a doença pode ser um burilamento para nosso espírito. Uma oportunidade de melhorarmos como seres humanos. A fragilidade advinda do medo humaniza as pessoas.

E é nessa condição que fazemos esse apelo sr. Governador, sra. Marcia Rollemberg, sra. dep. Telma e outras autoridades! Não permitam que as nossas Marias, Anas, Marcias, Joões e tantos desvalidos da sorte e que se mantem no anonimato social sejam relegados à morte, sem a condição de enfrentá-la...

A morte é um fenômeno natural. Sabemos que algumas doenças são vencidas e sucumbem a ela. Isso também é natural...

Mas, não o é, a indignidade, o abandono e o descaso! Tudo o que os pacientes precisam é de oportunidades! Só isso... É pedir muito?