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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Dívida pública está travando o crescimento nacional, mas os candidatos silenciam

Segunda, 11 de dezembro de 2017
Da Tribuna da Internet
Carlos Newton


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Charge do Paixão (Gazeta do Povo)

Não há dúvida de que o país está de cabeça para baixo – ou de ponta cabeça, como dizem os paulistas. A nação de maior potencial de crescimento sustentado está absolutamente travada, sem perspectivas. Esse problema começou a se agravar a partir do irresponsável governo de Fernando Henrique Cardoso, que passou a acumular uma dívida interna suicida, e hoje o Brasil está com seu desenvolvimento socioeconômico bloqueado, devido ao descontrole dos gastos públicos e à exploração financeira movida pelos investidores nacionais e internacionais.


A dívida pública bruta (governos federal, estaduais e municipais) já passa de R$ 4,7 trilhões, mais de 73% do PIB. Quem é otimista alega que no Japão, em Singapura, nos EUA, na China e em outros países esta relação entre dívida e PIB é até maior, mas os realistas logo explicam, à moda do marqueteiro americano James Carville: “Lá os juros são menores, estúpido!”

SEM DEBATE – Como todos sabem, aqui no Brasil a liberdade de imprensa tem limites e jamais são contrariados o interesse dos banqueiros e dos investidores. Por isso, hoje somente se fala em reforma da Previdência, não há um debate aberto sobre o maior problema nacional, que é justamente o descontrole da dívida.

Para “solucionar” o problema, o criativo ministro-banqueiro Henrique Meirelles inventou o teto de gastos, que é um programa do tipo “de volta para o futuro”, porque a dívida só estará sob controle daqui a 20 anos, e se tudo der certo. Mas até lá Inês é morta, diria o D. Pedro português. Aliás, a longo prazo todos estaremos mortos, como ensinava Lord Keynes, ao prescrever sempre medidas econômicas capazes de surtir efeito imediato.

E acontece que o tal “teto dos gastos” de Temer/Meirelles não deu certo, o déficit primário aumenta cada vez mais e o governo federal já está elevando o limite das despesas a serem feitas pelos Estados, depois será a vez dos municípios, e la nave va, cada vez mais fellinianamente…

CAPITALISMO SEM RISCO – Há outros países, porém, que se acautelam do capitalismo financeiro. A Suécia e a Dinamarca se orgulham de terem dívida pública de menos da metade da média na zona do euro. O fundo de riqueza soberana de US$ 820 bilhões da Noruega significa que o governo não tem dívida líquida. Nessas nações que mesclam o capitalismo e o socialismo, o problema é a dívida dos consumidores e o aquecimento artificial do mercado imobiliário, ou seja, nada que a “mão invisível do mercado” não venha a resolver, como dizia Adam Smith.

Mas aqui debaixo do Equador decidiram transformar o Brasil no piloto de provas do capitalismo sem risco que o pensador Karl Marx tanto temia, a ponto de criar o neologismo “rentista” e prever que haveria essa nova forma de exploração do homem pelo homem, através da exploração dos países pelos detentores do capital.

Há poucos meses a importante revista britânica “The Economist” chamou atenção para o acerto da previsão de Marx, ao antever essa etapa do humanidade, em wur há predomínio do capitalismo financeiro, aquele que nada produz, não cria empregos nem distribui riquezas, é como o orgulho, que se alimenta de si mesmo.

SILÊNCIO PROFUNDO – É fundamental que os candidatos a Presidência da República exponham com clareza o que pretendem fazer em relação à dívida, sem essa embromação de aguardar a solução para daqui a duas décadas, já tendo fracassado logo no primeiro ano. Mas ninguém toca no assunto.

A questão financeira é tão grave e peculiar que no Brasil os bancos continuam cobrando de 400% a 500% ao ano em prosaicas dívidas de cartão de crédito, diante de uma inflação anual que o governo diz ser de apenas 3%. Isso não acontece em nenhum outro país do mundo civilizado, digamos assim. No entanto, nenhum candidato fala sobre isso. E também não se manifestam como vão reduzir os gastos públicos excessivos, as mordomias, os penduricalhos. Nada, nada.

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P.S. –
Este silêncio profundo é inquietante. Espera-se que algum candidato toque nesses assuntos. Mas até agora, nada, até porque a imprensa não pergunta. A abordagem dessa questão é sempre “en passant”, como dizem os franceses. (C.N.)