Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Quando a direita é apresentada como centro pela mídia comercial

Terça, 16 de janeiro de 2018
Por
Mário Augusto Jakobskind*



A mídia comercial está mais uma vez enganando os incautos que se deixam envolver por manipulações da informação. Um exemplo típico é apresentar políticos notoriamente de direita, defensores de medidas que atingem em cheio os trabalhadores brasileiros, como sendo de centro. Mesmo assim, a referida mídia não conseguiu esconder a profunda divisão existente em tais hostes como, por exemplo, a briga de palavras entre o patético Rodrigo Maia e o aposentado do Banco de Boston que ocupa o Ministério da Fazenda, Henrique Meirelles.

Aí aparece o lesa pátria Michel Temer defendendo a candidatura presidencial do Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, um político que é apontado nas pesquisas sempre sem conseguir alcançar os dois dígitos. Em outro lance, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz não acreditar nas possibilidades eleitorais do referido governador.

E assim prosseguem os desentendimentos nas hostes da direita, entendendo-se esse segmento como um setor defensor entusiasta das medidas de retrocesso que vem sendo levadas adiante pelo governo golpista e ilegítimo de Michel Temer.

E em outro segmento surge o tresloucado extremista de direita, Jair Bolsonaro, que desde que andou circulando pelos Estados Unidos, ciceroneado pelo que se intitula filósofo, o extremista Olavo de Carvalho, tenta se aproximar dos setores liberais, os mesmos que fazem de tudo e muito mais para agradar o mercado financeiro.

Todos os candidatos direitistas e, claro não centristas, não podem ouvir falar em Luis Inácio Lula da Silva, condenado, sem provas, pelo juiz Sérgio Moro. Ficam eles sem saber como proceder quando surgem as pesquisas de opinião pública indicando a preferência popular pelo ex-Presidente. E isso apesar do comportamento da mídia comercial que diariamente apresenta Lula como se fosse um bandido, mas também sem apresentar provas, a não ser a repetição de preconceitos.

Na verdade, o que está e estará em julgamento no próximo dia 7 de outubro é, sem dúvida, o projeto que vem sendo executado pelo governo Temer. Os eleitores em 2014 repudiaram nas urnas o que Temer e o restante da patota aliada executam neste momento e leva o Brasil a andar para trás. Cabe então uma pergunta: em que lugar do mundo a ascensão eventual de um vice para a Presidência da República, seja em que circunstância for, acarreta uma mudança radical do projeto vencedor nas urnas? Em outras palavras: em que lugar do mundo um vice como Temer assumiria o governo para executar um projeto não defendido pelo antecessor?

No Brasil ocorreu um golpe parlamentar, midiático e judicial que resultou na ascensão de Temer, que executa um programa já repudiado pelo menos quatro vezes seguidas pelos eleitores. Mas os golpistas pouco se importam com tais detalhes. Eles optaram por favorecer de todas as formas o capital em detrimento dos trabalhadores e diariamente mentem tentando convencer os incautos que se deixam levar pelo noticiário tendencioso da mídia comercial conservadora.

E os que fazem isso não escondem, como Henrique Meirelles, por exemplo, que contam até com aliados externos como a tal agência Standard & Poor’s (S&P), que rebaixou a nota do Brasil, em uma tentativa de ajudar a levar adiante a lesiva contra reforma da Previdência.

E os tais políticos, de direita, e não de centro, como indicam os espaços midiáticos comercias, defendem com unhas e dentes as tais contra reformas também defendidas pela agência S&P. Essa é a realidade brasileira atual, sem subterfúgios do tipo utilizado pelos que disputam a preferência da escolha para ser candidato presidencial da direita.

Como a cada dia que passa os desentendimentos individuais entre os pleiteantes desse setor se avolumam, não será nenhuma surpresa que esses mesmos segmentos sentindo que a escolha popular lhe seja adversa, prefiram uma mudança constitucional das regras do jogo em favor do parlamentarismo ou semipresidencialismo e sem nenhum tipo de consulta popular que pode repetir a vontade já expressa em plebiscitos anteriores.

Os golpistas de 2016 pouco se importam em conhecer o desejo do povo brasileiro. Faz parte do esquema de aprofundamento do golpe ocorrido em 2016 essa não consulta popular.

* Via e-mail/Mário Augusto Jakobskind, é Professor, Jornalista, Escritor, vice-presidente na Chapa Villa-Lobos, arbitrariamente impedida de concorrer à direção da ABI (2016/2019) e Coordenador de História do IDEA, Programa de TV transmitido pela Unitevê - Canal Universitário de Niterói.

Fonte: Tribuna da Imprensa Sindical