Do Correio24horas
Outra cliente de delicatessen se revoltou; gerente chamou a polícia
Acusada de racismo é conduzida por policiais militares para a Central de Flagrantes (Foto: Leitor CORREIO) |
Uma
mulher aparentando ter cerca de 60 anos foi presa, na tarde deste
sábado (6), em uma delicatessen do bairro da Pituba [bairro de classe média], em Salvador, após
se recusar a ser atendida por dois funcionários do estabelecimento, que
são negros. A agressora e as vítimas foram ouvidas no início da noite.
Ela segue custodiada na Central de Flagrantes da Polícia Civil.
O
fato aconteceu na delicatessen Bonjour, na Rua São Paulo. A cliente se
recusou a ser atendida pelos funcionários Daniel Pereira da Silva, 23
anos, e Ubiratan Santos Souza, 22. Daniel, que trabalha no restaurante
há 3 anos, diz que o fato se repetiu algumas vezes ao longo dos últimos
seis meses.
“Nunca tratamos ela de forma diferente, ela dizia que não queria ser atendida por ‘pretos’, não queria que tocássemos nos talheres dela. Me senti realmente humilhado pois acho que nenhum ser humano deve ser tratado dessa maneira”, afirmou.
Ubiratan
relatou que a cliente só aceitava ser atendida por pessoas de pele
clara e ignorava qualquer tentativa de assistência por negros. “Sempre
que nos aproximávamos, ela virava as costas, fazia de conta que não
tinha ninguém ali falando com ela. Se um colega de cor mais clara se
aproximasse, ela aceitava o atendimento. Dessa vez foi necessário uma
outra cliente se revoltar com a atitude dela para que a polícia fosse
chamada”, lembrou.
O chamado policial foi atendido por um grupamento
que precisou conter a fuga da agressora, e durante a tentativa de
condução à delegacia, um sargento da PM, que preferiu não se
identificar, foi ignorado por ser negro.
“Todas as vezes que tentava conversar, ela subia o vidro do carro, daí quando um colega de pele clara se aproximava e fazia uma tentativa de diálogo, ela aceitava”, relatou o PM.
Gerente
da delicatessen, Paulo Sérgio reforçou que a cliente já havia
destratado funcionários do local em ao menos outras duas ocasiões, com
comentários considerados preconceituosos, mas desta vez passou dos
limites. Foi ele que chamou a polícia depois que a outra cliente se
irritou com o comportamento da mulher.
“Ela falou para os funcionários que não era para
encostar nela. Disse que não queria ser atendida pelos nossos
funcionários porque eles eram negros. Uma cliente se revoltou e reclamou
com essa senhora. Eu expliquei que ela estava desrespeitando, que tinha
passado dos limites, e disse que ia chamar a polícia”, afirmou Paulo
Sérgio. Ainda segundo o gerente, “várias pessoas presenciaram a situação
constrangedora”.
Um cliente, que chegou durante a discussão, contou
que a suspeita reagiu de forma ríspida durante o atendimento. “Ela não
queria comer nada que fosse tocado por negros e deu um ataque”, relatou.
Alertada de que estava cometendo o crime de racismo,
a mulher ainda tentou se justificar, mas manteve o comportamento
racista. A mulher foi conduzida por uma policial feminina até a viatura.
Segundo o gerente, a cliente que se revoltou com a situação, junto com
funcionários e advogados da delicatessen foram prestar queixa na Central
de Flagrantes, no Iguatemi. Até o início da noite, tanto a suspeita
quanto os denunciantes permaneciam prestando depoimento.
A assessoria da empresa divulgou nota repudiando a
atitude da mulher e dando apoio aos funcionários agredidos. “Reforçamos
nossa extrema ojeriza a qualquer tipo de atitude preconceituosa. Há mais
de 10 anos, desde a sua inauguração, que o staff da Bonjour é formado,
em sua grande maioria, de trabalhadores negros - dos quais a Bonjour tem
muito orgulho em tê-los em sua equipe. Repudiamos a atitude e esperamos
que a mesma não se repita: seja ela em qualquer outra circunstância”,
diz o comunicado.