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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Vai um brilho aí, ‘doutô’ Rollemberg? [Texto de 8 de março de 2017, mas ainda atual]

Segunda, 15 de janeiro de 2018

Vai um brilho aí, ‘doutô’ Rollemberg?

Texto publicado originariamente aqui mesmo no Gama Livre em 8 de março de 2017. Mudou apenas o tempo restante de vida do sapato velho, que passou de dois anos para menos de doze meses.

Sapato grife governo Rollemberg

Doutô, brilho aqui vai ser missão impossível! O couro está rachado, no lugar do dedão...furado, a sola descolada, brocada e estragada. E o chulé é insuportável. Não tem tinta, graxa, flanela e cusparada que dê jeito e brilho  neste seu sapato. Engraxate não há por essas bandas do Planalto Central, nem neste mundo de Meu Deus, que possa recuperar o brilho dessa ‘coisa’.

Foto: Metrópoles

Doutô, lá pras bandas de Itiúba, sertão sisaleiro da Bahia, até havia o Mestre Bugué, sapateiro de primeira. Quando alguém usava o sapato até a sola furar, ia na lojinha do Mestre Bugué. Mestre porque também era músico dos bons. E também em razão de ser mestre na arte de sapataria. Alicate, faca afiada que nem a língua do Cão, sovela, prego, martelo, muita conversa e mentira de caçador. Pronto! A receita perfeita para se colocar uma meia sola no sapato velho de qualquer um. Depois era só um pouco de graxa e tinta, estava o sapato pronto e brilhando para mais dois anos de uso.

Doutô, como seria bom se aqui em Brasília, ou adjacências, houvesse um consertador, e lustrador exímio, como era o Mestre Bugué! Quem sabe se não daria para lustrar esse seu ‘sapato’ carcomido, couro esfarelando, cordão um cotoco só, chulé dos diabos, sola toda esburacada? Um remendo aqui, outro ali, mais um acolá, uns pregos no solado, uma graxinha e tinta por cima. Poderia dar para enganar.

Doutô, infelizmente não há bugués no Planalto Central. Seu sapato vai continuar, tudo indica, furado, fubento, fedorento por mais dois anos [leia-se agora, neste 15 de janeiro de 2018: 'por mais 11 meses e meio', visto ser esse tempo o restante de vida no sapato estragado].

Doutô, se o Bugué fazia milagres com sapatos velhos, deixando-os tinindo de brilhantes, aqui nas terras em que Dom Bosco disse que jorraria leite e mel, não há milagreiros na profissão de fazer coisas estragadas parecerem brilhantes. Muito menos quando essas coisas não são sapatos, mas sim governos.

Troca de secretários de comunicação para mudar a imagem de um ‘sapato’ estourado, furado, esfarelado, brocado, pode até ser tentado. Mas achar que poderá dar brilho a esse sapato marca GDF, quando já está todo estragado e na hora de ser despachado para o SLU, ou para a encruzilhada? Faça-me o favor!

Mestre Bugué era mestre na arte da sapataria. De quando em vez ele olhava o sapato que alguém levava, matutava, e fulminava: Fulano, este não tem santo que dê jeito. Manda buscar outro na Bahia. Bahia como chamávamos, e chamamos, é a cidade de Salvador.

Doutô! Doutô Rollemberg, esse sapato que você tenta recuperar o brilho não tem santo que dê jeito. Não adianta querer FONAr nos ouvidos do povo. O povo não acredita mais na recuperação do seu sapato, pois continua ele nas mãos de sapateiros, pelo menos, imperitos.