Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 8 de março de 2018

Assim é a velha política: deputados se vendem e são comprados, alianças oportunistas são articuladas

Quinta, 8 de março de 2018
Por Hélio Doyle
A Câmara dos Deputados, que já é rotineiramente uma enorme feira livre onde tudo se vende e tudo se compra, a partir de hoje é um gigantesco mercado: deputados estão se colocando à venda e sendo comprados com respaldo da legislação que esses mesmos deputados aprovaram. É um comércio imoral, mas legalizado, no qual deputados federais são mercadorias que não têm qualquer valor de uso para a sociedade, mas que rendem muito dinheiro para eles próprios e para os donos de partidos.

Como a absurda e restritiva legislação eleitoral estabelece que os valores do fundo eleitoral, o tempo nos horários gratuitos no rádio e na televisão e a presença ou não nos debates promovidos pelas emissoras dependem do número de deputados que cada partido tem, o valor de troca dos parlamentares está alto. E esse mercado terá influência nas eleições de outubro aqui em Brasília.
A legislação eleitoral foi feita para beneficiar quem está no poder ou tem mandato, como se só o fato de ter poder ou mandato já não fossem vantagens suficientes para a disputa eleitoral. Os candidatos dos grandes partidos ou que formam amplas coligações têm mais dinheiro e tempo de TV, candidatos de partidos médios que não lançam candidatos majoritários têm mais dinheiro para os candidatos proporcionais. Candidatos de partidos pequenos ou que não se coligam têm menos tudo.
Deputados distritais e federais já entram com grande vantagem sobre os que não têm mandato: dispõem de funcionários pagos pelo Estado para fazer campanha, verba indenizatória para pagar imóveis, automóveis e combustível, além de “consultores” e “assessores”. O vice-governador Renato Santana, com sua enorme e dispendiosa equipe que nada faz no governo, e o senador sem voto Hélio José, com seus mais de 90 funcionários e as benesses do Senado, já estão na disputa com a estrutura de campanha montada com dinheiro público. O que dizer, então, do governador Rodrigo Rollemberg, que tem a máquina do governo, milhares de cargos e a caneta que nomeia e demite, contrata e distrata?
Os ex-deputados e ex-presidiários Roberto Jefferson e Valdemar da Costa Neto prometem gastar muito dinheiro nas campanhas de seus candidatos a governador, Alírio Neto (PTB) e Jofran Frejat (PR). O deputado Joe Valle (PDT), que já tem a seu favor o mandato e os privilégios assegurados pela Câmara Legislativa, corre loucamente atrás de outros partidos, não interessa quais e o que defendem, para formar uma coligação que lhe garanta mais tempo de TV e mais “estrutura” para sua campanha. Rollemberg, que sempre esteve na esquerda, busca partidos conservadores e de direita para fortalecer sua candidatura.
Esse é o jogo, as regras são essas: a corrida é de mil metros, mas alguns já largam 500 metros à frente, outros 250 metros. O pragmatismo eleitoral é exaltado como meritório. Mas os eleitores, que não aguentam mais a velha politicagem, a corrupção e os corruptos, podem mostrar que o dinheiro, o tempo de TV e a famosa “estrutura” (o que é isso, exatamente?) não têm mais esse peso todo e que os tempos são outros. Só saberemos, porém, em outubro.

Fonte: http://heliodoyle.com.br/