Março
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Libertadoras brasileiras
Hoje
terminou, em 1770, o reinado de Teresa de Benguela em Quariterê. Foi um dos
santuários de liberdade dos escravos fugidos no Brasil. Durante 20 anos, Teresa
enlouqueceu os soldados do governador de Mato Grosso. Não conseguiram apanhá-la
viva.
Nos
esconderijos da floresta, houve umas quantas mulheres que além de cozinhar e
parir foram capazes de competir e de mandar, como Zacimba Gambá, no
Espírito Santo, Mariana Crioula, no interior do Rio de Janeiro, Zeferina, na
Bahia, e Felipa Maria Aranha, no Tocantins.
No
Pará, nas margens do rio Trombetas, não havia quem discutisse as ordens de Mãe
Domingas.
No
vasto refúgio de Palmares, em Alagoas, a princesa africana Aqualtune governou
uma aldeia livre, até que foi incendiada pelas tropas coloniais em 1677.
Ainda
existe, e se chama Conceição das Crioulas, em Pernambuco, a comunidade que duas
negras fugitivas, as irmãs Francisca e Mendecha Ferreira, fundaram em 1802.
Quando
as tropas escravistas andavam por perto, as escravas liberadas enchiam de
sementes suas frondosas cabeleiras africanas. Como em outros lugares das
Américas, transformavam suas cabeças em celeiros, para o caso de ter que sair
correndo em disparada.
(Eduardo
Galeano, no livro ‘Os filhos dos dias’. L&PM Editores, 2012, 2ª ed., pág.
83)