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(Millôr Fernandes)

domingo, 4 de março de 2018

SAÚDE E BEM-ESTAR — 9 A agricultura moderna

Domingo, 4 de março de 2018
Por Aldemario Araujo

50 textos (um a cada final de semana). Registros de uma caminhada em busca de saúde e bem-estar consistentes e duradouros. Veja todos os escritos em: http://www.aldemario.adv.br/saude.htm

9 A AGRICULTURA MODERNA

A produção industrial em larga escala chegou às plantações. Esse modelo dominante de produção de alimentos vegetais envolve uma série de agressões à saúde e ao meio ambiente.

A agricultura, em ritmo crescente, é dominada por corporações imensas com atuação internacional. Prosperam monoculturas gigantescas (algodão, açúcar, café, chá, cacau, milho, soja, etc), altamente mecanizadas e voltadas para a geração de commodities freneticamente negociadas no mercado (nacional e mundial).

Essa agricultura moderna lança mão de adubos ou fertilizantes químicos em quantidade claramente excessiva. Esses produtos são profundamente acidificadores do solo e biocidas (destruidores da microvida do terreno agricultável). Ademais, desenvolvem vegetais menos saborosos e com teor nutritivo empobrecido. Ao serem levados pelas águas das chuvas e das irrigações, poluem rios e lençóis freáticos. Por evaporação, parte deles (os nitrogenados) afeta a camada de ozônio.

Uma das características da agricultura moderna consiste no uso intensivo de agrotóxicos (também conhecidos como defensivos agrícolas, pesticidas ou agroquímicos). São substâncias químicas sintéticas, tóxicas e venenosas, usadas para eliminar pragas, insetos, bactérias, fungos e outras plantas. Os agrotóxicos poluem o solo e as águas causando, ainda, desequilíbrios na fauna e na flora. Eles permanecem nos alimentos mesmo depois de lavados e a ingestão contínua provoca distúrbios e doenças. Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) mostram que o Brasil é o maior consumidor mundial desses produtos desde 2008 (https://goo.gl/NsT1em). Veja, a propósito, o filme "O Veneno está na Mesa", de Sílvio Tendler (https://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg).

Os transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGM) figuram como outra marca registrada da agricultura dos tempos atuais. São resultados de cruzamentos não observados na natureza (arroz com bactéria, por exemplo). Assim, são desenvolvidas sementes resistentes a agrotóxicos ou produtoras de plantas inseticidas. A prática coloca em risco a saúde das pessoas e o meio ambiente. A biodiversidade agrícola, em particular, sofre com os transgênicos e o decorrente aumento significativo de agrotóxicos (por conta do aumento da resistência de ervas daninhas e insetos).

Dois aspectos capitais em relação aos transgênicos devem ser destacados. Primeiro, não são realizadas pesquisas de médio e longo prazos acerca da segurança para a saúde humana e o meio ambiente (desconsidera-se o famoso “princípio da precaução”). Segundo, existe um verdadeiro cabo de guerra em torno do direito básico do consumidor de identificar, nas embalagens, a presença de transgênicos (um “T” preto sobre um triângulo amarelo).

Cresce, como alternativa saudável aos agrotóxicos, a chamada agricultura orgânica. Os alimentos orgânicos são cultivados de maneira sustentável sem a utilização de defensivos, adubos químicos, aditivos sintéticos, antibióticos, hormônios ou técnicas de engenharia alimentar (transgênicos).

Muitas vozes afirmam que só é possível “alimentar o mundo” se adotados os produtos, técnicas e procedimentos da agricultura moderna. O debate ganha corpo e se acumulam as evidências de que as técnicas mais naturais, adequadamente manejadas, podem suprir as necessidades em escala global.

O veneno está na mesa