Por
Rita Teixeira (Capotira)*
O dia 19/04 não é dia do indígena. Não há
sentimento de pertencimento do povo indígena a esta data comemorativa criada no
governo do Presidente Getúlio Vargas.
Não é reconhecido por vários motivos...
Primeiro porque o termo índio foi criado
pelo colonizador e reflete uma identidade que está completamente equivocada.
Segundo, porque dia de indígena é todo dia. Vocês educadores de Salvador-Ba, nunca foram passar uma tarde em ITAPUÃ? Nunca tomaram picolé de ITÚ na sorveteria de PIATÃ? Já comeram BEIJÚ em PITUAÇÚ? Tomam banho todos os dias? Já brincaram de PETECA, PICULA e PIQUE ESCONDE?
Enfim...poderia falar de várias situações
na nossa cultura que tem as marcas ancestrais indígenas. Por isso, penso que
seja muito menos equivocado tratar das questões indígenas somente uma vez no
ano.
Quando trazem uma etnia para visitar a
escola, muitas vezes os tratam com sentimento paternalista, pagando estes
artistas e promotores de cultura apenas com doação de alimentos e permitindo
eles venderem artesanato. Pensar em uma contribuição financeira nem pensar...
Vocês educadores recebem suas crianças no
“dia do índio” com musiquinhas como “Brincar de Índio, de Xuxa”, fantasiam suas
crianças de índio...enfim toda uma construção pedagógica que foge da realidade
dos povos indígenas atuais.
Não falam de genocídio...falam de
desbravamento.
Não falam de invasão...falam de
descobrimento.
Não falam de etnocídio...falam em
civilização...
Não falam que indígena não se define pela
condição física e sim pela cultura. Por isso, temos hoje indígenas brancos e
negros.
Não falam que tem indígena na
universidade, indígena com doutorado e mestrado.
Não falam que indígena hoje veste roupas,
usa celular e tem carro importado. Basta trabalhar pra isso, e que é um ato de
preconceito achar que se ele usufruir disso vai estar deixando de ser indígena.
Continuam na maioria dos materiais
didáticos apresentando ÍNDIOS que andam nus e são canibais.
Penso que se nós educadores
desconstruirmos essa visão colonizadora, iremos indiretamente ajudar a combater
o genocídio e etnocídio de indígenas.
Muito complicado descolonizar o
pensamento dentro das unidades escolares não indígenas.
Mas como educadora sou uma sonhadora.
E muitos podem me dizer pra seguir sem
olhar para essas questões, mas essa é minha missão...é minha escolha.
Cada educador não indígena que eu
conseguir ajudar a desconstruir esse pensamento medíocre e preconceituoso, será
como se eu ajudasse a reparar o mal que fizeram aos meus antepassados e ainda
fazem aos povos indígenas.
Copyright Rita Teixeira (Capotira)
19/04/18
*Pedagoga pela UFBa, Comunicóloga pela
Unifacs, Ativista do movimento indígena e negro e idealizadora do Programa
raízes dessa terra
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