Quarta, 18 de abril de 2018
Do Blogue
Náufrago da Utopia
O bem é tão agradável.
Engrandece. Torna a alma gigante. Esse eu não faço.
O mal é tão desagradável.
Abate. Humilha. Traz a alma pequena. Esse eu faço.
A quão pouco aspira a
oração cristã, ao suplicar tão somente livrai-nos do mal.
A prece certa é
libertai-nos do mal milenarmente arraigado em nós. Libertai-nos.
Arrancar do peito. Levar à
falência a fábrica do não-bem, estabelecida bem aqui na gleba íntima da carcaça
física. Nem o apóstolo Paulo conseguia.
Miseráveis homens somos nós.
A tratar deste assunto, tem
um ucraniano por aí crente de que, por toda parte, homens envolvidos com o
descaminho que ameaça extinguir nossas vidas, querem a verdade crua sobre o
real significado dos modos de ser, de agir e de reagir emocionalmente das
pessoas. O real significado dos maus modos de ser, para o pensador Wilhelm
Reich, é a atitude anti-Cristo da humanidade. Anti-bem.
Seu diagnóstico da moléstia
que acomete os que não-bem procedem, recebe dele um nome apocalíptico: peste
emocional. Aperitivo: para Reich, sofrem dessa enfermidade homem que
destrata mulher e aqueles que não cuidam bem das crianças.
Diz mais, nem o homem nem
os apóstolos entenderam a mensagem de bem-querer de Jesus Cristo. O homem não
bebe de sua Vida viva. Mitifica suas potencialidades divinas. Vive à
larga, a cometer pestilências, a espalhar e mesmo a defender a peste
emocional, a instilar essa enfermidade nos próprios filhotes.
De permeio às suas máximas,
as costumeiras entre os que amam a sabedoria – p. ex., o amor é interesseiro –
prega Reich: vós carregais Cristo em vós e sabeis disto. Talvez consigais
escondê-lo, matá-lo em vós e em vossos filhos durante algum tempo ainda. Mas
acabareis por falar a linguagem de Cristo e estremecereis aprendendo a viver
seu modo de Vida.
Declaro minha
constrangedora dificuldade em comprimir academicamente em algumas poucas linhas
o total de 250 páginas turbulentas de O Assassinato de Cristo, Martins
Fontes, várias edições desde 1982, 258 p.
Espremo um resumo da
procura de Reich: a humanidade, devastada por guerras e assassinatos de todo
tipo, desde o início da história escrita, tem sido incapaz de estabelecer
uma vida moral que esteja de acordo com o seu criador. Todos os esforços feitos
para suprimir essa peste fracassaram.
Ainda: a humanidade sempre
correu atrás de cada ínfima parcela de esperança e de conhecimento. Depois de
milênios de pesquisas, de tormentos, de sofrimentos, de assassinatos punindo heresias
e perseguições por faltas aparentes, ela não conseguiu mais do que algum
conforto para uma minoria, sob a forma de automóveis, aviões, refrigeradores,
aparelhos de rádio.
Reich: a humanidade em
tempo algum conseguiu responder à pergunta de como pode haver o Mal, se um Deus
perfeito criou e governa o mundo e os homens.
Pretensão de missionário
listar cada comportamento do homem contrário à sábia ordem da natureza. Por não
saberem viver a natural Vida viva ofertada pelo Cristo, milhões transformam
a própria relação sexual – um bem do Criador, diz ele, um divino abraço genital
– numa relés foda, o frio pênis a roçar vaginas frias. Palavras
dele.
Quando nem sabia o nome,
esquadrinhei essa questão de peste emocional. Procurei tirar ampla foto instantânea
do morticínio das virtudes no planeta azul. Fiz resumo das resenhas
de biografias de alguns historiadores.
Foi uma passada de olhos na
peste emocional que afeta a humanidade desde a chegada da escrita. Separo
apenas duas ações pestilentas. Duas. Uma de caráter universal, outra mais
chegada ao Brasil.
Uma, a tortura.
Outra, as roubalheiras dos políticos brasileiros.
1) Tortura: como pode uma
alma humana ser tão pestilenta ao ponto de cortar as carnes do outro,
vazar seus olhos, arrancar seus dentes, quebrar seus ossos, desferir-lhe um
tiro na cabeça e anda dizer: cumpro ordens. Como podem assassinar a infância
os pestilentos torturadores de crianças, com seus pretensos e variados talentos
enfermiços?
2) Roubalheiras:
apropriam-se dos bens da República tão pestilentamente que fazem do
universalmente amado Brasil o país mais corrupto do mundo. Um banho de peste
emocional são a persistência, a amplitude, a crueldade, a pungente
insensibilidade com que os políticos brasileiros e alguns funcionários dos
escaninhos da administração pública roubam o dinheiro público. Moldam um país
jocoso. O nosso amado país.
Com licença, há uma
terceira ação pestilenta que se nega a sair da memória.
3) Como pode um homem
público como Geraldo Alckmin, hoje ex-governador do gigante Estado de São
Paulo, enfileirar soldados da PM contra menininhas, criancinhas, que
protestavam contra a sua atitude medieval de fechar escolas? Seus antecessores,
os democráticos ex-governadores Mário Covas e Franco Montoro não
perpetrariam esse lance de tão amargo e medonho fascismo.
Gás lacrimogêneo,
cassetetes, balas de borracha, cavalaria contra os corpos frágeis e indefesos
de nossas filhinhas, nossas netinhas, nossas sobrinhas, nossas infantis
vizinhas. Como pode? O choro de uma menina que apanhou de cassetete me
marcou: “O guarda me bateu!”.
O Estado a reprimir
crianças com a força militar? As mães deste país nunca vão esquecer tamanha
pestilência, jamais cometida em nenhum país democrático do mundo.
Com licença: e as pessoas
do bem?
Reich: expulsa da vida
inocente do paraíso, a humanidade permanece imóvel, acorrentada ao mal.
Falta-lhe coragem para fugir dessa prisão. Nem deseja a fuga. Quem tenta
se evadir é tido como anormal.
O homem não quer romper os
grilhões e viver a Viva viva, que o ucraniano não explica bem o que é,
mas se deduz, é colocar em pratica no dia-a-dia a terapêutica psicológica
pronta e acabada para o corpo e para a mente ofertada de mão beijada por Jesus
Cristo.
Religiosidade à parte; o
médico, psicanalista e cientista natural da Ucrânia passa longe desta palavra.
(por Apollo Natali)