Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 13 de maio de 2018

Alguém esta sempre com você

Domingo, 13 de maio de 2018


Edith Vieira (Didi), minha mãe: quanta saudade!


Por
Fernando Tolentino
É fácil chegar na sala, abrir os braços e envolver a mãe como ela fez com você tantas vezes. Há quem não faça, mas não sabe o que está perdendo.
É simples ligar pra mãe e contar de novo o amor que tem por ela. Ou ir à sua casa e lhe dar o abraço mais gostoso de que tem lembrança. Sabemos que muitos não fazem isso; não sabem como ficariam mais ricos, mais plenos, mais fortes se o fizessem.
Sofrido é não ter como olhar nos olhos da mãe, puxá-la pra junto do corpo e envolver-se com ela como se voltassem a ser um só.
Quem vive isso sabe que teve momentos na vida em que, como agora, não é possível tocá-la, abraçá-la, beijá-la. Mas ela está ali. Está ali como sempre esteve, fosse ou não chamada. Simplesmente porque esta é a primeira coisa que as mães aprendem: estar ali.
Estar junto, como Maria esteve com Jesus.
A mãe é a companhia de quem está inteiramente só.
Na situação extrema de marginalização, convivendo com o medo e a violência em um presídio, sem qualquer acesso ao mundo exterior, a imagem forte para um filho ou uma filha que cumpre pena é a da mãe que continua amando incondicionalmente, esquece os seus desvios e despreza a humilhação das revistas para estar próxima e proporcionar um momento de carinho. Eis a lembrança da mãe como conforto.
É impossível esquecer o primeiro colo, o primeiro cheiro, o calor da pele, a mão firme a conduzir, a presença nos momentos de fragilidade.
Para uns, a mãe foi o primeiro exemplo a seguir. A expressão da coragem, da firmeza para decisões desafiadoras, a sugestão de um caminho. Ou simplesmente o ombro para chorar, a leveza do entendimento de um erro e o estímulo para uma nova decisão.
Por isso, entendo perfeitamente que Lula não está só. Entendo a força do momento em que ele e Leonardo Boff se abraçaram para chorar a saudade de Dona Lindu. A companhia de seus momentos de solidão ou fragilidade é a mesma Dona Lindu que tomou as mãos dele e de seus irmãos e os levou para uma nova vida em São Paulo. E ali os ajudou a cumprirem os seus destinos.
Tão distante desde que a vela de sua vida se apagou, Didi, minha mãe, continua comigo. Sempre.
Estas mulheres estão sempre conosco e merecem um beijo especial neste domingo.
Fernando Tolentino