Sexta,
25 de maio de 2018
Lembro
que sou da primeira geração de crianças que estudou nessa escola, foi no CAIC
que comecei a ter os meus primeiros lapsos de compreensão da realidade, onde
comecei a conviver com outras crianças de histórias e realidades diferentes e
semelhantes a minha, lembro com carinho do meu primeiro dia de aula e que fui o
único que não chorou na minha turma quando a minha mãe me deixou lá pela
primeira vez, estava ansioso para estudar, acho até que foi um dos dias mais
felizes da minha vida.
Enquanto
escrevo essa mensagem, meus olhos enchem d'água e sigo lembrando das
professoras que tive, seus rostos e nomes...
Alguns
anos depois fui aluno da Escola Classe 28 que também foi fechada e teve que ser
demolida, e tivemos que estudar no CAIC, e mais memórias vão chegando...
Lembro
da minha querida e já falecida professora Delite me repreendendo por algumas
coisas erradas que fiz e em outro momento me elogiando pelos textos que
produzia, das brigas na hora da saída, das primeiras paixões infantis...
Dos
treinos de karatê no ginásio com o professor Abdias, de jogar pedra na
cobertura de metal do ginásio só para ouvir o barulho legal que fazia, de me
imaginar escalando e descendo como um escorregador gigante a mesma cobertura,
da vez que choveu tanto granizo que nós brincamos de 'guerra de bola de gelo'
em pleno Cerrado.
A
questão é que uma escola jamais será somente uma escola, é lá que alguns de nós
vivenciamos algumas das experiências e amizades mais marcantes que teremos em
nossas vidas, a escola é parte de nós e nós somos parte dela também.
Nesse
ponto já chorei antes de terminar de escrever essa mensagem e lamento com
grande pesar e tristeza, o fim indigno que esse espaço que tanto fez por mim
terá.
Assim
como milhares de pessoas, eu sou o CAIC, e quando o demolirem, uma parte de mim
estará sendo demolida com ele.
*Juan Ricthelly é advogado, nasceu e
mora no Gama, ambientalista e ativista social.
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Saiba mais sobre a ruína e a demolição do CAIC do Gama em: