Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Indígenas no Rio Grande do Sul, entre a esperança e a miséria

Sexta, 13 de julho de 2018
da
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Neste ensaio, o fotógrafo Fabrício Mota viaja pelas estradas gaúchas para conhecer acampamentos dos Guarani e Kaigang que pedem pelo seu direito à terra

12 de julho de 2018
Fabrício Mota
Algumas pessoas me perguntaram por que iria fotografar os indígenas no Rio Grande do Sul. Não há uma resposta. Apenas segui meu instinto de fotógrafo. Se você parar para pensar, não faz nada. Fiquei, ao todo, seis dias fotografando e percorri 1.900 quilômetros.

Meu desejo era conhecer o processo que os povos tradicionais chamam de “retomada”, em que grupos indígenas se reúnem e regressam a territórios que, de acordo com eles, seriam ancestrais. Nos dias de hoje, toda terra tem dono. Por isso, as situações de conflito e segregação se tornaram inevitáveis.

Os Guarani Mbya vivem na região metropolitana de Porto Alegre e próximos ao litoral. Sempre evitaram o embate com povos que os ameaçavam. Com os europeus não foi diferente. Pacíficos, passaram séculos perambulando pelas estradas e vivendo nas periferias das cidades, se esquivando dos conflitos. Hoje, tentam se organizar e retomar as terras de seus antepassados.

Indo em direção ao centro do estado, às margens da BR-290, encontrei três acampamentos Guarani. Todos em situação precária, com barracos feitos de tábuas de madeira e lona. Na altura de Arroio dos Ratos, uma cidade com cerca de 15 mil habitantes, conheci uma mulher com três crianças bem sujas; não falavam português. Um homem chamado Cristian me mostrou o riacho que corria por baixo de uma ponte em frente a onde moravam. A qualidade da água me pareceu bem duvidosa. Mas eles a usavam para uma série de coisas, inclusive pescar.
Cristian, homem Guarani no acampamento Divisa à beira da rodovia BR-290, altura de Arroio dos Ratos. Ele está próximo ao túneis de baixo da ponte por onde corre o rio de onde se utilizam da água.