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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Terceirização causa rombo e trabalhadores arcam com o prejuízo. Organização Social demite 140 funcionários e restringe atendimento em unidades de saúde

Segunda, 9 de julho de 2018
Do Ataque aos Cofres Públicos

Com terceirização da saúde o enredo é sempre assim: os políticos corruptos e incompetentes colocam organizações sociais para gerenciar a prestação de serviços e quando tudo dá errado (e sempre dá) empresários e agentes públicos punem quem realmente trabalha. Ou seja, o desfecho do assalto aos cofres públicos sempre afeta o lado mais fraco: funcionários terceirizados e população usuária.

Mauá tem sido destaque do noticiário por conta deste ciclo nefasto de entrega dos serviços de saúde. Ao todo, 140 trabalhadores já foram demitidos. O argumento dos responsáveis é que os desligamentos vão reequilibrar as contas.

Como em outras cidades, o Governo de Mauá firmou contratos de grande monta financeira com uma OS (a Fundação do ABC), que por sua vez contrata fornecedores e outras empresas sem qualquer tipo de licitação e nenhuma transparência.

Os diretores da Fundação, das demais OSs e demais empresas quarteirizadas gozam de altíssimos salários, ao passo que funcionários da linha de frente se desdobram para garantir o atendimento com equipes deficitárias, em troca de salários ínfimos e redução de direitos.

Com a demissão dos trabalhadores formalizada neste fim de semana, representantes do SindSaúde ABC (Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Privados de Saúde do Grande ABC) realizaram assembleia com os funcionários demitidos para debater a demissão em massa na rede básica do município.

O presidente Almir Rogério Mizito repudiou a decisão da FUABC e Prefeitura de Mauá. “Lamentamos toda essa situação, onde você tem uma administração que quer equalizar uma questão financeira do município às custas do trabalhador.”

Segundo ele, funcionários relataram ainda dificuldades em receber os valores da rescisão. “São demissões que não têm previsão de pagamento da verba rescisória, o que é um absurdo”, enfatiza.

O Sindsaúde promete entrar nos próximos dias com ação coletiva para pedir a reintegração dos funcionários. “É para garantir o direito de pagamento da verba rescisória”.

Reflexos no atendimento

Claro que quem mais precisa de atendimento serão os primeiros a sentir os reflexos do rombo da terceirização irresponsável em Mauá.

Conforme publicou o jornal Diário do Grande ABC, o PS (Pronto-Socorro) do Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini já havia deixado de ser porta aberta e estava atendendo apenas casos de urgência, ginecologia, psiquiatria e ortopedia. A restrição no equipamento começou há uma semana.

Na relação de funcionários demitidos constam 60 colaboradores que atuavam na rede básica de Saúde, 60 das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e 20 do Nardini.

Responsável pelo atendimento primário da população, em especial de áreas carentes do município, o PSF (Programa Saúde da Família), que oferece atendimento em domicílio, foi um dos serviços mais afetados. Ao menos dez equipes, compostas por no mínimo três profissionais, foram desligadas. O Nasf (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) também foi afetado com a demissão de colaboradores de quatro equipes.

“Essas demissões provocarão um caos no sistema do município. Eles cortaram funcionários que atuam no coração da rede básica, em serviços essenciais para pessoas carentes”, disse uma funcionária ao jornal, em condição de anonimato.