Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Conversa com Tolentino: Ninguém duvide de Lula, o verdadeiro craque

Terça, 7 de agosto de 2018
Por
Fernando Tolentino


Como eu gostaria que meus filhos e netos pudessem ter visto o que Garrincha era capaz de fazer com a bola nos pés! Ou Pelé, Didi (soberbo!). Nilton Santos. No relacionamento de cada um deles com a bola, não ficava qualquer dúvida de quem mandava em quem. Isso define o craque. Para não recuar tanto no tempo, bastava que meus netos vissem em atividade Gerson, Tostão, Rivelino. Ou mesmo Sócrates, Ronaldinho Gaúcho, Zico. Todos divinos, como tantos outros. 


Se quiserem um bom exemplo, vejam Falcão em uma partida de futebol de salão. O importante não é como a bola chega, o espaço que dispõe para submetê-la ao seu controle, como reagirão os adversários. Interessa o que pretende fazer com ela. O objetivo. Para isso, é preciso surpreender sempre.

Pois imagine quando o juiz nega ao craque o acesso ao treinador, a participação do restante do time em suas jogadas, quando retira o espaço, o uniforme, a chuteira. Impede o diálogo com a arquibancada, rouba até a bola. 

Mesmo assim (acredite!), é possível se impor e, aos 45 minutos, do segundo tempo, antes do apito debochado do juiz uniformizado com as cores do time adversário, quando os narradores de rádio e TV já comemoram o seu isolamento e a sua inevitável derrota, marcar um gol de placa!

Partidos e candidatos batiam cabeça, alguns não viam como completarem as suas chapas, outro era obrigado a improvisar um acompanhante de palanque, todos revelavam total inaptidão para sensibilizar eleitores. 

Eis que surge o fator Lula. Ainda que invisibilizado pela prisão, ele dá um drible inimaginavelmente curto e caminha para a decisão da partida.

Até aí, nunca antes na história deste país, viu-se uma comédia tão grotesca.

Uma fila de pretendentes desfilava pelas manchetes de jornais e TV, exibindo seus falsos dotes e enfrentando a zombaria da população.

A dois meses da eleição, uma dúzia de nomes mal conseguia juntar as intenções apuradas em pesquisas e alcançar um terço das preferências. 

Do outro lado, impõe-se a um homem o mais rigoroso isolamento em seu cubículo. Sem sequer desfrutar direitos concedidos aos traficantes Nem e Marcinho VP, como o de meras entrevistas, há meses sem uma única palavra sua veiculada em canais de TV e rádio. Enquanto isso, em todos os horários de cada dia, jorram impropérios contra ele, insinuações, informações não comprovadas, falsidades nunca desmentidas. Não bastante, repete-se dezenas de vezes diariamente que ele está definitivamente fora da competição.

Mas o placar aponta que a preferência popular vai além de estável, mostra crescimento. O povo se vinga dos seus algozes, repete que não o esqueceu e exige a sua volta. Seus números nas pesquisas se impõem sucessivamente diante da soma de todos os concorrentes.

Na espreita, os inimigos comemoravam a aproximação do momento em que seu nome seria definitivamente alijado, calando o povo e decidindo o jogo contra a sua manifesta vontade. Para essa gente, que importa o povo? Entre eles, certamente comentavam: “Pobre gente. Não sabem que o jogo está decidido. É só chegar a hora de deixar claro que Lula não será candidato. Daí, é a nossa hora de entrar em campo e passar a mão na taça.” 

Pois, ao encerrar-se o prazo para que se anunciasse as candidaturas, explodiu uma notícia alarmante para eles.

Lula resolveu jogar o jogo, mesmo contra todas as evidências de que a ele – e ao povo – só restava perder. Manteve a sua candidatura, como garantia que seria feito, enquanto os eternos donos da política brasileira o ridicularizavam.

De dentro do presídio, veio a orientação do preso político. O PT reafirmou Lula como o seu candidato. E deixou clara a alternativa para se chegar o momento em que resolvam sufocá-lo. Os atônitos adversários viram surgir uma chapa de três nomes, mesmo só havendo duas vagas: Lula, Haddad e Manuela. 

Junto ao nome de Lula, um vice que poderá fazer as regras adaptarem-se às circunstâncias de quem o teme nas urnas e usa para isso o Judiciário. De sobra, atraiu o PCdoB, um partido que está na sua companhia desde a primeira tentativa, no distante 1989, passando pelas quatro vitórias desde 2002. Com ele, um nome que agrega a força da juventude e com o discurso já posto na pré-campanha. Não bastante, apresenta uma dobradinha de nomes que somam à força de Lula no Norte e no Nordeste as representações de regiões em que os seus índices de preferência não são tão altos: São Paulo e Rio Grande do Sul. 

Enfim, em nome de Lula, Haddad e Manuela vão caminhar pelo Brasil, levando o recado de Lula, sendo as suas pernas e as sua voz. Vão convocar as arquibancadas a se erguerem, incorporar a sua energia. 

Os adversários é que vão dizer se Lula estará na chapa ou estará Haddad em seu lugar. Se o nome de Manuela vai aparecer na urna. Não importa qual será a escalação desse time. Os dois serão Lula e têm o papel de levarem o Brasil a gritar em 1º de janeiro, o grito diário de Curitiba: “Bom dia, Presidente Lula.”
Fernando Tolentino