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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 20 de março de 2017

Vamos parar de presepada, GDF? Continua o caos no Pronto Atendimento Infantil (PAI) do HRG. Criança não pode ficar doente à noite e nem em finais de semana

Segunda, 20 de março de 2017

Nos finais de semana e à noite dos demais dias, o Pronto Atendimento Infantil do HRG só atende crianças que sejam pacientes classificados como de alto risco (pulseira vermelha). As outras crianças têm seu direito constitucional à saúde desrespeitado pelo governo do DF

Imagine você fazendo um voo de 168 horas num Boeing.

Já no ar, sem mais poder voltar à terra antes do voo concluído, descobre que do tempo total do voo (168 horas) a aeronave ficará 108 horas, representando 64,3% do tempo, com problemas técnicos terríveis.

Funcionando com apenas uma turbina, e assim mesmo rateando e ameaçando explodir, pois as demais pifaram. O engenheiro de bordo teve um infarto e entrou em coma, nada podendo ajudar. O piloto perdeu o contato com qualquer torre de comando, os instrumentos indicam que o avião entrou em zona de violenta turbulência e o fim dessa só Deus sabe quando vai acabar. O computador de bordo avisa que o trem de pouso travou, mas mesmo que não tivesse travado, nada adiantaria, pois os pneus estouraram ao decolar.

Sentiu o drama?

Pois é! Está mais ou menos assim o recém “reinaugurado” Pronto Atendimento Infantil (PAI) do HRG, o Hospital Regional do Gama.

‘Boeing’ que foi fechado em agosto do ano passado pelo governo Rodrigo Rollemberg, pois só depois do governo do DF taxiar por quase dois anos é que descobriu que não havia piloto, comissários de bordo e coisas tais para continuar o voo do PAI do HRG.

Sem pediatras, pois os contratos temporários se encerraram no segundo semestre de 2016, só o presidente do Boeing PAI do HRG não sabia, ou fingia não saber. Solução? A mais fácil para o governo e a mais perversa para nossas crianças e para as comunidade do Gama, Santa Maria, Recanto das Emas etc. Qual? Fechamento do PAI.

Em agosto o governo Rollemberg fechou completamente o Pronto Atendimento Infantil do HRG. Prometeram reabri-lo para o final do ano passado ou início de janeiro. Mas só foi reaberto em 1º de fevereiro.

Não é exagero supor que algumas das nossas crianças tenham morrido como consequência da incompetência e medida tomada pelo governo do DF ao fechar o PAI deixando-as sem atendimento de emergência.

Com o fechamento do Pronto Atendimento Infantil —o que ocorreu depois do também encerramento da bem montada Pediatria do HRG—, a comunidade protestou, chamou reportagens de emissoras de TV e jornais, saiu em passeata, bateu forte através da imprensa tradicional e alternativa, usou as redes sociais, botou pra ferver pelos blogues e o que foi possível fazer. Botou a boca no trombone.

Aqui há de se reconhecer o papel jogado pelos sindicatos da área de saúde, bem como o engajamento de associações e fóruns comunitários. Também alguns deputados distritais se envolveram no movimento, e jogaram papel importante, se reunindo, inclusive, com autoridades do GDF, pressionando-os.

Com todo esse movimento pela reabertura do Pai e da Pediatria do HRG, o governo, mesmo que tardia e lerdamente, começou a se mexer. Depois de prometer reabrir os setores até o final de 2016, jogou para janeiro, e por fim no início de fevereiro de 2017 houve a tal reabertura do Pronto Atendimento Infantil. Com barulho, coquetel, discursos, descerramento de placa, puxa-saquismo, tudo que normalmente (normalmente?) acontece neste tipo de evento.

O secretário da Saúde e o próprio Rodrigo Rollemberg garantiram que o quadro de pediatras, divulgado inicialmente como sendo de 23 profissionais e depois como sendo de 24, daria para se conseguir uma escala de serviço muito boa, garantindo atendimento de primeira durante todas as horas do dia.

E teve gente que acreditou!

Já no primeiro dia de efetivo (efetivo?) funcionamento, mães e filhos ficaram nos bancos de espera por horas e mais horas. Crianças que chegaram em torno das 13 horas não tinham sido atendidas até meia-noite.

Houve até o ‘auê’ divulgado no Facebook pelo secretário de Saúde, Humberto Fonseca, de que teria juntamente com o superintendente da Regional Sul de Saúde (Gama e Santa Maria), Ismael Alexandrino Júnior, atendido 60 paciente no PAI do HRG.

Mas não é todo dia que o secretário de Saúde e o superintendente da Regional Sul, gestores do sistema, podem meter a mão na massa no PAI. A mão na massa deve ficar por conta dos pediatras do velho e outrora bom Hospital do Gama. Administrador é para administrar, não para gerar factoide. E o caos continuou.

Durante o período da noite (19 horas de um dia às 7 horas do dia seguinte), no Pronto Atendimento Infantil do HRG criança que não seja classificada como paciente de risco, não tem vez. Volta pra casa, para sofrer durante a noite. Ou, se as mães têm carro, sair peregrinando por outros hospitais da rede pública.

Vamos a umas continhas simples que demonstram as avarias do ‘Boeing’ prefixo PAI do HRG:

Um pronto atendimento infantil (ou de adultos) deve funcionar sete dias da semana as 24 horas do dia.

No Pronto Atendimento Infantil do HRG, nos finais de semana (sábados e domingos) e nos plantões noturnos, o atendimento é EXCLUSIVAMENTE para crianças classificadas como de alto risco (pulseira vermelha).

Assim:
7 dias da semana X 24 horas = 168 horas/semana;

De segunda à sexta-feira, durante o plantão do dia (das 7 às 19 horas) teremos 12 horas X 5 dias, totalizando 60 horas de funcionamento nesses cinco dias. Somente nessas 60 horas —do total de 168 semanais— é que podem ser atendidos indistintamente crianças com baixo, médio e alto riscos. Nas restantes 108 horas semanais (as 48 horas dos finais de semana, mais 60 horas dos plantões noturnos), paciente com baixo ou médio risco sobram, pois somente pacientes classificado com pulseira vermelha (alto risco) podem ser atendidas. O que poderia ser um paciente de baixo risco se transforma, em muitos casos, em de médio ou alto risco. Sem atendimento médico, a gripe, por exemplo, pode se transformar numa doença mais grave.

Há de se considerar, claro, que o quadro de pediatras durante o dia é maior do que o plantão da noite e dos sábados e domingos. À noite e nos finais de semana há apenas um pediatra de serviço. Ontem, domingo (19/3), era o que ocorria por volta das 20 horas.


E o caos no HRG continua! Até quando, Rollemberg?