Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O BRASILIENSE NÃO MERECE ESSA GESTÃO NA SAÚDE – PARTE II

Sexta, 27 de agosto de 2021


O BRASILIENSE NÃO MERECE ESSA GESTÃO NA SAÚDE – PARTE II

Aldemario Araujo Castro
Advogado
Mestre em Direito
Procurador da Fazenda Nacional
Brasília, 27 de agosto de 2021

No dia 19 de agosto próximo passado escrevi um texto intitulado “CPI DO IGES/DF, JÁ! O BRASILIENSE NÃO MERECE ESSA GESTÃO NA SAÚDE” (http://www.aldemario.adv.br/igescpi.pdf). Afirmei que a instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o IGES/DF (Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal) é uma necessidade. Afinal, as denúncias e indícios de práticas escusas prosperam, de forma crescente e preocupante, na área de saúde do Distrito Federal. Concluí no sentido de que sobram razões para a instalação da “CPI do IGES/DF”. Trata-se de medida de estrito respeito aos recursos públicos, à moralidade administrativa, à eficiência na prestação dos serviços públicos e ao cidadão usuário do sistema de saúde do Distrito Federal.   

Na quinta e sexta, dias 26 e 27 de agosto, respectivamente, o brasiliense assistiu a continuação da novela de terror que caracteriza a gestão da Saúde no Distrito Federal. Com efeito, foram protagonizados os seguintes capítulos.

Capítulo 472. Foi anunciada a exoneração do Secretário de Saúde Osnei Okumoto (fonte: metropoles.com).

Capítulo 473. Alberto Aguiar Santos Neto foi anunciado como novo Secretário (fonte: metropoles.com).

Capítulo 474. Alguém deu um google no nome do novo Secretário e se deparou com registros como esse:

“Na decisão, a juíza federal Roseli de Queiros Batista Ribeiro mandou sequestrar ativos financeiros no valor de R$ 6,7 milhões das contas dos investigados, incluindo o gestor do ISAC, médico Alberto Aguiar Santos Neto; a atual presidente Evane de Lurdes; o ex-presidente Thiago Sobreira e outras sete pessoas e empresas. A justiça também quebrou o sigilo bancário e fiscal de 14 suspeitos, no período de 2018 a outubro de 2020. Esse montante milionário, segundo a CGU, corresponde ao "provável desvio de recursos públicos".

Capítulo 475. A imprensa divulga que “Médico desiste de Secretaria de Saúde do DF e José Humberto assume interinamente”. O médico em questão é  Alberto Aguiar Santos Neto (fonte: metropoles.com).

Capítulo 476. Passa a circular a notícia de que “o governador Ibaneis será o secretário interino de saúde no DF. Segundo disse a auxiliares próximos, quer ‘conhecer os problemas por dentro’ antes de escolher o substituto de Osnei Okumoto” (conta de Ana Dubeux no twitter).

Capítulo 477. Novas notícias apontam que “Ibaneis desiste de assumir Secretaria de Saúde e nomeia interino. Artur Brito era secretário adjunto da pasta e fica no lugar de Osnei Okumoto até que o governador aponte um nome fixo” (fonte: correiobraziliense.com.br).

Capítulo 478. O Deputado Leandro Grass (REDE/DF) registra em sua conta no twitter: “Um detalhe: Artur Brito não estava apto a trabalhar no IGES (foi reprovado em um processo seletivo), mas comandará a saúde no DF. É a falta de critérios na escolha do quadro do desgoverno de Ibaneis”.

Capítulo 479. Nova notícia na imprensa: “General Pafiadache é o novo secretário de Saúde do DF. Pafiadache foi convidado pelo governador Ibaneis Rocha e aceitou o desafio nesta sexta-feira (27/8): ‘Chego para agregar e ajudar’, disse” (fonte: metropoles.com).

Qual será o próximo capítulo dessa novela? A resposta, pelo visto, é bem difícil, mas uma coisa é certa: O BRASILIENSE NÃO MERECE ESSA GESTÃO NA SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL. 

Ministro Alexandre de Moraes afasta delegado da condução do inquérito que apura suposta inferência de Bolsonaro na PF

Sexta, 27 de agosto2021

Segundo o ministro, o delegado determinou seis providências que não têm relação com o objeto das investigações.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afastou o delegado federal Felipe Alcântara de Barros Leal da condução do Inquérito (INQ) 4831, que apura declarações feitas pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro sobre suposta tentativa do presidente da República, Jair Bolsonaro, de interferir politicamente na Polícia Federal. O ministro pediu que o diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, designe nova autoridade policial e nova equipe para atuar no feito.

De acordo com o ministro, Felipe Leal determinou a realização de diligências para investigar atos que teriam sido efetivados por Maiurino, que assumiu a diretoria-geral da PF em 6/4/2021, ou seja, após os fatos apurados no inquérito e sem qualquer relação com eles. “Não há, portanto, qualquer pertinência entre as novas providências referidas e o objeto da investigação”, verificou.

As diligências requeridas, tornadas sem efeito pela decisão do relator, envolvem acesso a eventual relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para orientar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e ao processo de exoneração do delegado Alexandre Saraiva do comando da PF no Amazonas após a apresentação de notícia-crime contra o então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, entre outros.

Leia a íntegra da decisão


Leia mais:

23/08/2021 - Ministro Alexandre de Moraes autoriza depoimentos em inquérito que apura suposta interferência na PF


Fonte: STF

Lindo! Catadores de lixo criam orquestra com instrumentos de objetos reciclados

Sexta, 27 de agosto de 2021




ATÉ QUANDO ABUSARÃO DA NOSSA PACIÊNCIA

Sexta, 27 de agosto de 2021

Pedro Augusto Pinho

ATÉ QUANDO ABUSARÃO DA NOSSA PACIÊNCIA

Claudio da Costa Oliveira, competente e talentoso economista, Diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), nos brinda, sob codinome de Doroteu Satúrnio, com o livro “A Segunda Privataria Como o Partido dos Trabalhadores - PT iniciou a destruição da Petrobrás” (Altadena Editora, RJ, 2021).

E, na capa do livro, a citação latina “est modus in rebus”, cuja melhor tradução ouvi, há quase 70 anos, na Faculdade Nacional de Direito (FND): devagar com a louça. E me inspirou, para título deste artigo, a conhecidíssima citação do orador romano Marco Túlio Cícero (106 a.C - 43 a.C.): "Quosque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”.

Pois é, até quando neoliberais e liberais que, por quase toda nossa história, governaram o Brasil, continuarão a nos explorar colonizadamente, deixando um mínimo para sobreviverem, aqueles estritamente indispensáveis para manutenção da máquina de transferência da riqueza nacional para o exterior funcionando.

No livro do Claudio Oliveira, fartamente documentado e demonstrado, estão não só as falácias habituais da desacreditada imprensa, que ecoa a pedagogia colonial, sem qualquer pudor nem receio de represália, mas as contraditórias, incompatíveis ações do PT, no palanque, na oposição e quando no governo.

O brilhante doutorando Felipe Quintas levantou a hipótese, muito factível, que as finanças, que ficaram à sombra no golpe de 1964, estariam preparando a “redemocratização”, para irem mais profundamente à conquista do poder, no Brasil.

Realmente, a luta pela democracia parece ser necessária apenas para a mais ampla liberdade das finanças subtraírem tudo o que aqui existe: natural ou construído, cultural ou insciente, transcendente ou material. Pois elas estão nas matas, nas refinarias, na música e na subsistência, nas pentecostais e nos bancos. E apenas elas, as finanças, os gestores de ativos.

Vão muito mais longe do que os poderes constitucionais, como Claudio Oliveira exemplifica com a ação tentacular da Shell, no Brasil. Naqueles tempos da FND, a figura do polvo estava associada a outra das sete irmãs, a Esso, hoje Exxon; já superada pela Shell, no Brasil. Mas uma tanto quanto a outra apenas sugavam nossos patrimônios, fossem qual fossem as origens.

E, acreditem caros leitores, não é um entusiasmo redacional, hoje as finanças estão intimamente envolvidas com os capitais marginais: das drogas, dos contrabandos, de toda sorte de corrupção e outras ações criminosas. Vejam a corrupção da própria lava-jato, muitas vezes superior aos milhões de dólares que levaram meia dúzia de ladrões de galinha à prisão.

“O que é roubar um banco comparado a fundar um?”, na frase do dramaturgo alemão Bertholt Brecht (1898-1956). Avaliem, e Claudio Oliveira vos auxilia nesta faina, o que a lava-jato, direta e indiretamente, levou do patrimônio nacional. Ou teria alguma razão o Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América (EUA) e outros órgãos estadunidenses se imiscuírem tanto e tão profundamente num processo, de uma vara da justiça federal, numa cidade do interior do Brasil?

Neste livro fica patente que todo esforço da equipe altamente qualificada de profissionais e técnicos da Petrobrás, que produzem do pré-sal a US$ 2,50/barril, serve apenas para o lucro das petroleiras estrangeiras e seus grandes acionistas, os fundos gestores: Vanguard, State Street, Fidelity, Wellington, JP Morgan, Franklin, Capital Research etc.

Doroteu Satúrnio demonstra que depois da privataria tucana, veio a privataria petista e nos encontramos, hoje, na privataria bolsonária.

Nem todos enchendo seus próprios bolsos, mas todos, sem exceção, colaborando para a alienação do patrimônio brasileiro, para este imenso assalto que se pratica contra o povo e o Estado brasileiro.

E deixa a mensagem: quem erra e não se arrepende nem Deus perdoa.

Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

Ministra Rosa Weber autoriza investigação contra senador por suposto crime contra a honra da deputada Joice Hasselmann

Sexta, 27 de agosto de 2021

A ministra atendeu pedido da PGR para investigar o senador Styvenson Valentim Mendes (Podemos/RN).

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e determinou a instauração de inquérito policial contra o senador Styvenson Valentim Mendes (Podemos/RN) por suposto crime contra a honra da deputada federal Joice Hasselmann (PSL/SP), em razão dos fatos narrados na Petição (PET) 9841.

Em julho, após acordar com diversos ferimentos no corpo e não se lembrar dos fatos, a deputada acionou a Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados para investigar se teria sofrido alguma agressão. De acordo com o pedido da PGR, entre 25 e 26 de julho, durante transmissão ao vivo em rede social, o senador insinuou que os ferimentos seriam frutos de violência doméstica por infidelidade conjugal ou uso de drogas.

Os pacientes oncológicos precisam de você!!! #VencerOVeto

Sexta. 27 de agosto de 2021

change.org

ATUALIZAÇÃO DO ABAIXO-ASSINADO

Falta pouco para sermos 150 mil!!

Instituto Vencer o Câncer IVOC
Brasil



26 DE AGO DE 2021 — 

Juntos nós somos mais fortes para virar essa página triste da nossa história” – Fernando Maluf (@drfernandomaluf) – cofundador do Instituto Vencer o Câncer.
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Saiba por que é tão importante vencer o veto ao PL 6330/19, que defende a incorporação automática dos medicamentos orais contra o câncer pelos planos de saúde, assista o vídeo!

Compartilhe com seus contatos e peça que assinem nossa petição: http://chng.it/Z7G4CtC4PG
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Vamos #venceroveto! #simparaaquimiooral

A pureza da raça

 Agosto

27
A pureza da raça

Em 1924, Adolf Hitler ditou, na prisão, seu livro Mein Kampf. Num dia como hoje, transmitiu ao escriba seu ensinamento fundamental sobre a história da humanidade:
Todas as grandes culturas do passado sucumbiram apenas porque a raça originalmente criativa morreu por causa do envenenamento do sangue.
Catorze anos depois, Benito Mussolini proclamou, em Manifesto da raça:
As características físicas e psicológicas puramente europeias dos italianos não devem ser alteradas de forma alguma. Já é tempo de que os italianos se proclamem francamente racistas.
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Eduardo Galeano, no livro Os filhos dos dias (Um calendário histórico sobre a humanidade), 2ª Edição, L&PM Editores, 2012, página 273

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Leia também: "A pureza da fé"

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

DF deve indenizar moradores em situação de rua que tiveram objetos apreendidos

Quinta, 26 de agosto de 2021

                                                  Imagem ilustrativa

Do TJDF

O Distrito Federal terá que indenizar 24 moradores em situação de rua que tiveram objetos pessoais apreendidos durante operação do DF Legal no Setor Comercial Sul, realizada dia 19 setembro de 2020. A decisão é do juiz da 7ª Vara da Fazenda Pública do DF que também condenou o ente distrital ao pagamento por danos morais coletivos.  

Narram os autores que o réu, por meio de suas secretarias, realizou operação para forçar a desocupação da área. Eles contam que foram levados objetos pessoais, como documentos, itens de higiene pessoal, comida, roupas e cobertores. Asseveram que a ação ocorreu sem justificativa e sem o indicativo de políticas públicas para os moradores em situação de rua. Pedem que o réu devolva os objetos apreendidos, os indenizem pelos prejuízos sofridos e se abstenha de realizar novas operações. 

MPDF: Prourb pede na Justiça a suspensão de obras do viaduto da Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig)

Quinta, 26 de agosto de 2021


Do MPDF
Para o MPDFT, o projeto foi iniciado sem a devida participação popular e em desacordo com outras exigências legais. Empreendimento trará impactos negativos para a mobilidade de pedestres, ciclistas e pessoas com deficiência

A 4ª Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb) ajuizou ação civil pública, com pedido de tutela de urgência, para determinar a suspensão das obras do viaduto na Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig), na interseção entre o Parque da Cidade e o Sudoeste. A obra pretende integrar o futuro Corredor de Transporte Público do Eixo Oeste. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) pediu à Justiça que seja designada uma audiência pública para debater amplamente a proposta e que as obras fiquem suspensas até o julgamento definitivo da ação, sob o risco de danos irreversíveis aos cofres públicos, ao meio ambiente e ao patrimônio cultural do Distrito Federal.



O objetivo do MPDFT é garantir que as decisões relacionadas à obra contem com a devida participação social, que abrange não apenas os habitantes do Sudoeste e dos bairros adjacentes, mas também os usuários do Parque da Cidade, as associações dedicadas à promoção da mobilidade urbana e as associações de proteção do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural do Distrito Federal. Além disso, a Prourb afirma que há evidências de irregularidades no procedimento de aprovação da intervenção viária.

Ministro Fachin determina extinção de ações contra inquérito das fake news

Quinta, 26 de agosto de 2021

As ações, ajuizadas pelo presidente da República e pelo PTB, questionavam a norma do Regimento Interno do STF que possibilitou a abertura dos Inquéritos 4781 e 4828.


Do STF
O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a extinção de duas Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPFs) que questionavam o dispositivo do Regimento Interno da Corte (RISTF) que fundamentou a abertura Inquérito (INQ) 4781, que apura notícias fraudulentas, ameaças e outros ataques à Corte. Segundo o ministro, não cabe ADPF contra controvérsias já definidas pelo STF.

As ações foram ajuizadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, (ADPF 877), e pelo Partido Trabalhista Brasileiro (ADPF 704) contra o artigo 43 do Regimento do STF, que determina que, “ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro ministro”. O argumento era o de violação aos princípios constitucionais do juiz natural, da segurança jurídica, da vedação a juízo de exceção, do devido processo legal, do contraditório, da taxatividade das competências originárias do STF e da titularidade exclusiva da ação penal pública pelo Ministério Público.

A venda do Palácio Capanema e a precificação da Pátria

Quinta, 26 de agosto de 2021

                                       Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
O Palácio Gustavo Capanema, no centro do Rio, tem suas fachadas restauradas. Obras instaladas no Palácio Capanema, como o painel de Portinari, também foram recuperadas

Por Salin Siddartha

A Nação é um todo completo cuja visibilidade se faz notar pelos símbolos construídos por suas gerações. O Palácio Capanema, localizado no Centro do Rio de Janeiro, é um desses símbolos. Ele traduz, no País, a chamada “nova arquitetura” proposta por Le Corbusier como corolário da concepção arquitetônica modernista; mas o governo federal aspira vendê-lo por um lance mínimo de aproximadamente 30 milhões de reais, quando se sabe que, só em sua restauração e revitalização, o governo de Michel Temer gastou cerca de 120 milhões de reais.

Imitando artisticamente a forma como são construídas as casas de palafitas no Brasil, o prédio que leva o nome do célebre ministro Gustavo Capanema se ergue suspenso sobre pilotis e marca o início da arquitetura moderna brasileira. Não é coincidência o fato de ter sido a primeira obra notável que marcou a assinatura de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Burle Marx, porém sinaliza o início de um discurso cunhado em concreto armado que se espraiaria por nossa Pátria, perpassando pela criação da Pampulha, com sua igrejinha e seu cassino, até atingir o auge com o Plano Piloto de Brasília, com seus prédios elevados também sobre pilotis, seu paisagismo também (e tão bem) elaborado por Burle Marx e o projeto urbanístico e arquitetônico dos mesmos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

As palafitas amazônidas deixam passar por entre si o fluxo das águas, em convivência harmônica com os rios, sem emparedar o movimento de seu curso; e os pilotis modernos do Palácio Capanema permitem fluir a mobilidade de pedestres que atravessam caminhando aquele edifício da Rua da Imprensa, nº
16. Tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ele integra a Lista Indicativa do Brasil ao reconhecimento como Patrimônio Mundial pela UNESCO – e com justo motivo, pois o prédio acumula 19 painéis pintados por Cândido Portinari (14 em afrescos e 15 em azulejos), além de esculturas de Bruno Giorgi e Adriana Janacópulos. Com tudo isso, o Palácio Capanema ainda continua a constar na relação dos dois mil imóveis listados pelo Ministério da Economia para serem vendidos.

No momento em que escrevo este artigo, existe expressiva pressão de arquitetos, artistas, políticos esclarecidos e da opinião pública contra a venda dessa verdadeira riqueza inestimável de nossa arquitetura. Oxalá o Poder Executivo Federal venha a pronunciar-se pública e oficialmente pela retirada do leilão desse verdadeiro Palácio da Cultura. Em uma época em que a imagem brasílica está tão mal vista na comunidade internacional, em decorrência da política externa desastrada em que se meteu o Ministério das Relações Exteriores nos últimos dois anos e sete meses, seria um crime entregar à privataria um símbolo do progressismo e da modernidade brasileira aberto ao conhecimento da intelectualidade acadêmica internacional, como é o caso do Palácio Capanema.

A posse da cultura nacional está muito além de valores materiais sonantes, por isso quem vende o patrimônio cultural do seu povo não é digno de ser considerado patriota, pois a Pátria não pode ser precificada. A riqueza patrimonial do Palácio Capanema contradiz com a ignorância aliada à má fé de quem pretende leiloá-la a especuladores, e o Brasil não merece tamanho desrespeito. Isso só demonstra o apequenamento de mentalidades que não deveriam ousar a tal direito.

Fica, aqui, o alerta: a cultura brasileira não está à venda, Senhores governantes, porque não se pode vender o que não tem preço.

Cruzeiro-DF, 25 de agosto de 2021
SALIN SIDDARTHA

Que zorra é essa? Todo dia péssimas notícias sobre o monstrengo Iges-DF? Operação Medusa: MPDFT e PCDF investigam contratos do Iges-DF

Quinta, 26 de agosto de 2021

Há suspeita de  direcionamento do processo seletivo e conluio entre empresas

A Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) e o Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor/PCDF) deflagraram, nesta quinta-feira, 26 de agosto, a operação Medusa. A investigação busca provas sobre a atuação de um grupo criminoso que teria fraudado contratações do Instituto de Gestão Estratégica (Iges-DF) na área de radiologia e imagem em 2018.

Foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão em residências de servidores do Iges-DF e nas sedes de empresas investigadas. A Polícia Civil de Goiás (PC-GO) apoiou no cumprimento de mandados em Goiânia.

As investigações sobre as contratações do Iges-DF foram iniciadas pela 3ª Prosus. Por receber recursos públicos, o instituto deve observar os princípios da administração pública no uso dessa verba. Apesar disso, os investigadores encontraram contratos com falhas graves: os objetos da contratação não foram especificados de forma adequada e os valores pagos foram excessivos. Há indícios de direcionamento do processo seletivo e conluio entre empresas.

Fonte: MPDF

A República aos pés de seus subordinados

Quinta, 26 de agosto de 2021
Por
Roberto Amaral

“Sem consenso em torno da divulgação de uma nota contra as ameaças feitas por Jair Bolsonaro à democracia, governadores de 24 Estados e do Distrito Federal decidiram ontem propor ao presidente e a outros chefes de Poderes uma espécie de reunião de pacificação e de normalização institucional do País” (O Estado de S. Paulo, 24/08/2021)

A república vive sua maior crise desde o final da ditadura de 1964. Para muitos analistas o desassossego tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro. Seria simples e prático reduzir assim o desafio, mas estaríamos simplesmente tomando a aparência pela realidade, pois o problema tem outra identidade, e por isso mesmo é mais grave: as forças armadas brasileiras, responsáveis pelos graves momentos de desestabilização democrático-institucional que caracterizam a história republicana. Elas respondem pelo projeto de poder que culminou com as eleições de 2018, levadas a cabo com os resultados que alcançaram graças ao emprego de modos e meios não republicanos, aos quais não estiveram alheios os fardados. E são ainda elas que emprestam sustentação ao atual regime, assumidamente lesa-pátria, que em tão pouco tempo está destruindo nossa soberania e condenando a maioria da população à pobreza: 14,8 milhões de desempregados, 30 milhões de brasileiros na informalidade, 19 milhões passando fome. Em poucos dias somaremos 600 mil vítimas fatais da Covid, contingente superior a todas as nossas perdas na guerra da Cisplatina (na qual o exército brasileiro foi fragorosamente derrotado), na guerra do Paraguai e na Segunda Guerra Mundial. A calamidade sanitária é o tonitruante certificado da incompetência dos militares, gestores diretos da política de saúde, e do descaso (para dizer o mínimo) do capitão. Sua atuação em áreas cruciais como educação, cultura, meio ambiente e ciência e tecnologia vai além da inépcia; sugere o propósito destrutivo do país. 

Não se discute mais o processo eleitoral de 2018, que verdadeiramente começa com o golpe de 2016, a deposição de Dilma e a posse de Michel Temer, o perjuro: a mobilização dos quartéis como comitês do candidato verde-oliva, a politização das forças de segurança pública, as manobras ilícitas da Lava Jato, a condenação de Lula e seu linchamento político pelos grandes meios de comunicação, o tweet do general Villas Bôas acossando o STF, e o muito mais ou menos conhecido mas que aguarda tempo para ser revelado. 

O fato objetivo é que temos um delinquente na presidência da república que diariamente desafia as instituições democráticas, ameaça o processo eleitoral, agride os demais poderes e, não obstante seus crimes de toda ordem, penais, políticos e éticos, permanece intocável. Protegem-no a guarda engalanada e uma câmara dos deputados presidida por um representante do baixo clero. É a pobreza de nossas chamadas lideranças civis.

A História – incontornável e implacável – certamente esquecerá os Helenos e quejandos, como os Vilas Bôas e os Braga Netos e outros assemelhados do pelotão palaciano. Mas jamais deixará de julgar a corporação que hoje se confunde com seus chefes passageiros, e lhes dá respaldo em todos os desmandos. Todas as imprecações do capitão, até mesmo a provocação do voto impresso, têm sido referendadas pelos cinco estrelas comandantes.

Os grandes jornais noticiam, sem se darem conta do vexame seus articulistas, que uma luzidia caravana de ex-ministros e similares foi ao encontro dos comandantes militares, para, por delegação de nossos ex-presidentes (registre-se a honrosa exceção de Dilma Rousseff) perguntar-lhes se as forças amadas vão ou não dar golpe no golpe (como reiteradamente vem sugerindo o capitão, com o apoio dos engalanados do terceiro andar do palácio do planalto), e se o eleito em 2022 (“fosse quem fosse”) tomaria posse. Os delegados voltaram felizes da vida porque ouviram um não e um sim: não haveria golpe e o eleito tomaria posse. Eis a pequena estatura política do poder civil (que não se dá ao respeito) e a dimensão nanica de nossa democracia.

Em que país razoavelmente sério a república, prostrada, precisa perguntar aos militares (que vestem farda por delegação sua!) se eles vão ou não dar golpe nas instituições, se vão garantir eleições previstas na Constituição, se darão posse aos eleitos?

A tutela, pois, já prescinde da espada, introjetada, assimilada, aceita pela nossa classe dirigente, que continua desempenhando aquele papel de vivandeiras a que se referiu o ditador Castello Branco, rondando os quartéis, fazendo rapapés aos fardados, ora lhes pedindo que rompam o pacto democrático (quando suspeitam da emergência das massas), ora pedindo para que não o rompam.

Aos nossos líderes não ocorreu inverter o jogo e dizer aos golpistas de todas as instâncias que a democracia rejeita paternidade e tutela. Conquista da sociedade, projeto histórico jamais concluído, permanentemente ameaçado, sua sobrevivência é a medida da organização popular.

Os militares, com a inefável contribuição de políticos notáveis, transformam o Brasil a um oximoro: uma grande republiqueta.

O capitão, que foi a contingência de que se utilizaram os militares para a retomada do poder, agora é a espoleta do segundo tempo de uma peça tosca de final conhecido. Provocador, cabe-lhe a agitação. Seu papel, relevante na trama, é preparar o terreno para futuras manobras, construir o caos, instigar a insubordinação, provocar o conflito, desafiar os poderes, instaurar a anarquia. Na sequência terá que vir alguém para “arrumar a casa”, e, em face da insegurança, todos quererão a ordem: os editorialistas que hoje defendem conosco a democracia, os liberais, os socialdemocratas, a Faria Lima, o grande capital, os especuladores das bolsas, os rentistas daqui e d'além mar, o Departamento de Estado dos EUA. Aí então, possivelmente ao som de hinos gospel, nossos príncipes da política e nossos homens de negócios concertarão com os fardados mais uma traficância institucional, e assim voltaremos todos para casa e para o trabalho, para viver tudo outra vez, nessa nossa ópera grotesca sem gran finale que é a vida republicana sob a tutela militar, girando entre a comédia e o drama, a farsa e a tragédia.

Certamente sem se darem conta do real significado do papel que as circunstâncias lhes destinaram, os governadores se aprestam no palco da salvação nacional. Para denunciar as ameaças à ordem institucional? Para exigirem respeito à Constituição? Para dizer aos militares qual é o papel que lhes cabe numa república que se dá ao respeito? Para concertarem a unidade do povo em defesa de suas instituições democráticas, tão dolorosamente salvas da ditadura militar? Não, lamentavelmente, não. Sem terem uma só palavra para dirigir ao povo, os governadores se voltam ao capitão para lhe solicitarem bons modos, e chamam os demais chefes de poderes para a comunhão de boas intenções. Em nome da paz, é hora de esquecer as divergências, e jogar para debaixo do tapete os crimes que estão na ordem do dia. O auge da tensão é a hora prometida para a conciliação.

Consabidamente, a história não se repete, mas no Brasil ela é recorrente e monótona, desde a colônia. As crises se resolvem mediante a conciliação, que é também transação e traficância, ditada de cima para baixo, pela classe dominante, a casa-grande de sempre. Resolvem-se pelo alto os interesses do establishment, e empurra-se com a barriga tudo que diga respeito ao povo ou ao interesse nacional. 

Os convites dos governadores para o grande convescote com os chefes dos poderes já foram expedidos e certamente ninguém se negará a “um grande entendimento”. Após cumprimentos de praxe, tapinhas nas costas, cada um voltará para seu ninho e dar-se-á por feito o que não foi feito, e tudo continuará como dantes no castelo de Abranches, até o próximo vexame que pode vir a caminho, na sela do 7 de setembro.

E o povo?

Na plateia, como de hábito, será informado no seu devido tempo do que seus representantes terão concertado em seu nome com os donos do poder.

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Nilson Lage – Tales Faria, seu discípulo, nos manda a notícia que há cerca de dois anos temíamos receber: faleceu em Florianópolis (para onde se transferira após a aposentadoria no Rio), o escritor, professor e jornalista Nilson Lage, e com ele se vai mais um ator decisivo do moderno periodismo brasileiro. Um quadro raro, pois reunia ao texto primoroso e à argúcia do repórter um caráter absolutamente sem jaça. Fomos colegas na Escola de Comunicação da UFRJ, nas Faculdades Hélio Alonso e na Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa na Comunicação. Onde atuou, foi sempre um exemplo admirado, por isso mesmo formou uma legião de discípulos, e nos deixa mais sós e mais tristes.

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Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia

A pureza da fé

 Agosto

26
A pureza da fé

Ivan, o Terrível, nasceu em 1530.
Para educar o povo na fé cristã, ergueu em Moscou o grande templo de São Basílio, que continua sendo o belo símbolo da cidade, e para perpetuar seu poder cristão mandou ao Inferno uns tantos pecadores, seus rivais, seus parentes:
jogou aos cães o príncipe Andrei e o arcebispo Leonid,
assou vivo o príncipe Piotr,
partiu a golpes de machado os príncipes Aleksander, Repnin, Snyyon, Nikilai, Dimitri, Telepnev e Tiutin,
afogou no rio seu primo Vladimir, sua cunhada Aleksandra e sua tia Eudoxia,
envenenou cinco de suas sete esposas,
e com um golpe de bastão matou seu filho, o preferido, o que levava seu nome, porque era demasiado parecido com ele.

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Eduardo Galeano, no livro Os filhos dos dias (Um calendário histórico sobre a humanidade), 2ª Edição, L&PM Editores, 2012, página 272

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Ivan IV, apelidado de Ivan, o Terrível (25/8/1530—28/3/1584)

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Carestia: Brasília tem a maior inflação dos últimos 20 anos

Quarta, 25 de agosto de 2021
Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna

Embora a alta de preços tenha sido generalizada na Capital Federal, combustível e transporte por aplicativo se destacam na pesquisa do IBGE.

A culpa dessa elevação acentuada do custo de vida não pode ser imputada a um ou outro produto ou serviço. A elevação de preços foi generalizada. Oito, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados em Brasília, apresentaram altas em agosto. Há de se ressaltar, contudo, a alta nos custos do item transportes (1,81%). Além do transporte por aplicativo, que teve seus preços elevados em 6,92%, a alta no preço dos combustíveis (3,35%), foi outro grande vilão, impulsionado pelo aumento de 3,50% da gasolina. Vale destacar que, individualmente, o o preço da gasolina já acumula 36,90% nesse ano e, nos últimos 12 meses, 52,41%.

Por Chico Sant’Anna

O governo Ibaneis Rocha conseguiu um intento inédito nos últimos 20 anos. A inflação de Brasília agora em agosto, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), registrou uma elevação de 1,05%. Essa é a terceira maior taxa de inflação dentre as 11 regiões metropolitanas/municípios pesquisados no país. O DF perdeu apenas para Goiânia (1,34%) e Curitiba (1,18%). Desde Agosto de 2001, quando registrou uma inflação de 1,29%, a Capital Federal não apresentava uma taxa de careza tão elevada. Na época, o governador era Joaquim Roriz, a quem Ibaneis Rocha gosta de se comparar.

Você merece! Você deve aprender a baixar a cabeça e dizer sempre "Muito Obrigado"; esqueça que está desempregado, você merece, você merece; e ganhe diploma de bem comportado

Quarta, 25 de agosto de 2021

Elza Soares — Comportamento Geral (Videoclipe Oficial)

139 mil inscritos

Composição: Gonzaguinha Produzido por: Rafael Ramos Gravadora: Deck Clipe gravado na BALPRENSA, em Mesquita/RJ Ouça aqui: https://ElzaSoares.lnk.to/PlanetaFomeID


COMPORTAMENTO GERAL
Composição: Gonzaguinha*

Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
e esquecer que está desempregado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre: “Muito obrigado”
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado
Deve pois só fazer pelo bem da Nação
Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um Fuscão no juízo final
E diploma de bem comportado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal

E um Fuscão no juízo final
Você merece, você merece

E diploma de bem comportado
Você merece, você merece

Esqueça que está desempregado
Você merece, você merece

Tudo vai bem, tudo legal


Você já ouviu falar em Luiz Gama?

Quarta, 25 de agosto de 2021
Cartaz do filme 'Dr. Gama'. - Elo Company / Divulgação





Por Surya Aaronovich Pombo de Barros* Corda Bamba

Luiz Gama merece não apenas o título de doutor, mas também o reconhecimento pelo grande público



Em nós, até a cor é um defeito.

Um imperdoável mal de nascença,

o estigma de um crime.

Mas nossos críticos se esquecem

que essa cor, é a origem da riqueza

de milhares de ladrões que nos

insultam; que essa cor convencional

da escravidão tão semelhante

à da terra, abriga sob sua superfície

escura, vulcões, onde arde

o fogo sagrado da liberdade.

(Luiz Gama)


Em 29 de junho deste ano, a Universidade de São Paulo concedeu a Luiz Gonzaga Pinto da Gama o título de doutor honoris causa, honraria conferida “a personalidades nacionais ou estrangeiras que tenham contribuído, de modo notável, para o progresso das ciências, letras ou artes; e aos que tenham beneficiado de forma excepcional a humanidade, o País [...]”. Ele é a primeira pessoa negra brasileira a receber o título nesta instituição. A iniciativa partiu de Dennis de Oliveira, um dos poucos professores negros da universidade, foi acolhida pelo Conselho Universitário e celebrada por muita gente pelo efeito simbólico de tal ato. Estudado em diferentes campos acadêmicos e aclamado pela militância negra, Luiz Gama merece não apenas o título de doutor, mas também o reconhecimento pelo grande público, que só tem a ganhar se ele for lido, escutado e divulgado.

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Luiz Gama nasceu em 1830, em Salvador, filho de uma africana livre e um branco pertencente à elite local, num período de intensas rebeliões escravas e negras na Bahia. Sua mãe, a mítica Luiza Mahin, estava envolvida nas revoltas, e por isso o deixou aos cuidados do pai quando precisou fugir da repressão, indo para o Rio de Janeiro, de onde não se soube mais notícias dela. O homem, ainda que registrado como “pai extremoso”, que cuidara dele e o batizara na religião católica, após alguns anos o vendeu para um traficante de escravos quando o menino tinha dez anos de idade. Depois de um longo percurso, passando por Rio de Janeiro, Santos e Campinas, ele foi levado para a capital de São Paulo, onde se radicou, tendo permanecido escravizado por um alferes até os 17 anos de idade. Essa primeira experiência — nascido livre e ter sido vendido pelo próprio pai —, além da observação do cativeiro e as outras situações pelas quais passou, foram cruciais para a construção desse sujeito.

Nesse período, a província de São Paulo, até então pouco importante, começava a modernizar-se, e um desses sinais foi a criação da Academia de Direito em 1827. Como outras pessoas negras, Luiz Gama não assistia impassível às mudanças, e tinha um olhar aguçado para a injustiça da escravidão e das relações entre brancos e negros. Ele aprendeu a ler e escrever com um estudante de Direito, com quem fez amizade, além de ter se empregado em um Colégio, onde ouvia atrás das portas das salas de aula e melhorava aquelas habilidades. 

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Depois disso, Luiz Gama trilhou um caminho extraordinário. Libertou-se, serviu ao exército por alguns anos, trabalhou na Secretaria de Polícia de São Paulo, escreveu na imprensa por décadas, publicou um livro de poesias - Primeiras trovas burlescas de Getulino (1859), participou como figura central no movimento abolicionista, foi maçom, fez parte do movimento republicano e, a partir dos anos 1860, atuou como advogado autodidata, defendendo pessoas pobres e negras, especialmente escravizadas, até sua morte. Estima-se que ele tenha conseguido nos tribunais a liberdade de 500 pessoas.

Luiz Gama casou-se com uma mulher negra, Claudina Fortunata Sampaio, teve um filho, Benedito, e fez parte de redes de solidariedade, amizade e luta com outros intelectuais negros. Ele morreu em 1882, sem ver a Abolição da Escravidão (1888) ou a Proclamação da República (1889), ideais aos quais dedicou a vida. Sua morte causou comoção, sendo registrada como um momento em que o povo, pessoas negras, escravizadas, libertas, autoridades, intelectuais foram às ruas prestar homenagem ao célebre homem negro.

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Inúmeros trabalhos acadêmicos foram e vêm sendo produzidos sobre ele. O Portal de Literatura Afro-brasileira LITERAFRO, da Universidade Federal de Minas Gerais, oferece material, textos do próprio escritor e referências acadêmicas sobre Luiz Gama. 

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Neste mês de agosto de 2021 foi lançado o filme Doutor Gama, de Jefferson De. O diretor é um dos mais importantes cineastas em ação, fazendo parte como teórico e como realizador do chamado cinema negro brasileiro. Diretor de obras fundamentais para a discussão sobre o Brasil contemporâneo como Bróder (2010) e M8 - Quando a morte socorre a vida (2018), em Doutor Gama, Jefferson De presta homenagem a esse personagem do século XIX que fala diretamente ao nosso tempo. A denúncia sobre o racismo que estrutura a sociedade brasileira, a iniquidade da escravidão, a riqueza construída pela exploração do trabalho de outros, a defesa da humanidade do escravizado, a consideração da lei como instância central na diminuição da desigualdade estão ali e aqui.

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Além de ler textos e assistir o filme sobre Luiz Gama, é possível escutar sobre sua atuação. História Preta é um podcast produzido pelo historiador Thiago André, que tem como objetivo refletir sobre “memórias históricas da população negra no Brasil e no mundo” a partir de muita pesquisa, sendo apresentado com linguagem acessível e atraente. O episódio Legítima Defesa, sobre o papel de Luiz Gama no movimento abolicionista, é um primor. 

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Para terminar, cito a advertência de Lígia Fonseca Ferreira, uma das principais estudiosas de sua obra: “É verdade que o nome de Luiz Gama se cerca de interesse devido à sua fascinante e singular história de vida, digna de uma ‘novela’, porém vítima de outras ficções, inclusive historiográficas. Porém, restringir-se a este aspecto, esquecendo seu legado - sua voz, sua palavra - seria enxergá-lo como mero personagem, figura imaginada na criação e no discurso de outrem; seria, em suma, confiná-lo ao papel oposto ao que buscou para si: a autoria e a autonomia para (se) dizer e agir, razão pela qual dispensou padrinhos e porta-vozes. Mas seria enganoso e redutor apreendê-lo apenas por meio de sua identidade negra. Esse traço se combina a um leque de outras identidades (social, política e profissional) e de valores assumidos em meio aos riscos por ele enfrentados nas areias movediças de um país àquela altura mergulhado em paradoxos e ainda desnorteado na busca de uma identidade política e racial” (2015, p. 236).


*Historiadora, professora de Política Educacional, Educação e Relações Raciais e História da Educação/UFPB. 
Email: surya.pombo@academico.ufpb.br

Edição: Heloisa de Sousa
Brasil de Fato